quinta-feira, setembro 14, 2006

Feriado prolongado é legal. É mergulhar num oceano de coisas erradas e não perceber o resto do mundo à minha volta. Com dinheiro no bolso então a água do mar fica até doce. Respirei fundo, vesti aquele terno preto básico mas que custa o mesmo que um Playstation 2, dei tchau pra sanidade e pulei.

Quarta feira, coisa light. Churrasco de um povo do trabalho. Lugar: uma bosta. Uma porra duma casa apertada para caramba na zona norte. Sem frescura, sério. Aqueles churrascos com 150 pessoas numa casa que o quintal é tão imenso que o cachorro tem que botar a cara na cozinha pra espreguiçar. Conclusão, no meio daquele monte de mulher feia e carne crua, o primeiro elegância que apareceu com uma garrafa de uísque eu chamei de meu amor. Daí pulei pra cerveja, caipirinha e acho que foram as doses de steinhaeger que me derrubaram como uma voadora no supercilho. Eu caí num canto e tudo rodava violentamente. Achei que tinha acabado a batida e os caras tinham me posto no liquidificador com limão e vodka. A música começou a sumir e tudo passou a balançar em vez de girar. O som abafado no fundo eram múrmurios de lamento repetitivos. Achei que fossem meus órgãos internos pedindo socorro. E eu ví a luz no fim do túnel. Conforme eu me aproximava dela uma batida tuts-tuts ia crescendo e então meus olhos começaram a doer. Foi quando uma voz feminina me avisou pra não olhar direto pro sol pois queima a retina. Olhei pro lado enquanto ela ia embora com uma garrafinha d'água e vi a rave onde eu estava. Deviam ser umas cinco ou seis da tarde. Eu tava largado na grama sem a menor idéia do que eu tava fazendo alí ou como tinha chegado. Entrei em pânico. Levantei as pressas e fui pro bar tomar um uísque pra acalmar. Não lembro de muito mais coisas depois disso. Sei que certa hora eu vi o sol de novo e uma mina fazendo boca a boca numa outra perto de mim. Eu disse: "Nossa, ela tá pior que eu hein!" e uma gritou "AH! Tem um cara na moita!" e as duas amantes correram pra longe. Levantei zonzo e tateei o corpo em busca de um cigarro ou uma bala de menta pois o gosto na minha boca me fez pensar no chão de um matadouro. Virei pro primeiro ser aproximadamente humano que transitava perdidaço e perguntei: "Brother, você tem uma bala?" e na hora o solícito rapaz respondeu "claro! toma umas duas tio! Bem mais legal que tic-tac!" porra, sério? Legal. Chupei as duas até acabar e daí me ocorreu que eu poderia ter sido drogado. Toca a lavar o estômago com mais uísque, dançar um pouco e... e... caralho, bateu. Tudo estava borrado. Não sentia quase nada além de um entorpecimento bruto e visceral. Ha! Como se eu ainda tivesse vísceras. Nem meus próprios dedos, pernas, braços, nada se mexia por que eu queria. Não pergunte como nem quando mas numa bela hora eu estava dançando com uma mina que ficou me olhando estranho e de repente me beijou. Daí eu balbuciei algo e ela riu, perguntando se eu tava afim duma festinha. Porra, eu jurava que eu já tava numa festinha. Daí disse OK, e ela emendou que se eu pagasse um doce pra ela e uma amiga as duas iam me dar algo muito bom em troca. Na hora me pareceu correto ingerir um pouco de glicose então cheguei pro distinto cavalheiro escondido no banheiro masculino (que me disseram que era o confeiteiro) e pedi logo quatro doces. Vocês imaginam o que aconteceu. Nem vi o sol de novo. Quando eu abri o olho a mulher estava nua em cima de mim, com cara de muito brava. Eu perguntei instintivamente "O que foi?" e ela já veio me xingando "Caralho cara! Não acredito que você dormiu durante o bagulho!!" olhei pra baixo e vi meu pinto bravo, de braço cruzado e toca plástica na cara parecendo assaltante de banco, querendo voltar pra onde ele tava. "Se liga gata! Fechei o olho de prazer!" tentei consertar. "Porra! Por quize minutos?!" disse ela brava. Nem respondi. Eu devia estar sonhando. Simplesmente peguei ela de novo e comecei a beijar ela e voltei pro tchans e tal quando eu vejo outro cara ultra cabeludo dentro do quarto. Fui levantar correndo mas a mulher me segurou e falou na minha orelha: "Ah! Você gosta de olhar pra ela enquanto faz comigo né?!". Porra, ELA!? Parecia o Slash do Guns N Roses num clima úmido! Fechei o olho. O quarto rodava. Abri o olho, vi a mãe de um amigo meu, fechei o olho de novo e mudei de posição. Pus a mina de quatro e comecei de novo. Uns dez minutos depois ela vira e pergunta, "Meu! O que aconteceu? Brochou?" e eu olho pra baixo e tá lá o menino morto, mais miúdo que estagiário tomando esporro do chefe. Respondi na hora: "Porra, sei lá! Pergunta pra ele! Eu tava curtindo!" daí a outra mina vem pra perto e começa se esfregar em mim, dizendo pra amiga que é a vez dela curtir. Baixa a cabeça lá em baixo e eu lembro de sentir algo interessante, mas toda vez que eu olhava pra baixo eu via o Moraes Moreira me chupando. Deu nojinho, voltei pra mina anterior e no caminho topei em alguma coisa viscosa e caí com a cara nas coxas dela. "Ah! Quer fazer um oral então né?!" disse ela. Eu não queria nada, mas de repente ela abre as pernas e aquela coisa peluda praticamente pula na minha cara. Não tive escolha senão beijar o Raul Seixas na boca. Ainda bem que eu não tinha olhado direto para aquilo antes enquanto trepava ou ia achar que era o Fidel com um charuto na boca. E a outra desgraçada resolve entrar no meio e foi o caos. Entorpecido por álcool e drogas eu olhei no espelho e me vi perdido num mar de pelos. Achei que tinha caído dentro do Floquinho. Sem mais nem menos, num minuto qualquer, apaguei.

Acordei no meu quarto. Na terça. Não lembro que horas eram. Sei que acordei pois mexi um dedo. E de propósito. Sentia as pesadas batidas do meu coração tremerem meu corpo. Depois de um momento de reflexão percebi que não era o coração, mas sim meu fígado. Já era esperado. Fiquei realmente cabreiro quando tentei entender o que caralho meu fígado tava fazendo no meio do peito. Imaginei um gato assustado recolhido por entre as costelas. Levantei zonzo, apoiando nos móveis ao meu redor. Fui até a cozinha.

Acalmei o gato com uma lata de flash power e um pedaço de pizza.

Written by Vincent DeLorean

terça-feira, setembro 05, 2006

Quando ele viu uma garota tão bonita chorando no canto escuro da balada, não teve dúvida. Ajeitou-se dentro do terno que usava e foi tirar proveito da situação, tomando para si a oportunidade de consolar uma mulher que provavelmente havia acabado de brigar com o namorado e estava fragilizada, sentimental. Chegou perto em passos seguros e disse em sua voz mais profunda.
-Não fica assim, gata. Não chore por um qualquer. Aposto que ele não prestava.
Ela olha indignada para ele:
-O QUE?! Do que você tá falando idiota? Meu pai acabou de morrer!!
-Bom, err... desculpe, não sabia. Mas veja, pelo menos você tem a sua mãe!
Ela chora mais forte e grita em espasmos:
-Minha mãe abandonou a gente quando eu era pequena!!!
-Nossa, que foda, desculpa. Tente ver o lado bom das coisas!
-Que lado bom?! Não sei o que vou fazer da minha vida agora!! Estou perdida!
-Tudo tem um lado bom! Por exemplo, você não é tão horrenda quanto aquela mina ali.
-Cara!! Não fala assim! É minha irmã!! Qual é o seu problema!?
-Meu deus! Sério? Mas ela não parece com você em nada!
-Meus pais adotaram ela quando era pequena. Acharam que não podiam ter filhos.
-Ah é? E como você nasceu? Inseminação artificial? hehehe...
-Tá rindo do que?! Inseminação foi um milagre pra mim!!
-Tá brincando comigo! Acho que não consigo dar mais foras do que hoje! Só falta sua irmã não saber que é adotada e eu contar pra ela.
-COMO ASSIM EU SOU ADOTADA!??!!? - grita a irmã que estava vindo ver porque a outra estava chorando.
-Er... o que?! Quem?! Oh céus... desculpa.
-Meu!! Sai daqui!! Você tá arruinando minha vida!! - diz a primeira.
-O que você fez pra minha irmã chorar seu idiota!? - pergunta a irmã.
-Não fui eu! Ela tá chorando pelo lance com o seu pai! - defende-se o cara.
-QUE LANCE!? O que aconteceu com o papai?! - pergunta a irmã.
-Er.. é que... hmm... seu pai subiu no telhado. - tenta consertar.
-Seu doente!! Vai embora!! Segurança!! Seguraaaaaança!!
-Não calma! Um par de crioulo musculoso não vai te fazer parar de chorar!
-Tá menospresando minha cor ô muleque? - diz o segurança muito bravo atrás dele.
Ele suspira fundo e olha para as duas, gritando e xingando e chorando na frente dele. Sente a respiração do segurança na sua nuca. Para evitar maiores constrangimentos ele decide acabar logo com aquele momento embaraçoso. Quando a música entra em fade ele grita pro DJ:
-TOCA ANA JÚLIA!!!

Então veio o estrondo. Daí o silêncio.