quarta-feira, agosto 02, 2006


Ela sentou-se sozinha, novamente, no mesmo lugar de sempre, na mesma balada de sempre. Um lugar escuro, de iluminação bem precária, criando o clima soturno que tanto gostava. Me sinto em paz alí. Prefiro os maníaco-depressivos góticos aos playboys que sempre falam sobre os mesmos assuntos e, geralmente, não possuem poder intelectual mais avançado do que o de uma capivara.

Acompanhada, como sempre, por seu copo de plástico cheio de gelo, uísque de proveniência duvidosa e energético, ela fechou os olhos por um momento, deixando o som que vinha da pista entrar pela sua pele. Musica tem que ser ouvida pela pele, afinal. Murmurou o refrão e quando abriu os olhos ela viu o primeiro idiota da noite. Ele simplesmente tinha sentado na frente dela e antes que a bela solitária tivesse tempo de suspirar impaciente ele já emendou:
-É difícil ver uma mulher tão bonita sozinha num lugar desses. - sorriu ele, de um jeito mais canastrão que o Tarcísio Meira.
-Deve ser difícil para você ver qualquer coisa. Afinal, você nem se enxerga, imbecil. - retrucou ela, dando um gole pequeno no seu drink e segurando-o ao lado do rosto.
-Nossa! - fingiu um certo espanto o rapaz - Por quê tanta grosseria? Só estou puxando papo.
-Vai puxar é as tetas da sua mãe seu filho duma puta. sai da minha frente ou eu chamo o segurança.
-Jesus! - blasfemou o rapaz, agora realmente assustado - Que que é isso mina! Nossa...

Ele levantou soltando alguns palavrões a mais e deixou-a em paz, novamente entregue à bebida e à música. Porém o sossego de uma mulher atraente e bem vestida numa casa noturna dura pouco. Dura menos ainda se ela estiver sozinha pois, aparentemente, todo homem realmente acredita que a noite só é válida se você beijar alguém. E eles fazem de tudo para isso, incluindo pagar bebida, se fazer de idiota, implorar beijo, se passar por coitado, deitar, rolar e fingir de morto.
-Oi. Posso me sentar aqui? - disse o jovem, em um tom extremamente educado.
-Não.
-Por quê não?
-Porque eu não quero.
-Por quê você não quer?
-Pois eu vim sozinha para ficar sozinha. Se eu quisesse a companhia de uma criatura ignorante eu teria trazido meu cachorro.
-Você nem me conhece, como pode me julgar assim? Se liga! Larga a mão de ser grossa. - e a educação saiu pela janela.
-Eu perdi a parte onde ser grossa é um problema seu.
-Então fica aí vagabunda! Vaisefudê viu...

E a cada quinze minutos de paz outro aparecia e durava cerca de dez segundos com ela. Então a paz voltava. Era como uma tortura de eletrochoque: um pouco de paz e dez segundos de tormenta, intermitentes noite adentro. Seis doses mais tarde, no caminho até o bar e à sétima e derradeira bebida, esbarrou nele, derrubando sua cerveja barata no chão.
-Oops! Desculpa. - disse ela de sopetão, pondo a mão na boca, delicada.
-Desculpa o caralho. Empresta sua comanda que eu vou pegar outra. - respondeu ele, sem nervosismo algum, com o semblante de um soldado.
-Como assim? - espantou-se a moça.
-Nossa, além de destrambelhada é surda.
-Ei! Vai se fuder! Me trata com respeito! Te pedi desculpa!
-Porra, você que esbarrou em mim e agora quer ter razão? Pega outra breja pra mim e não reclama! - e suspirou - Puta mina mão de vaca ainda!
-Mão de vaca é a vaca da sua mãe cretino! Pinto murcho do caralho!
-Tománoseucu mulher! Baixa a bola ou eu rebento a sua cara!!
-Tu não é homem pra isso, palhaço! Me encosta um dedo e eu chamo o segurança e ele te arrebenta seu corno.
-Se eu te encostar o dedo cê vai chamar é uma ambulância putana!

Ela parou estupefata e irritada, olhando para seus olhos e querendo explodir por dentro. Porém a única explosão foi a gargalhada mútua dos dois desconhecidos. Rindo sob o fraco e sibilante brilho amarelado de uma vela até chegarem às lágrimas.
-Com licença, - pede ela ao barman - eu queria uma cerveja bem gelada.
-E um uísque com flash power pra mim por favor. - pede o rapaz, enxugando os olhos, ainda em alguns espasmos de riso.
-Prazer em conhecê-lo. Meu nome é Ângela.
-Sério mesmo?! Minha tia chama Ângela!
-Foda-se ela. Como você chama?
-Jefferson.
-Puta nome de favelado! Quer dançar?
-Hehehe, claro. Por quê não?

2 comentários:

Anônimo disse...

Jefferson foi foda... Angêla também é nome de uma tia minha... Logo...

Whisky de procêdencia duvidosa, cerveja barata... É O MADAME SATÃ!!!

Lady disse...
Este comentário foi removido pelo autor.