quarta-feira, junho 13, 2012



Não é sempre que acontece. Aliás, é bem raro. Mas de repente, sem que eu percebesse, aconteceu algo comigo que me fez lembrar que eu ainda sou humano e que mesmo depois de tantos textos, inúmeros conselhos e horas de pensamentos introspectivos, eu ainda não sei lidar com isso.

Eu me apaixonei.

Na versão resumida, conheci uma pessoa engraçada, inteligente, extremamente divertida e uma companhia deliciosa. Saímos juntos algumas vezes, como amigos, para falar besteiras e dissertar sobre absurdos, divagar sobre abstrações impossíveis e filosofar sobre a vida. Eu sabia que ela gostava de uma outra pessoa, mas insisti em tentar. Olhei-me no espelho e vi um cara com diversas qualidades interessantes. Vi um cara que ela gostaria de ter do lado dela. Com um timing péssimo, numa situação desfavorável, os diversos beijos hoje parecem uma memória insólita que não devem se repetir, pois minha reação depois disso foi de querer te-la sempre por perto. Foi desejar estar com ela em todos os finais de semana subsequentes. Foi perceber, talvez, um certo desespero de causa em não arriscar deixá-la para algum outro idiota.

E aí eu cometi a tremenda asneira de dizer o que eu sentia. De dizer o quanto ela era importante para mim e o quanto ela me fazia querer ser uma pessoa melhor. Querer que o coração dela visse a mesma pessoa que eu via no espelho. Mas não é assim que a coisa funciona.

Se eu tivesse de aconselhar alguém nessa situação, diria para a pessoa calar a boca e resguardar-se num canto, permitindo que a outra pessoa tenha espaço para perceber o quanto a primeira é bacana, atenciosa e deseja estar do lado desta. Claro que eu tive um acesso de descontrole absurdo, afinal, isso raramente acontece comigo. Então aquele cara que está sempre seguro de si, virou uma criança de doze anos que fica puta com o mundo quando o pai não quer comprar o brinquedo mais legal da loja. Tive até um belo de um acesso de ciúme incoerente, culminando em mensagens de texto e um e-mail gigante. Tsc, tsc... bad move. Pessoas alcoolizadas não deviam ter acesso a celulares e internet.

Conclusão, hoje eu não sou a pessoa especial para ela que eu queria ser. Quando a vejo, a temperatura do meu estômago cai uns 15 graus. As conversas entre nós, parecem forçadas. Não sei mais o que dizer ou qual tópico abordar. E no fundo, dou razão para ela. Pois se eu beijo uma menina e de repente ela tem um acesso de ciúme dizendo que me adora, eu provavelmente pularia fora, achando que ela é psicótica. Eu tentei jogar, tentei ser o cara bacana que fica de longe olhando e aguardando, mas agora, me olhando no espelho, vejo um fulano que é péssimo nisso. E não é a primeira vez. É um erro recorrente.

Sendo assim, fui auto-sabotado pela minha boca aberta, meu coração mole e a esperança de ter do meu lado alguém com a qual eu teria uma fantástica cumplicidade. Alguém que eu me via ficar velhinho ao lado, mas que (espero que não) talvez se perca numa história de vida mal fadada. Porém, dizem que aprendemos com nossos erros. Eu sei que cresci e sei que me tornei uma pessoa melhor por causa dela, e só por isso já valeu a pena toda a dor e toda a ansiedade lancinante de beijá-la novamente.

Agora, quando me olho no espelho, eu deixo para aquele reflexo maduro um sorriso.
E um suspiro de saudade.

sábado, março 10, 2012



Um dia me disseram que somente as pessoas desesperadas se cadastram em sites de relacionamento. Numa outra ocasião, um amigo disse que era o lugar perfeito para conhecer mulheres, sem frescura e sem enrolação. Bom, ele já não transava há onze meses, então preferi acreditar na primeira teoria.

Depois do meu último relacionamento, por coincidência, azar, destino, maturidade ou mesmo chatice minha, não conheci mais ninguém que me interessasse de verdade. Uma mulher que fosse inteligente, divertida, carinhosa, sem mimimi, espontânea e sorridente. Todas elas tinham algo que realmente me deixava desconfortável ou me entediava depois de alguns dias. Ok, mentira, até conheci umas duas pessoas que me interessaram, mas elas não estavam interessadas em mim, daí dá na mesma. Isso faz quase cinco anos. Então, me aproximando do meu quinto aniversário de solteiro, analisei a situação friamente e decidi que eu me enquadro no perfil "desesperado" e me cadastrei em dois sites de relacionamento. Após três meses de uso, cancelei minha assinatura em ambos.

Esses sites não são para pessoas desesperadas. É pior que isso. Salvos raros casos, são pessoas que não têm a menor idéia do que é um relacionamento. São pessoas que, por mais que a sociedade diga o contrário, acreditam na magia cinematográfica do par perfeito, da alma gêmea, do príncipe encantado. Deixe-me clarificar com exemplos. Na questão "O que você mais ama?" algumas respostas me fizeram lívido. "Meus cabelos." Sim, o que ela mais ama no mundo são seus próprios cabelos. Como eu, mortal e humano, poderia competir com tantos cabelos? Os cabelos dela devem ser super simpáticos e certamente uma companhia agradabilíssima. Sansão não competiria com ela. Passei. Outra respondeu: "Minha filha canina." Achei bem sobrenatural uma mulher de 32 anos ter uma filha lobisomem. Não, espere, pode ser somente uma cadelinha que é o que ela mais ama no mundo. Eu também tenho cachorro (Petonho). Adoro o bichinho de paixão, mas certamente não é a coisa que eu mais amo no mundo. Acho preocupante uma pessoa amar um bichinho mais do que a própria mãe por exemplo. Próxima resposta: "Sexo e Beijo na Boca." Bacana, vou escrever para essa, mais superficial que piso de fórmica, mas sincera.

Dentre o tópico "Coisas que eu não consigo viver sem:" encontrei então uma enxurrada de incoerências. "Meus avós, meu cachorro e deus." Bom, linda, seus avós e seu cachorro vão durar pouco nesse mundo, considerando que a morte é parte do ciclo da vida. Então quando seus avós e/ou seu cachorro se encontrarem com Deus, como você não consegue viver sem eles você vai junto? "Não poder ter opinião própria." Porra, como assim? Você não consegue viver sem não poder ter opinião própria??? Ou seja, a dupla negativa infere que você adora ser uma pau-mandada. Ou gueixa! (checa as fotos e repara que ela é japonesa mesmo) Agora tudo faz sentido. "Celular, carro, dinheiro, casa, internet." Opa, sinceridade de novo, vou escrever pra ela.

Chegamos em "Como os meus amigos me vêem:" e a sinceridade desabrocha como uma caixa de papelão na chuva. "Engraçada, extrovertida, um pouco mentirosa". Fióta!!!! Com 36 anos na cara você afirma que mente na vida real e no perfil você põe a verdade!? É ao contrário que as pessoas fazem na internet!! "Morena". Não estou brincando, ela escreveu realmente "Morena". Que bom que seus amigos a descrevem assim. Como é a sua amiga? Morena. Mas como ela se comporta? Morena. Ela é gente boa? Não, é morena. Uau. "Como alguém que ama os animais mais do que si mesma" De novo os animais. Bom, faz sentido, afinal geralmente mulheres com esse grau de eloquência sentimental compram bichos e investem neles todo o amor concentrado no mundinho de fantasia que existe dentro delas, até mesmo mais do que si próprias. "Não tenho amigos." Nossa, que poço sem fim de depressão e tristeza. Não tem nem um tamagochi. Deve ser o perfil mais limpo do Facebook. Não vou escrever, mas vou dar add por piedade.

Sendo assim, depois de chafurdar na internet do amor por tês meses completos, percebi que ainda não estou no mesmo nível de desespero. Eu ainda tenho MILHAS de distância do patamar de "Alguém me ama pelo amor de Deus!!" que se propaga como um vírus agressivo nas milhares de páginas online. A internet não é uma caixa mágica que vai lhe poupar dos momentos awkward de conhecer alguém e garanto que o mundo lá fora de bares e baladas e festas é tão ruim quanto, mas eu ainda tenho fé que um dia eu irei encontrar a mulher imperfeita, por horas chata, por outras mal humorada, que me faça sorrir a toa. Até lá, continuarei saindo com aquelas pelas quais não me apaixonei, mas que sabem como me fazer sorrir de propósito.


quinta-feira, janeiro 05, 2012

Eu sempre acreditei em algo a mais, geralmente de forma lógica e clara. Mesmo quando criança, quando mamãe falava que eu deveria ser bonzinho pois o Papai Noel estava vendo, eu não conseguia dormir direito, mergulhado na paranóia de um velho obeso e pedófilo me observando. Eu acho importante questionar as coisas.

Daí andei pensando no quanto nos tornamos invulneráveis as coisas do mundo. Parando para analisar porque não é mais horrível ou assustador ver na televisão que um político roubou milhões, que assaltantes mataram oito pessoas e, claro, conseguiram fugir, que um algo-bomba explodiu no Oriente Médio e matou 40 civis, que mesmo depois de Michael Jackson, Che Guevara, Amy Winehouse e James Belushi, a Hebe ainda vive. Mas principalmente por quê nos tornamos insensíveis não só ao que chispa ao nosso redor mas também ao que sentimos por dentro? Depois de uma certa idade ou de alguma experiência horrorosa não queremos mais conhecer pessoas. Queremos conhecer a pessoa perfeita. Perde-se no oblívio a adrenalina de descobrir alguém, de encontrar novidades a cada semana, de desfrutar do prazer de algo inesperado. Queremos saber imediatamente se esta pessoa é um casamento em potencial. Se irá longe. Caso a primeira conversa, onde tentamos extrair o máximo de informações prioritárias possíveis, não vá como imaginávamos, é praticamente sair pela porta sem apagar a luz. Joga-se tudo pro alto e dizemos para nós mesmos que a pessoa tinha algo que não batia.

Talvez por medo, ou pior, pavor absoluto de passar pela mesma merda novamente, ou talvez por falta de tempo, queremos que a próxima pessoa importante em nossas vidas seja a pessoa com a qual você irá ficar velhinho junto. E quando digo falta de tempo é pensar que ficar solteiro aos 35 anos, por exemplo, significa que você se impõe a restrição de não se permitir mais namorar por namorar. Afinal, você vai conhecer uma pessoa, namorar por pelo menos 2-3 anos, ficar noivo(a) por mais 1 ano, casar e curtir por mais 1 ano pelo menos e aí sim resolver prestar atenção em ter um filho. Ou seja, preocupação em ser praticamente avô dos próprios filhos. E claramente isso é algo a se pensar. A vida é curta, temos que seguir um padrão aceitável para nós mesmos, para não ser cobrado pela pessoa que te absorve com aquele olhar de reprovação absoluta toda vez que você se penteia ou escova os dentes perante a pia do banheiro.

Assim, refletindo por minutos mais longos que os que passamos na sala de espera daquele dentista sádico que te atende de sábado, cheguei a conclusão que tudo isso é uma tremenda asneira. Caso eu tenha filhos, viverei até os 120 anos para vê-los crescerem. Caso eu encontre amor, vou me entregar como se fosse o último, mesmo que seja o primeiro. Caso eu perca tempo refletindo sobre o quanto eu sou ignorante, vou no cinema refletir sobre o gosto da pipoca.