segunda-feira, junho 18, 2007


Embora. É. Isso mesmo que você ouviu, maldita. Estou indo embora. Pode falar o que quiser, implorar para que eu fique, já não me importo mais. Não vou deixá-la foder com a minha vida como você fez com todos os outros antes de mim. Acabou.

Não suporto mais passar por todas essas situações vexaminosas provocadas por você, com esse sorrisinho sarcástico no canto da boca. Deveria ter te mandado à merda anos atrás, enquanto ainda tinha uma fração maior da minha vida pela frente.

Passei pela empresa e dei uma desculpa qualquer, dizendo que precisava passar uma semana fora para resolver problemas de ordem pessoal. Claro que ninguém ia questionar nada. Não ganhando o salário que eu ganho. Rá! Chamar o que eu ganho ao final de cada mês de salário, é chamar o que eu faço de emprego, como se ambos não fossem patéticos.

Uma semana. O cacete! Já era. Não volto mais. Aquela vadia acabou com qualquer esperança que eu pudesse ter de levar uma vida um pouco melhor ao seu lado.

Ainda me lembro de quando a conheci. Fiquei excitado como um moleque de quinze anos ao ver os seios de uma mulher saltando pelo decote. Seu cheiro penetrou minhas narinas à força. Prometi a mim mesmo que nunca ia deixá-la. E agora acabou. Maldita.

Rumei para o pardieiro úmido em que (sobre)vivo para pegar umas poucas roupas e enfiá-las numa mochila. Olhei para a pilha de contas cada vez maior sobre a madeira descascada da mesa da sala. Fodam-se. Não vou voltar mesmo, logo, não preciso pagá-las. Mesmo que tivesse dinheiro para isso. Passei pelo banheiro para olhar meu rosto naquele espelho manchado pela última vez. Nunca entendi como envelheci tão rápido. Só pode ter sido culpa dela. Maldita.

Joguei a mochila dentro da velha picape. Percebi que minhas mãos tremiam como as de um verme alcóolatra que fica alguns dias sem beber. Ajeitei-me como pude no banco puído que já viu dias melhores e olhei o retrovisor. São meus olhos? Esses globos opacos circundados pela vermelhidão, quase saltando das próprias órbitas são meus olhos? Deus. Preciso me afastar dela. Agora.

Após alguns quilômetros na estrada, olho novamente o retrovisor, vejo aquela nuvem cinza de poluição e sei que ela está lá dentro esperando que eu volte. Pacientemente. Ela que espere. Sentada. Para sempre.

Quase uma semana depois minhas mãos já não tremem tanto. Meus olhos já não parecem tão arregalados e recuperaram algum brilho. Meus pais provavelmente já têm a certeza de que estou me drogando, embora não me perguntem nada. A única pergunta é a pior possível: “Quando você vai voltar para ela?”. Antes que possa me dar conta respondo num sopro angustiado: “Domingo”.

Eu chego à noite e tudo parece pior. Ela está iluminada, me atraindo como uma mariposa estúpida para sua luz e me recebe de braços abertos. Posso ouví-la sussurrando em meu ouvido: “Eu sabia que você voltaria para mim”. E eu concordo. Com os olhos ficando vermelhos novamente, eu concordo. Abro a janela do carro ao passar sobre um rio morto onde meu avô já pescou um dia e sinto seu cheiro. Seu cheiro novamente rasgando minhas narinas e esmurrando meu cérebro. Já era. Nunca mais vou conseguir ficar longe dela. “Eu amo você, metrópole maldita”.

Written By: Reggie Boyo

terça-feira, junho 12, 2007



Eu olho em volta e não consigo enxergar exatamente qual o sentido de tudo isso. Da necessidade de acordar cedo e trabalhar muito para se ter respeito ou de comprá-lo com muito dinheiro. Da necessidade de se encaixar num padrão social distorcido que um dia inventaram. De fazer o que é certo mesmo sabendo que foi um grupo de humanos normais que decidiram o que é o certo em si. E eles também erram. É como se a minha vida fosse regida pela rotina tediosa que a sociedade impõe, mas escutando aquela voz no fundo da cabeça dizendo que isso não está certo. Como se meus dias fossem narrados pela espontâneidade sinistra de Christopher Walken.

Tenho quase certeza. Quase. De quando eu chegar no fim da minha vida eu vou me arrepender de não ter feito um monte de coisas. De não ter chutado um monte de gente da minha vida pois eu sou um palhaço de coração mole que quer agradar todo mundo sem esperar nada em troca. Pois isso que me ensinaram. Que dar sem querer receber é honrado, nobre, altruísta. Tenho certeza que no fim vou perceber que tudo o que fiz, fiz por ser um idiota que acreditou numa ideologia falha. Quando meus melhores momentos forem apenas lembranças distantes. Quando eu estiver velho e cansado como Christopher Lee.

Tudo não vai passar de um conjunto de momentos que foram interessantes naquele momento específico e depois se tornaram motivo de piada. Como se eu não tivesse existido e sido um sucesso um dia, como se um dia pessoas não tivessem me adorado, me amado, me chamado por elogios diversos. Eu serei esquecido, eventualmente, por tudo e por todos. Afinal é assim que o mundo funciona para a enorme maioria da população. Você tem seus momentos bons, mas eles só afetam um punhado de pessoas que não se importam de verdade com a sua existência mal atuada, no melhor estilo de Christopher Lambert.

Mas ainda há tempo! Para todos nós, acredito! De mandar todo mundo se foder e se dar bem com isso. Falar o trivial para despertar um sorriso numa pessoa que você gosta, de trepar a noite inteira com aquela outra que você admira, de olhar pra sua cara preguiçosa no espelho e sentir que você é a única coisa no mundo que importa, pois só você vai estar do seu lado nos seus piores momentos. Usar as mazelas do mundo como escada para se destacar, ser feliz e ainda rir muito com isso. Como Christopher Rock.

Que assim seja, então! Chega de criancisse, de pessoas que se apóiam em imagens fúteis e aparências decadentes para ter seus minutos de fama vã. Chega de adular o bando de palhaços que me adicionam no Orkut para se sentirem cheios de amigos ou aqueles que querem saber o que eu faço da vida por acreditar que é o trabalho que molda a pessoa. Eu sou aquele que enxuga as minhas lágrimas, que paga minhas contas, que beija minhas mulheres e que ri do mundo enquanto ele bate na minha cara. Seja mais você pois eu certamente sou mais eu. E se vocês se sentirem mal com isso, que meu círculo social se parta ao meio e morra. Como Christopher Reeve.