terça-feira, maio 22, 2007


E lá estava eu, sorrindo como se tivesse feito clareamento dentário com desconto, adentrando a mesma espelunca de sempre, numa sexta feira dessas. Desssa vez deixei o terno em casa, estava usando aquele casaco preto de fundo vermelho escuro, que vai até o joelho. O lugar estava como sempre, cheio de criaturas esquisitas, sujo e bem animado.

Cumprimentei algumas figurinhas marcadas no caminho de praxe até o balcão e acenei para o barman. "Mojito!", gritei eu assim que ele prestou atenção em mim. Atendimento VIP. Em menos de um minuto recebo meu copo bem cheio do bom e velho Red Label. Na verdade acho que o cretino só me entendeu da primeira vez que eu entrei e apontei para a garrafa por causa do barulho. Depois disso ele se permite assumir. Se eu chegar hoje e pedir a mãe dele mal passada com cebolinha e coca-cola, o puto me traz um Red Label. Enfim, primeiro gole bem dado, para desinfetar a garganta e notificar o fígado que ele vai ter de fazer hora extra, quando eu olho para o lado e vejo uma mulher acenando para mim, sedutora, com o indicador minhocando frente ao rosto a me chamar para perto dela. Olhei para dentro do copo e para o relógio para checar se eu não tinha passado por um lapso de memória como de costume. Olhei para os lados e para trás para ver se era comigo mesmo e até perguntei pro barman se ele também estava vendo uma mulher sozinha na mesa me chamando. Ele me trouxe outro Red Label.

Não vou mentir dizendo que ela era linda, não era. Mas estava muito bem vestida, com uma dessas roupas de marca combinando com o sapato e etc.. Seus cabelos ruivos escorrendo pouco abaixo da altura do ombro, mal escondiam o rosto de vinte ou vinte e dois anos, adornado com um minúsculo piercing de brilhante no nariz. O batom roxo escuro e o perfume seco combinavam com o lápis contornando seus olhos. Sentei-me ao seu lado, coordialmente, deixando um dos copos na frente dela. Ela começou o diálogo perguntando: "Você gostaria de me beijar?" eu dei uma tossida leve e olhei para os lados procurando a câmera escondida. Não encontrei então respondi da forma mais direta possível:
-Macaco gosta de banana?
-Como assim? QUe papo é esse? Como eu vou saber? - exaltou-se.
-É uma expressão. Algo como "Claro que sim!".
-Claro que o que? Você me achou uma macaca? Quer me dar a sua banana? - começou a ficar brava.
-Não! Eu disse macaco. Com "o". Mas esquece. Claro que eu quero um beijo seu.
-Fala sério... eu me abro em sorrisos e você vem com um papo Discovery Channel. E agora quer beijo.
-Bom, eu não vou fazer nenhuma dança do acasalamento, então beijo é legal.
-Você acha que eu sou algum tipo de cadela pra você tratar assim, é?!?! - ficou puta.
-Caraleo... achei que a gente tivesse falando de macacos. E meu beijo?
-Olha, desculpa querer ser legal com você, tá?! - levantou e foi embora levando meu segundo uísque.

Acendi um cigarro enquanto olhava para ela indo embora e pensando que as pessoas perderam muito o senso de humor. Quase ninguém hoje em dia consegue beijar sorrindo ou falar besteiras de amor por brincadeira. Todo mundo leva tudo muito a sério. Tudo é muito plástico, artificial. Beijar alguém na balada é quase como tomar um tang por 50 centavos na barraca de hot-dog da esquina. Perguntei pro barman o que ele achava de tudo isso.

Vocês sabem o que aconteceu.

Written By: Vincent DeLorean

segunda-feira, maio 21, 2007


Eu não tenho certeza que posso viver de música e poesia, todos me dizem que não mas eu não me importo, o mundo não é tão feio assim, ou é? Ou eu que estou ficando doente. Como uma amiga me disse, a coisa mais doente está na mente da gente. E se eu me apaixonar de novo? Daí então fodeu. Uma hora ou outra vou chorar. Porra, mas e daí? Eu não tenho medo de chorar. Ou tenho? Mas eu não estou com cabeça para um relacionamento agora. Estou sem dinheiro e sem estrutura para me manter. Claro que eu quero colo e toda a parte social e física, mas não posso. Por que mesmo que eu não posso? Na teoria o mundo gira em torno do mesmo eixo e assim a vida também pode girar ao meu redor. Certamente. Ela gira a meu redor. Ou não?

Não acho que sei o que eu estou fazendo exatamente a cada dia que passa, a não ser exacerbar a certeza de que eu estou ficando velho e não vivi o suficiente ainda. Mas se eu vou viver 100 anos, ainda nem cheguei no primeiro terço da minha vida! Claro que eu posso ser atropelado amanhã, mas isso é bem raro de acontecer. Não é? Eu olho para atravessar a rua sempre! Droga, e se eu for mesmo atropelado amanhã? Será que eu vivi o suficiente? Tive momentos ótimos na minha vida, mas não sei se posso fazer um Top 5. Será que vai doer? Será que eu não desperdicei um grande amor ou uma chance de ganhar na loteria? Eu costumo muito sofrer de véspera. Isso é ruim, não é? Ou não?

Mas se devemos deixar a coisa rolar e o destino nos guiar, isso não nos tira o poder de escolha? Mas se nossas escolhas já estão programadas ou algo do gênero, por que raios temos que enfrentar a experiência? O que importa é o destino ou a jornada? A jornada claro. Mas se você não chega em lugar algum, a jornada não é completamente perdida? E se o caminho todo for circular e sua vida é uma música presa em repeat eterno? Isso é um pensamento realista? Horroroso? Ou não?

Eu acho que eu tenho certeza que se pode viver então de música e poesia.

quarta-feira, maio 09, 2007


Não lembro direito como eu a conheci, mas eu lembro da primeira vez que ela encostou as unhas afiadas no meu peito. Da primeira vez que ela suspirou uma besteira erótica no meu ouvido. Da estática corrente nascendo do atrito dos meus dedos em suas costas nuas. A melhor noite da minha vida.

Não sei se foi por causa da sensação ébria da bebida ou aquela sensação de briga de egos quando se está com uma mulher na cama e você quer provar para você mesmo que pode fazer melhor. Quando você quer impressionar e ela também. Daí a coisa toda começou a ficar violenta e eu não consegui parar. Ela me mordia e arranhava e comprimia meu corpo contra o dela, gemendo palavras sobre amor, paixão de longa data, devoção. Eu pedi para ela parar mas ela continuava, cada vez mais forte, entorpecendo meus sentidos e literalmente tirando-me fora de sintonia. O orgasmo mútuo veio junto com minha assinatura púrpura em volta do seu olho.

Eu fugi de alguma forma, entre a sensação ardente do sexo selvagem e a vergonha de ter batido nela, sentindo a adrenalina cuspindo ácido dentro das minhas veias e implorando por mais. A sensação de poder misturada com o medo e o vício de querer mais é a pior droga do mundo. Como um parasita num corpo perfeito. Ainda sentia o gosto do suor dela na minha boca quando o telefone tocou, carregando a voz dela, perguntando por que eu tinha ido embora.

Ela disse que me amava. Que o que eu tinha feito não era nada comparado àquilo. Que amor verdadeiro é o amor cruel, se não machucar, é coisa de criança. Que eu não havia acertado seu rosto, eu havia acertado seu coração. E como se amor para ela fosse um esporte, ela me pegou pela garganta, enfiando as pontas dos dedos no meu rosto e mordeu meu lábio inferior como uma ave de rapina. O gosto do sangue me tirou do sério.

Sexo. Em sua forma mais psicótica e visceral. Não eramos mais humanos. Éramos animais que nunca tinham sentido prazer comparável com aquele. Sexo, não. Uma foda surreal, uma trepada cósmica. Não existem adjetivos para descrever o que ela me fazia viver, explorando meus cinco sentidos como se tivesse lido um detalhado manual sobre eles. E falando, incessantemente, que me amava. Que eu era dela. Que ninguém mais ia tocar meu corpo. Que eu podia rasgar meu RG que eu havia perdido a identidade pessoal. Eu era dela. E o pior de tudo é que ela tinha razão.

Estamos juntos ha quase um ano. Quando ela me beijou pela primeira vez eu me entreguei a uma briga que ninguém pode vencer. É engraçado como nos entregamos fácil para uma vida de servidão, como um escravo, mesmo que sua mente diga não, seu corpo ri na cara dela. Num relacionamento que só vai machucar e você se joga de braços abertos. O mistério do comportamento humano só assusta mesmo quando você está comprimido sob o poder físico de uma mulher.

Destruição dos meus nervos, acrobacias que nunca pensei ser capaz de fazer, sem piedade, sem fé, sem futuro. Amor verdadeiro é amor cruel. Nada para se orgulhar.

Mas tudo por um final feliz.