quarta-feira, maio 06, 2009

E lá voltava ela pelo bosque, com a cesta cheia de guloseimas para sua vovózinha, depois de um dia cheio. Chegando ao seu destino, entrou na casa, colocando a cestinha na mesa da cozinha e foi até o quarto, deparando-se com algo que não esperava. O Lobo deitado em sua cama, assistindo televisão.
-Roberto, o que você tá fazendo em casa? Não ia para aquela entrevista? - perguntou ela, atônita e desapontada.
-Oi amor. Acabou não dando em nada. Ligaram pra cancelar. Relaxa, eu vou arrumar um emprego logo.
-Acho bom mesmo, pois ficar sustentando a casa sozinha não vai rolar. - disse ela, tirando a blusa apertada e colocando algo mais confortável para vestir. Sentiu o olhar de desaprovação morder-lhe a nuca e já se virou perguntando irônica:
-Nossa, que olhos grandes você tem. Posso saber por que essa cara?
-É pra te ver melhor, paixão. E saber de onde você tirou esse capuz vermelho. Meu deus.
-Ele veio junto com o moleton, tapado. Tá vendo? Não precisa ficar com essa cara boquiaberta.
-Gostou dessa boca enorme? Ela serve pra te comer!
-Ah, super romântica essa frase. - suspirou ela - Primeiro me chama de mal-vestida e depois vem querer fazer coisas.
-Não! Pelo contrário... curti muito o moleton. Você fica gostosona. Vem cá vem, vem pro seu lobo mau, chapeuzinho vermelho.
-Roberto, pára com isso! Ninguém te chama de Lobo faz uns 6 anos! Cresce! E além do mais não vai rolar. Não é só o chapeuzinho que tá vermelho pra mim hoje.
-Não faz mal! Vem cá! Eu também curto um caneloni ao sugo! - pulou ele da cama e agarrou-la pela cintura. Ela se desvencilhou das garras taradas do Lobo com um gritinho agudo e foi para o banheiro. O Lobo insasciável, saltou atrás dela e só parou quando a campainha tocou. Chapeuzinho olhou feio para ele e perguntou:
-Tá esperando alguém? Achei que a gente ia ficar sozinho hoje. Tive um dia maldito, atravessei todo o trânsito da Bosque da Saúde e ainda parei no mercado pra comprar as coisas pro almoço da sua avó no domingo. Não to afim de zona.
-Não! - respondeu o Lobo - Não marquei nada com ninguém. A não ser que... - Ele foi até a porta e através do olho mágico reconheceu seu amigo, Carlão, que era conhecido por praguejar contra o governo mais do que deveria. Abriu a porta e gritou ansioso:
-Lenhador! Quanto tempo! Ainda descendo a lenha no PT?
-Fala Lobão! Sempre cara! Então, escuta, to indo encontrar o povo alí no Arnaldo's pruma breja, tá afim?
-Porra cara, to sim. Pera aí. - e virando-se pra dentro do apartamento, ele grita para a chapeuzinho - Amor! Vou dar uma saída rápida e já venho!

Quando a porta bateu atrás dele, chapéuzinho levantou o rosto e fitou seu próprio semblante sério no espelho do banheiro. Pensou que talvez tivesse casado com o cara errado. Pensou que precisava cuidar de seu incômodo feminino. Pensou nos dois. Pensou que deveria existir um Tampax pro seu casamento.