quinta-feira, maio 25, 2006


Eu tava morrendo de fome, quase meia noite, no quarto daquele hotel cinco estrelas em Nova York. Não pensem que sou rico, muito pelo contrário. Vim fazer um trabalho besta aqui na cidade e o cara resolveu pagar o quarto dum hotel decente. Meu chefe ia me por numa pensão se dependesse dele. Mas o tal figurão que pediu o serviço insistiu. Daí eu vim. Tirei a porra do visto e vim. Coisa que acontece uma vez na vida outra na morte ter de viajar pra fazer alguma coisa do tipo. Não falo inglês direito. Nada além do básico. E naquela noite o desgraçado que me traduzia as coisas foi dormir cedo. Quase meia noite. Eu morrendo de fome.

Vesti qualquer coisa. Saí do quarto com a cara amassada de ficar na cama o dia inteiro. Tínhamos acabado o serviço e eu estava no meu "dia livre". Grande coisa. Com o frio que tava lá fora não dava pra por a cara na rua. Daí saí todo desleixado pelo corredor, atraindo o olhar repugnado dos outros hóspedes chiques do hotel. Não tava nem aí. Ia ver se no restaurante do lobby eu conseguia apontar pra algum prato e ter uma refeição que não fosse outro hamburguer. Apertei o botão do elevador e esperei a suave campainha fazer o "plim!" dela. Cabisbaixo, na minha, a porta abriu e eu entrei, percebendo que havia mais alguém no elevador mas nem dando a mínima. Ia apertar o botão do lobby mas já estava aceso. Encostei o ombro na lateral enquanto a porta fechava e ia simplesmente aguardar a longa descida de trinta e cinco andares que me separavam da minha janta, quando percebi pelo reflexo do metal do painel que era uma mulher atrás de mim. Uma loira. Não dava pra enxergar direito mas parecia ser gostosa. Como todo bom macho, fingi aquela tossida somada a uma coçada no nariz pra espiar pra trás, subindo rapidamente o olho sobre ela. Pernas lindas, um quadril fenomenal, cinturinha deliciosa, um par de seios perfeitos e um rosto que... "OH MEU DEUS!!! PULTA QUE PARIU É A SYLVIA SAINT!!!", pensei eu rapidamente virando o rosto pra frente. Tossi de verdade enquanto a avalanche de pensamentos sórdidos correu pela minha cabeça. Todas as cenas. Todas as posições que eu já havia assistido ela fazer na tela da TV. Todas as incontáveis punhetas que eu dediquei pra ela. "Caralho! É a Sylvia Saint! Niguém vai acreditar quando eu contar!! Puta, preciso dum autógrafo!". Mas daí a ter coragem de virar pra trás todo mulambento como eu tava e pedir um autógrafo era outro papo. O elevador então começou a descer super rápido. Na verdade na mesma velocidade lerda de sempre mas pra mim estava a mil por hora. Não ia dar tempo. "Faça alguma coisa, seu imbecil!". Porra, fazer o que? Virar pra ela e falar "Dá um autógrafo?", muito simples. "Assina a minha 'chapeleta' por favor?", hahaha Legal mas eu ia tomar um murro no olho e ser chutado do hotel. Cacete... não vai dar tempo. Daí sem mais nem menos eu dei uma corajosa olhada pra trás e disse baixinho:"Sfigkmmn asrnavirnsa..." e virei pra frente de novo. Suando frio. Tenso. "Caralho, imbecil, fala algo coerente!" Ela devia estar me achando um idiota. Décimo andar. Porra. Pede logo ou daqui a pouco ela sai andando e você vai ser mais um ninguém na vida dela. Nono andar. Virei de novo e perguntei: "Opa, tudo bom?" com aquele sorriso amarelo e sem graça. Ela respondeu algo ininteligível, curiosa mas sem esboçar qualquer tipo de reação amistosa. Lógico... a mina nasceu na Czechoslovakia e você espera que ela entenda português. Eu tremia perante a oportunidade de dizer pra todo mundo que eu conheci a Sylvia Saint e ferrei com tudo. Daí inevitavelmente veio a imagem do elevador quebrando e eu preso com ela lá dentro, trepando por horas até alguém vir nos socorrer. Socorrer uma porra! Eu mato na chinelada o primeiro bombeiro que botar a cara aqui pra dentro e tentar me tirar de cima dela. "Não! Pára de pensar asneira! Quarto andar!! Vai logo!! Fala algo direito! Olha ela nos olhos e haja como um HOMEM! Diz pra ela com classe que você queria foder com ela dentro do elev... NÃO!!" e as vozes na minha cabeça diziam pra eu estuprá-la, que nesse caso o delegado perdoava. Outras diziam pra eu largar mão de ser um adolescente cheio de hormônio pra dar e ainda ouvia as que diziam pra eu ignorar tudo, que ela era MUUUUUITA areia pro meu caminhãozinho de dois eixos. Caminhão, ha!... era quase uma Towner! "Mas se bem que naquelas towners de cachorro quente cabe muita coisa e... PORRA! A SYLVIA! Volta pra Sylvia! Terceiro andar!!" Daí eu caí no desespero. Fechei as mãos perante o peito e rezei pra Deus ser brasileiro. Eu precisava de mais tempo e brasileiro que é bom quando a coisa aperta não pensa, reza.

De repente a luz apaga e o elevador para! Estupefato eu ergo os braços pro ar e deixo escapar um audível "YYYYYYEEEEESSS!!!!!" já pensando em quantos Pai Nosso eu ia rezar antes de dormir e quantas promessas ia pagar quando ela vira pra mim e diz algo do tipo: "Seems like your dreams have come true, huh?" Eu fiquei muito sem graça e me achando um imbecil. Mas pelo menos o papo tinha começado. Daí pra trepada da minha vida com a Sylvia Saint dentro do elevador eram dois palitos. No escuro total eu perdi a inibição. Respirei fundo, virei na direção dela e disse: "Im sorry if I seem to be too excited. Its just that this kind of situation is extremely unsual to be true. Its the stuff that dreams are indeed made of." Realmente eu não sei da onde aquela frase saiu. Além de parar o elevador Deus me dá o poder de falar inglês direito. Ou sei lá. No desespero era capaz de eu ter falado aquilo em tcheco ou russo. Fala sério, por ela eu falava em mandarim fluente. E então ela dá um risinho bobo, daquele jeitinho inocente que ela dá antes de ser enrabada por um brutamonte nos filmes. Agora vai!

Mas a luz do elevador volta a acender. "O QUÊ?! NÃÃÃOO!! GERADOR FILHO DA PUTA!!" Tá vendo. Tudo que Deus dá o homem estraga. Quem inventou o gerador de energia devia morrer em chamas. Queima no inferno bastardo. Eunuco do cacete! E as imagens voltam com força total: ela apoiada na parede, ela no chão, ela pendurada no teto, ela de ladinho no tapete e "PLIM!" chegamos no lobby. A porta abre e ela sai, sem dizer nada, dando só aquela olhadinha pra trás, misturando dó com compaixão. "Tchau, Sylvia. Nunca te esquecerei." Nem consegui sair do elevador. Só voltei a pensar direito quando um dos técnicos do hotel, um negão de 2m x 2m carregando o cinturão de ferramentas entrou nele e apertou 'cobertura'. Provavelmente pra testar se o funcionamento tava OK. Não tive tempo de sair e começamos a subir. E aqui estou eu, o homem que desceu com a Sylvia Saint e tá voltando com o técnico. Cruzo as mãos perante o peito e rezo então: "Deus, se essa merda apagar de novo eu juro que eu me converto muçulmano."

A luz apaga como se de propósito. Eu grudo de costas na parede do elevador e tento me lembrar pra que lado fica Mecca.


-Vai cara, pula logo.
-Péra lá, to tomando coragem.
-Vai logo, daqui a pouco os guardas estão aí e a gente tá pego.
-Calma lá, são doze andares bicho, não é tão fácil assim.
-Mas são doze andares pra baixo imbecil, você só vai pular os dois metros que separam os prédios.
-Mas e se eu tropeço antes de pular? Posso morrer por não estar preparado, e porque você não vai indo na frente que eu te alcanço, fica ai me apavorando, eu fico nervoso e não consigo.
-Bicho não é possível, estamos aqui à quase vinte minutos, eu cheguei e pulei direto, porque você não pode fazer o mesmo? Tem que ser tão frouxo assim?
-Olha aqui, não seja ignorante nem impaciente, assim que eu tomar fôlego eu pulo.
-Fôlego? Fôlego? Você deve tá de brincadeira, você que teve a maldita de idéia de fazer este roubo imbecil!! Daí chega lá não tem porcaria de jóia nenhuma, não tem dinheiro, não tem obra de arte, ou seja, trabalho e tempo perdido! Até a porra da cerveja daquela casa estava quente!! Agora eu to aqui, sem dinheiro, sem jóias, sem obras de arte, com uma cerveja revirando meu estomago e o bunitinho com medo de pular míseros dois metros... é o caralho mesmo.
-Aí ta vendo, você fica nervoso, desconta a bronca em mim, assim eu fico nervoso também e não consigo pular.
-Na boa, vou contar até três, se você não pular eu vou embora, e se a policia te catar e você me dedar e eu for preso contigo, sabe o que vai acontecer né? Vou dizer prá todos na cela que você é cagüeta, aí você vai ter motivo pra agir que nem bicha.
-Péra ai, me deixa calcular a distância.
-Um.
-Calma lá, caralho, precisa ser bem estudado!
-Dois.
-Acho que daqui ta bom.
-Três.
-Tá bom. Aqui vou eu... - ele começa a correr na direção do vão. Seu amigo grita em pânico.
-CARALHO!! OLHA O CANO SOLTO!!!
-PUUULLLLLTAAAAAQUIPAAAARIUUUUUAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaa.....

Written byEdson Cruz

terça-feira, maio 16, 2006


-Era quase um crime ela ser tão gostosa. Estilinho de secretária, cabelo preso, óculos com aro escuro, corpo escultural revestido pelo terninho feminino, taier, sei lá. E ainda por cima a maior cara de sem vergonha possível. Sabe? Aquele tipo de mulher que quando passa é impossível você não olhar. Devo ter batido umas dezoito punhetas pra ela. Mas o mais foda de tudo era saber que ela já tinha dado pra metade do departamento. Sério! Tenta entender meu lado! Porra, por que que ela trepava com tudo quanto era cara que chegava nela e não comigo? Tentei tudo quanto é tipo de xaveco e só recebi "não" de volta. Comprei presente, mandei flores, escrevi carta de amor, tudo essas porras e ela insistia que só me queria como amigo. Vai se foder, que amigo o quê? E aquilo foi crescendo dentro de mim, aquele puta ódio. Quando meu melhor amigo veio pra mim num dia ruim e falou que tinha comido ela de tudo quanto era jeito eu pipoquei. Surtei total, sabe? Catei o carro na mesma hora e fui até a casa dela. Toquei a campainha e assim que ela abriu a porta já dei na cara dela e entrei. Ela tombou pra trás com o tapão e eu xinguei a vadia de tudo quanto é nome: piranha, safada, vagabunda, falei que ela tava tirando uma com a minha cara e etc.. Pulei pra cima dela pois eu tava fora de mim. Ela se debateu e gritou um pouco, mas eu tapei a boca dela e já fui tirando as calças...
-Você tentou estuprá-la e acha isso normal? Quer que eu te dê razão? - disse o delegado severamente, apoiando o queixo na mão direita.
-Calma, deixa eu terminar. - continuou o rapaz - Daí quando eu pus pra dentro, ela parou total! Parou de se debater e tudo e começou a curtir a coisa. Deu um sorriso mega-safado e começou a gemer gostoso, arranhar minhas costas e o escambau a quatro. Doutor, fizemos de tudo. No sofá, na cama, em toda superfície da casa dela. A mulher era incansável. E ela falava todo tipo de besteira, um monte de palavrão, que era para eu me entregar pra ela e tudo mais. E, porra, no barato todo que tava eu disse que me entregava mesmo e todo o bla bla bla que ela queria ouvir. Daí como ninguém é de ferro eu apaguei total depois da última que a gente deu. Quando eu acordo, eu to amarrado naquela sala que eu te falei, cheia de corrente e uma coisas muito macabras pra tudo quanto é lado. Eu tava amordaçado e acorrentado, pendurado no teto. Daí me entra um monte de gente encapuzada, carregando um monte de faca e objetos de sex shop, sabe? E advinha? Fizeram comigo o diabo todo que nem quero lembrar. Me enfiaram aquelas porras, me cortaram com faca, me fizeram cheirar uma merda dum incenso que me deixou grogue pra cacete e etc. Você já sabe que eu só acordei aqui hospital, todo fudido, estuprado, rasgado, depois do cara que me achou na rua. Eu to contando tudo isso pois eu fiz parte de um ritual bizarro que vai ficar marcado na minha memória por muito tempo. Então eu quero que você prenda aquela puta. A vadiona me fodeu legal. Os médicos disseram que eu só vou sair daqui em um mês e que nunca mais vou poder ter ereções ou inclusive andar direito. Então eu quero indenização. Conto com você doutor.
-Muito bem. Bom saber que você lembra de tudo. Isso fará uma grande diferença no tribunal. Mas me diga uma coisa... que desculpa você deu pra sua mulher?
-Bem, eu falei pra ela que eu tinha sido atropelado.
-Entendo. Inclusive é o que está marcado aqui no relátorio. - ele suspira e sorri, olhando para o homem na cama - Só não sei porque você me contou tudo isso com todos os detalhes. Achei que você fosse inocente.
-He, he... bom, ninguém é perfeito. Eu nunca disse, na verdade, que eu era inocente, entende?
-Claro que eu entendo. Afinal, eu nunca disse, na verdade, que eu era da polícia.

Sob os olhos espantados do paciente ele saca a arma com o silenciador na ponta e dispara duas vezes. O monitor de vida não faz barulho, pois fora desligado enquanto ele se empolgava com a estória. A porta do quarto abre e uma belíssima mulher entra no quarto. Ela vira para o suposto delegado e diz:
-Desculpa. Depois do ritual eu tinha certeza que ele estava morto. Não vai acontecer novamente. Prometo.
-Tudo bem, meu anjo. Não tem problema. Sabe que eu estou sempre à disposição. - ele põe a arma nas costas, presa nas calças e continua - Ok, são cinco mil, como de costume.
-Sem problemas. Posso te dar um cheque? Ou você prefere algo mais íntimo?

Eles saem do quarto abraçados e rindo um com o outro. Param em um bar para tomar uma cerveja e vão para a casa dela, onde ela prova que a decisão dele de não preferir o cheque vale cada centavo.

domingo, maio 07, 2006



Ela já andava se sentindo sozinha por meses. Talvez até sozinha demais, literalmente. Não que isso seja desculpa para cometer adultério, mas as vezes nossos instintos e vontades se misturam num pensamento entorpecente que não conseguimos controlar. E quando ela o viu, alí sentado no canto do Café, lendo o jornal do dia às oito horas da noite, usando aquele chapéu, ela foi dominada por uma sensação de graça e interesse. Foi sim, mais forte que ela. E o mais interessante era o fato de ninguém reparar que havia um homem de chapéu e terno, num Café em pleno centro, lendo jornal. Ele era sensual e exótico demais para não ser reparado. Lembrava um quadro de Rembrandt. Foi como acontece nos filmes: quando ela deixou escapar um sorriso, ele ergueu seus olhos acima do jornal e a viu. Com todo charme de um gentleman inglês ele imediatamente dobrou sua leitura sobre o colo e levantou-se, caminhando como se flutuasse por entre as mesas, até parar ao seu lado.
-O prazer de seu sorriso à mim oferecido é algo que não tenho a muitos anos, madame. Agradeço e desejo retribuir tal gentileza com uma taça do champagne de sua preferência. - disse ele com um sotaque inglês fabuloso. Ela aceitou e fez o pedido, deliciando-se com champagne fora de uma data comemorativa. Não precisou de muito tempo para que todo aquele divertimento exótico se transformasse em romance. Ela disse que se chamava Dominique. Ele respondeu beijando sua boca de um jeito que ela nunca pensou ser possível. Não existem palavras que possam descrever o jorro de adrenalina que aquilo lhe causou. Eles deram as mãos, pagaram a conta e foram para o seu apartamento. Um apartamento chique e muito espaçoso, comprado com o bom dinheiro que seu marido ganha de salário. Mas ele viaja muito. Ele a deixa sozinha. Muito.

Dominique não sabe exatamente o que aconteceu. Foi mágico. Talvez fosse a bebida, talvez o poder de sensualidade de seu amante. As mãos dele sobre sua pele não causavam a sensação de estar fazendo algo errado. Era natural. E, por deus, como era gostoso. Atingiu mais de oito orgasmos em menos de uma hora. Seus pensamentos caíram num turbilhão fantasioso de imagens incoerentes e ela pode jurar que tocou o firmamento. Demoraria dias para conseguir parar de sorrir. Ou talvez não. Quando escutou a porta da sala se abrindo e a voz dizendo: "Querida! Cheguei!" ela entrou em desespero. Saltou da cama como se estivesse sob ameaça de vida e começou a tentar, desajeitada, colocar uma roupa qualquer. Seu amante sentou-se na cama, calmo e com o mesmo olhar sóbrio de sempre. Ela gritou baixinho, sem saber o que fazer:
-Vista-se! Faça alguma coisa! É meu marido! Meu deus! Faça alguma coisa!
-Acalme-se Dominique. - disse o homem - Você não fez nada de errado.
-Como não!? - perguntou ela ríspidamente - Desde quando adultério não é errado?
-Simples, minha doce senhora. - respodeu ele - Quando você não sabe o que fez.
A porta do quarto abre de repente e Dominique em desespero olha para seu esposo entrando no quarto e profere a frase mais clichê que lhe vem à cabeça:
-Não é o que você está pensando, amor!
Seu marido olha para os lados e diz, com expressão de dúvida:
-O que não é? - olhando para os lados e voltando a olhar para ela.
Ela se vira rapidamente para trás e vê a cama vazia. Fica por quase um minuto em silêncio, trêmula, remoendo pensamentos sem sentido. Então ajoelha-se no chão e se põe a chorar. Seu marido a abraça e pergunta o que houve. Ela lhe diz que se sente muito sozinha. Eles se beijam e tudo volta ao normal. A rotina entra nos eixos e em poucas semanas ela esquece do episódio do homem de chapéu. Apenas irá se lembrar novamente do ocorrido daqui a três meses, quando o médico lhe informar sobre sua gravidez.