quinta-feira, janeiro 05, 2012

Eu sempre acreditei em algo a mais, geralmente de forma lógica e clara. Mesmo quando criança, quando mamãe falava que eu deveria ser bonzinho pois o Papai Noel estava vendo, eu não conseguia dormir direito, mergulhado na paranóia de um velho obeso e pedófilo me observando. Eu acho importante questionar as coisas.

Daí andei pensando no quanto nos tornamos invulneráveis as coisas do mundo. Parando para analisar porque não é mais horrível ou assustador ver na televisão que um político roubou milhões, que assaltantes mataram oito pessoas e, claro, conseguiram fugir, que um algo-bomba explodiu no Oriente Médio e matou 40 civis, que mesmo depois de Michael Jackson, Che Guevara, Amy Winehouse e James Belushi, a Hebe ainda vive. Mas principalmente por quê nos tornamos insensíveis não só ao que chispa ao nosso redor mas também ao que sentimos por dentro? Depois de uma certa idade ou de alguma experiência horrorosa não queremos mais conhecer pessoas. Queremos conhecer a pessoa perfeita. Perde-se no oblívio a adrenalina de descobrir alguém, de encontrar novidades a cada semana, de desfrutar do prazer de algo inesperado. Queremos saber imediatamente se esta pessoa é um casamento em potencial. Se irá longe. Caso a primeira conversa, onde tentamos extrair o máximo de informações prioritárias possíveis, não vá como imaginávamos, é praticamente sair pela porta sem apagar a luz. Joga-se tudo pro alto e dizemos para nós mesmos que a pessoa tinha algo que não batia.

Talvez por medo, ou pior, pavor absoluto de passar pela mesma merda novamente, ou talvez por falta de tempo, queremos que a próxima pessoa importante em nossas vidas seja a pessoa com a qual você irá ficar velhinho junto. E quando digo falta de tempo é pensar que ficar solteiro aos 35 anos, por exemplo, significa que você se impõe a restrição de não se permitir mais namorar por namorar. Afinal, você vai conhecer uma pessoa, namorar por pelo menos 2-3 anos, ficar noivo(a) por mais 1 ano, casar e curtir por mais 1 ano pelo menos e aí sim resolver prestar atenção em ter um filho. Ou seja, preocupação em ser praticamente avô dos próprios filhos. E claramente isso é algo a se pensar. A vida é curta, temos que seguir um padrão aceitável para nós mesmos, para não ser cobrado pela pessoa que te absorve com aquele olhar de reprovação absoluta toda vez que você se penteia ou escova os dentes perante a pia do banheiro.

Assim, refletindo por minutos mais longos que os que passamos na sala de espera daquele dentista sádico que te atende de sábado, cheguei a conclusão que tudo isso é uma tremenda asneira. Caso eu tenha filhos, viverei até os 120 anos para vê-los crescerem. Caso eu encontre amor, vou me entregar como se fosse o último, mesmo que seja o primeiro. Caso eu perca tempo refletindo sobre o quanto eu sou ignorante, vou no cinema refletir sobre o gosto da pipoca.