quinta-feira, abril 24, 2008


Esse texto é sobre amor.

Ou talvez a falta dele. Não a falta que ele faz mas sim a ausência de sentimento. O que você ama? De verdade? Poucas pessoas podem responder diretamente essa questão. Menos ainda é o número que pode dizer certamente que ama algo, amor do tipo que não cansa nunca, amor de filme, amor de romance, amor mais perseverante que os 300 de Esparta. Ainda, apenas uma farpa deste bando de pessoas pode fechar os olhos e dizer claramente que ama alguém. E por alguém eu não falo de respeito e carinho e amizade e ternura e toda a baboseira que se escuta geralmente, principalmente de quem é casado. Eu devaneio aqui sobre a paixão ivoluntária, o fogo eterno, aquela coisa que a gente assiste em DVD. Certamente o mocinho faz tudo pela mocinha e acabam felizes para sempre. Ou será que somente o filme corta antes de mostrá-los discutindo as contas da casa ou tendo que levar o par de remelentos que ela pariu para a escola? Ou antes de ela saber que ele largou o emprego para ficar com ela e agora é um vagabundo desempregado?

Qual foi a última vez que você sentiu aquela falta de ar ao conhecer alguém? Aquela vontade de gritar quando a pessoa sorri pra você, a sensação do pacotinho embrulhado na sua barriga que um dia foi seu estômado quando ela chega perto o suficiente, mas não tanto, onde você não sabe se tenta um beijo ou tenta ser sexy? Acho que, após uma certa idade, e claro que devo admitir que existem excessões, nós criamos uma camada superprotetora ao redor desse sentimento estúpido. Chega um momento onde você não consegue mais amar. Ponto. Você sempre vai achar que ela não é boa o suficiente, ou ela não é divertida o suficiente, ou seus amigos não gostam dela, ou você tem medo de sofrer (geralmente de novo) e simplesmente se bloqueia. Se limita. Brinca de bonsai com o próprio "eu" e coloca na cabecinha que nada de muito bom vai vir. Ou seja, romance, por si só, paixão, a vontade surreal e alucinada de estar junto com alguém, morre antes dos 30.

Convenhamos que, caso você já tenha atingido essa idade ou esteja bem perto dela ou ainda ela tenha ficado pra trás faz tempo, você já viveu (pelo menos) um caso de amor tórrido. E você lembra dele, ou deles, e sente falta não da pessoa, mas sim da sensação de perder o chão, de ser alvejado por uma labirintite bizonha quando tal pessoa aparece no local do encontro. Você pode morrer ali, naquele exato momento e sua vida teria sido bem vivida. Amor de filme. Não amor de novela pois ultimamente tudo que se vê na TV aberta é um tentando foder a vida do outro e não de forma que mereça ser filmada. Somos todos voyeurs da tragédia mundial, nesse sentido.

Sendo assim, ergo minha taça de champagne nacional aos que sentem isso ainda hoje, aos que têm a oportunidade e o tesão de viverem esta sensação. Um brinde à labirintite espontânea! Um brinde às borboletas na barriga! Um brinde àqueles que mesmo depois de tanto tempo ainda sentem o que sentiram. E claro, um brinde à nós que um dia amamos mais do que podíamos suportar, que amamos e fomos acometidos pelo mal do envelhecimento sentimental. Outro àqueles que preferiram a vida em solidão amorosa à terem um relacionamento mal-passado. Um brinde à todos nós então, pessoas que amaram, que amam, que amarão. Pois caso tal amor tenha sido destruído ou mal-cuidado ou mesmo devidamente assassinado, bem, vocês sabem o que acontece.

Vendo pelo lado bom da coisa toda, citando Protege Moi do Placebo, pelo menos nos resta toda uma vida para chorar.