segunda-feira, novembro 02, 2009


É a falta de comentário desnecessário que me faz pensar que o mundo não foi feito para pessoas como eu. É saber que é quase uma impossibilidade matemática encontrar um homem com o quesito "macho" e o lance "carinhoso" na mesma pessoa. É saber que é estético eu beijar outra mulher mas quando o cara diz que gosta de ser "invadido" me causar aquela ânsia costumeira de uma noite cheia de tequila.

Não é a falta do beijo incandescente ou ainda o fato de eu estar a milhas de distância do cara que eu realmente deveria - por razões X - estar com. Ou ainda pela incompetência ideológica de ser exata e ainda assim plausível a decisão de ficar com quem eu, como menina carente que mamãe criou, na verdade não gosto. Por mais que ele tenha seus surreais motivos de me tratar como ninguém nunca ousou e querer, no âmago da espécie feminina que sou, que ele continue assim mas com um toque de sazón que pouquíssimos homens, desculpe, pouquíssimos seres portadores de pênis possuem. Não basta ser macho, não basta ter o devaneio contínuo da incontingência testosterônica pós adolescente, tem que ser "homi".

É como entrar na Bloomingdales com 50 mil dólares na conta e não encontrar nada que me apeteça. É querer estar na Renner do shopping Morumbi com 100 paus e comprar aquela blusinha que é a sua cara. Ela não vai me levar pra jantar, ela não vai me trazer orgasmos múltiplos, mas ela vai encaixar nesse corpinho que eu custo manter, como uma luva na mão do Edward Scissor Hands. So fucking perfect you can twitt about it.

Dá-se então toda a vibração de escrever sobre o que não deveria ser escrito. De ter a certeza incerta de querer um cara que faça terapia mas não que precise dela. Afinal, aquele beijo que a gente lembra - mesmo - não foi produzido pelo dono do Porsche, pelo cabeludo de corrente no pescoço ou ainda pelo aluno de intercâmbio mexicano que tinha um "membro" do tamanho e espessura de um tubo de rímel - dos baratinhos - mas sim, por aquele cretino que um dia apareceu na nossa vida e a gente não encontra uma razão coerente para não ter rolado nada além dum affair simpático.

É por isso que eu insisto que o melhor adjetivo para um relacionamento é o "confortável". Não é demais, não é over, tá longe de ser uma bosta, mas é confortável. Ele não me domina, mas também não me destrói, mas também não me leva ao firmamento erótico, mas também não repete o meu "mas também". Ele é OK, ele é crível, ele é realista sem ser fucked-up, ele é como cozinhar com o Jamie Oliver: nada muito complexo, mas precisa ter uma certa noção do que tá fazendo.

Vivendo então essa vida metafórica - e por vezes até eufórica - que minha paranóia incansável reclama solene das péssimas escolhas que eu fiz na vida. Sou over, sou inconsequente, devia ter tido decisões melhores, mas sou mulher e isso explica tudo. Ponto. Não gostou? Pega a senha.

Written by: Verônica Prata, inspired by posts of @lini on Twitter.

terça-feira, outubro 20, 2009


-Oi, ãhn... linda, eu sou péssimo nisso então vou direto ao ponto: achei você muito interessante e gostaria de convidá-la para jantar.
-Por quê eu iria jantar com alguém que é péssimo em jantar? Você baba quando mastiga?
-Não! Eu digo que sou péssimo nesse lance de flertar.
-Flertar não é um lance. Você não lança algo. Lançar é jogar longe. E quem disse que você estava flertando? Você me convidou para jantar. Isso é flertar?
-Bom, claro, achei que fosse romântico chamar uma garota pra jantar.
-Jantar é só um jantar. Talvez tenha sido romântico um dia. Hoje, nós estamos acostumadas a receber muito mais do que um convite para nos deixar gordas. Você quer me ver gorda?
-Linda, isso é impossível.
-Você querer me ver? Eu ficar gorda? Por quê? Já estou gorda né? *suspiro* Vocês homens não entendem MESMO uma mulher.
-Não! Pára de distorcer tudo o que eu falo. Só queria convidar você para jantar pois gostei de você! Estou sendo sincero! Sinceridade conta!
-Sim, sinceridade conta. Tanto conta que eu já estou pensando numa desculpa para pular sua tentativa de me ver gorda. Ainda mais pois você agora assume que gostou de MIM: do meu corpo, do meu rosto. Você não disse que queria jantar comigo por causa da minha personalidade e inteligência por exemplo.
-Porra, por que eu iria querer jantar com você se você fosse uma puta chata? É claro que é por causa da sua personalidade! Eu gostei de você! Achei você interessante!
-Vixi! Agora que eu vou ter de negar mesmo. Começou com "linda" e agora já baixou para "interessante".
-Não é isso! Você mesma falou que não gosta da insinuação que eu só quero o seu corpo! Nenhuma pessoa tem um "cérebro lindo" afinal. Interessante engloba todos os aspectos da sua personalidade!
-Então você acha que eu sou uma nerd que não faz outra coisa a não ser reclamar de "economia" por exemplo? Se você quer ser sincero, diga que viu, não que achou, mas que viu e apreciou meus dotes femininos e meu caráter forte.
-Dotes femininos? Ninguém fala desse jeito!
-É por isso que tem tanto homem solteiro no mundo. Se eles fossem mais inteligentes e com um vocabulário melhor, estariam namorando. Vocês definitivamente não entendem mulheres.
-Por que diabos a gente está discutindo isso? Eu só quero te levar pra jantar!
-Você vai pagar a conta?
-Eu estou convidando uma mulher desconhecida para jantar, é óbvio que pelo menos a conta eu pago!
-Nossa... de linda, pra interessante e agora virei uma simples "mulher"... tsc tsc... amadores...
-*suspiro*
-O que vamos jantar? Eu não como qualquer porcaria. Uma vez meu ex me levou pra jantar no McDonalds. Não é a toa que virou ex né?
-*sai andando*
-Ei! Onde você vai? E o jantar? Vai desistir assim tão fácil? Por quê? Seja homem! Volte aqui! Ei! EEEEIIIIII!!!!! Humpf! Bicha.

sexta-feira, setembro 18, 2009


Com pálpebras trêmulas, eu te digo o quanto adoro você. Passo a mão no seu rosto de mármore, acariciando a estátua sólida que sorri para mim, dizendo que tudo vai ficar bem. Eu entendo. Vai ficar tudo bem. Sempre ficou. Você me ama. Eu troco qualquer coisa que passe neste corpo, que eu arrumo para você, para assassinar silenciosamente os pensamentos impúros e imundos que passam em minha cabeça. Eu não queria pensar. Eu não queria sentir. Eu queria trocar eu por você.

Com lábios ressecados, eu recuso. Eu aperto meu peito tentando refrear a vontade enlouquecida de sentir sua língua na minha boca. Você trabalha tanto. Você trabalha por mim. Eu quero um filho seu. Eu quero você. Mas eu entendo que você, como uma pessoa muito mais evoluída que eu, consegue ultrapassar as trivialidades para pensar no futuro. Você trabalha tanto. Eu sei que quando você tiver uma centena de milhar em sua conta, eu serei mãe. Eu sei que viajaremos sem nos preocupar. Eu só gostaria de ter a sua paciência e sabedoria. Mas não tem importância. Eu sinto em seu lugar a vontade de me tocar. Eu choro em seu lugar o desperdício das nossas horas juntos. Eu escondo minhas vontades loucas em seu lugar, para confortá-lo com um sorriso quando você chegar cansado. Eu me faço você. Assim você não precisa entender que sua vida sou eu por você.

Com mãos machucadas eu aperto a cortina da sala. Conto nos dedos as nossas últimas horas juntos e bato em mim mesma quando me pego criticando que as últimas 24 horas nossas se deram no último mês. Eu olho pela janela e imagino você dentro de mim, instável em meu coração. Aí percebo que seu coração sempre foi meu. E me odeio por não ser como você. Me odeio por querer fazer coisas de menina, por querer ter amor de cinema e por não ter a sua compreensão do que é uma vida direita. Eu quero morrer para te livrar desse peso. Para você encontrar alguém que te mereça. Quero dar a vida pela sua. Pois se alguém tiver de sofrer, que seja eu por você.

Com pernas bambas eu fecho a porta sempre que você me pede. Eu deito do seu lado e anseio por entender o que você faz. E me assusto toda vez que olho para você e você não está ali. Seu rosto ´banhado pela luz neon do computador não é meu. Seu corpo não responde ao meu toque. Sua alma deseja mais dinheiro para nós. Eu só queria passear. Eu só queria comprar o berço mais barato. Você nunca esteve realmente alí, não é? Sentada em enjoativo e apavorante silêncio eu me dou conta de que meu egoísmo beira a ignorância. Minha ambição por sensações e amor de conto-de-fadas é patética, perante nossa vida coerente. Mas pela primeira vez em minha vida, eu quero ser Janis. Essa sensação não pode mais ser controlada. Eu quero ser menina. Eu quero namorar. E se alguém tiver de voltar no tempo, que seja eu por você.

Com a voz mais lívida que consigo espremer da garganta eu digo adeus. Um adeus egocêntrico e sujo. Um adeus para mim. Um adeus à certeza. Um adeus ao luxo. Um adeus à vida real. Um adeus para alguém que nunca esteve ali. Não me arrependo, mas é provável que o faça nos dias que virão. Mas pelo menos quero me arrepender sem culpa. Esperei Peter Pan vir me buscar. Ele se atrasou. Eu não posso mais esperar. Perdoe-me, se for capaz, por pensar em mim. Por querer mais quando aos seus olhos eu tenho tudo. Mas espero que entenda que só sou assim pois não fui feita para o amor real. Eu não fui feita por Deus ou pelos meus amigos que você não suporta. Eu fui feita por você. E esse doloroso adeus fica. A solidão sempre teve tempo para mim. Está na hora de eu lhe dar ouvidos. E por adorar tudo o que fizemos sob noites sem estrelas, se alguém tiver de morrer...

...que seja eu por você.

"Imagine me and you, I do
I think about you day and night, it's only right
To think about the girl you love and hold her tight
So happy together..."
-- Turtle, Happy Together

Written by: Verônica Prata

quarta-feira, setembro 02, 2009


Foi em oneroso momento de subconsciencia irrefreável, recente, que ví seu rosto novamente. Estávamos em minha escola antiga, com pessoas que não faziam parte do metier à minha volta. Tudo um tanto borrado quando o seu rosto se destacou, sorrindo, como sempre tive de lembrar você, que é uma das melhores coisas que você sabe fazer. Por certo despertando em mim aquela sensação de alegria indiscreta quando se vê pessoa há tempos esquecida. Porém, diferente do que imaginava o comum pensamento quase presente, você beijou minha boca ao me cumprimentar. Eu afastei, atônito, com tantas perguntas em mente que resolvi não proferir sequer suspiro e voltei a beijá-la, como acredito que seja firme, delicado e marcante ao ponto de tirar seus pequenos pés do chão.

E tais segundos de louco êxtase foram suficientes para trazer à tona a desgraçada consciência e eu acordei. Sentado na cama ainda sentindo seus lábios entre os meus dentes. Sua cintura entre os meus braços, algumas mechas castanhas entre os meus dedos. Mas acho que foi sentindo a água quase quente do chuveiro bater em meu rosto e lembrar-me que você foi uma das pouquíssimas que escorreram por entre as minhas mãos, a batalha perdida. Como diria a vocalista do Cardigans, I lost my favorite game.

Eu cometi assumidos erros, mas não chorei ou me senti desolado pela falta de confiança característica, e por vezes devida. Eu sorri. Talvez intrigado com a remota possibilidade de tentar de novo, um dia, quem sabe? Existem pessoas que passam e se vão, conhecemos diversas delas. Mas algumas raras deixam aquele buraco inconformado que não deveria ter sido assim. Deveria ter sido diferente. Deveríamos ter vivido um filme em branco e preto. Mas não importa. Pois se rebobinarem o mundo, nós ainda vamos viver para sempre e você ainda pode ficar de chapéu.

My Fair Lady, there's no Love Among Thieves.

quarta-feira, agosto 26, 2009


Ódio este que talvez
de amor prejudicial que se fez
eu disse coisas para esquecer
meu olho no dele durante a partida
minha mão de culpa acometida
pôs a porta à bater.

Entumece a narina o vento
me envolve a raiva onde me sento
preenche-me o álcool do bar
sorrio para rostos que não são meus
perdão será presente de deus
piso na rua para fumar.

Das frases mal feitas da vida
as luzes dos carros na avenida
nele não acontece o ponto final
saber o que não quero
quando você todo sincero
vira notícia no meu jornal.

A culpa mais que o beijo é doce
por mais ácida que fosse
ele me foge a memória recente
ao ouvir sua inteligente besteira
molhando a boca sorrateira
quando você finge ser inocente.

É fato e por assim desigual
é uma superfície horizontal
onde a ponto de perder meus medos
me sinto morta por um triz
ouso respirar feliz
e desmaio nas pontas dos teus dedos.

Written by: Verônica Prata


Enquanto ela gira sobre os próprios pés e incansavelmente produz sons entre as frases de consequência duvidosa, ele olha para ela e tenta em vão se explicar. Não é tão fácil assim, tornar um monólogo num diálogo.

-E não é que eu não gosto que você sai com seus amigos. Eu gosto. Mas sei lá, as vezes eu não tenho nada pra fazer e quero ficar junto com você. Não que só quero ficar com você quando eu não tenho nada para fazer, mas eu sou mulher, entenda. A gente sente carência forte quando tá sozinha. Não to dizendo também que você é responsável pela minha felicidade ou ainda pelo meu tédio. Só acho que você podia estar mais presente as vezes que eu preciso.
-Baby, só imagina que...
-Eu sei! - interrompe ela - Posso parecer louca falando assim. Não louca. É querer ter alguém do lado 24 horas por dia? Não. Não é isso. To dizendo no sentido de ter uma companhia que acompanhe, sabe? Você por exemplo podia sair comigo sempre que quisesse. Eu não ia me importar. Então como você não fala nada eu não acredito que você queira. E já sei: você não quer atrapalhar quando eu saio com as meninas. Não é atrapalhar, é só esquisito mas eu não me importo. Acho que todo mundo precisa de um espaço, só queria que tivesse menos espaço entre nós. Sabe?
-Baby, eu entendo que...
-Ok! A gente não é casado nem nada. Mas a gente namora sério. E não vem com o papo de rotina que pra menina as vezes rotina é legal. Não é empurrar com a barriga como vocês falam. E eu só não fico mais do seu lado pois como você mesmo sabe, pra cada homem que se junta no mesmo bando todos os outros parecem perder uns 2-3 anos em idade mental. Põe uns dez caras juntos e vocês agem como crianças retardadas. Não que eu não me divirta com vocês, pelo amor de deus, é que as vezes a gente precisa de coisas a mais, sabe? Então é uma questão de rumo, de ter uma direção no relacionamento.
-Baby, mas eu não saio...
-Não é só sair, pelo amor de deus!Isso é só um exemplo. Não é você não gostar de atender o telefone ou beber e ficar daquele jeito. Acho que se rola um amor, um carinho, você não faria isso para não me magoar. Você gosta de mim, não gosta? Então eu não entendo suas atitudes as vezes. Não estou criticando, estou apenas comentando. Que pareço deslocada da sua vida. Sabe? Eu não quero, nossa, casar agora e ter oito filhos, mas queria poder entender o que acontece. Não sou a pessoa mais madura do mundo e também gosto de uma zoeira de vez em quando, mas tem limite. Não dá pra viver assim. Fui criada desse jeito, não vou mudar. Mas você é imprevisível e não consigo entender o que acontece na sua cabeça e se estamos no lugar certo e se vamos para um lugar certo e as vezes acordo de manhã e não consigo encontrar uma razão para eu estar com você e ...

Pouco antes de ele agarrar ela pelo pescoço com toda a força que conseguiu juntar nos dedos, bater-lhe com as costas na parede e quase deslocar seu frágil maxiliar com a própria boca, ele diz:
-Baby, shut the fuck up.

segunda-feira, julho 20, 2009


Não é engraçado ter uma mulher que não tem dente na boca. E não é por falta de dinheiro ou educação, é simplesmente pelo fato de que ela não se importa. Põe um amendoin, põe um M&M, sei lá, qualquer coisa, mas tapa essa porra! Mostre pra ele que você é mais você ao invés de se auto-denominar alguém que precisa de um monte de símbolos e apelidos num site de relacionamento para ser alguém! É por isso que não existem homens interessantes no mundo. Pois eles não se importam mais! Eles sabem que você não se importa se ele é uma besta, se a qualidade de mais destaque em seu currículum social é saber arrotar o alfabeto. Não é a toa que eles vêem para mim e dizem as mais escatológicas asneiras do planeta, pois provavelmente fizeram isso para outra e ela beijou aquela boquinha imunda.

Como diria uma amiga, me colore que eu estou bege! Não são os homens que não prestam! SÃO VOCÊS! SOMOS NÓS! Hoje eu preciso viajar milhas para tentar encontrar um homem que não tenha sido maculado pela "asneiração histérica" provocada por uma cidade entupida até a boca de garotas que preferem lamber o balcão de um bar da Augusta a terem que ir pra casa sozinhas. Ah! E lamber de ponta a ponta. Mas isso é somente na procura pelo cara certo, pelo cara que vai me tirar do chão mais rápido do que menstruação repentina, que vai enfiar neste meu dedinho vazio um anel de diamante um dia. Certo? Não. Pois quando o cara certo aparece a coisa piora.

Cansei de dizer para vocês, para o espelho e até para quem não merece ouvir que queimar sutiã foi muito legal, mas passou. Aquela época de ter seis mil exigências para namorar foi legal para nos dar nosso status, então o que aconteceu com os princípios por traz dele?! Ou não queremos porque ele tem alguma coisa ínfima que a gente detesta ou qualquer cueca bem preenchida (e as vezes nem isso) preenche esse vazio ridículo que preenche nosso corpinho de pastel de feira.

Peço desculpas por gritar, me odeio por fazer tudo ao contrário do que eu deveria. Nem sei o que eu deveria. Sei que preciso me consertar. Preciso arrumar o cabelo e dar um jeito na maquiagem, abrir uns dois botões do vestido e respirar fundo. Resumindo, me fazer mais apresentãvel. Preparar meu estômago para mais bebida. Respirar fundo e sair daqui pois Não-Lembro-O-Nome-Dele está me esperando na sala.

Written by: Verônica Prata


...impossível! - grita, ao jogar o cinzeiro imaginário de vidro na parede e fingir que escuta os milhares de cacos caindo no chão. Ninguém ousara até então uma manobra destas. Ela é linda. Ela é engraçada. Por que raios ele não apareceu? Vestira seu confortável vestido preto, sexy, mas ainda assim com um ar despojado, cool, atraente para olhos conhecedores. Trouxe consigo para casa uma bela garrafa de vinho, sonhando imagens das infinitas possibilidades que a noite poderia criar, quando passou com ela pelo caixa. Por quê ele não veio? O que mais um homem poderia querer numa sexta feira à noite? Ele não tinha que trabalhar, ele não tinha mais o que fazer, ela o convidou, ele disse que viria. Ele não veio. São dez da noite e ele não veio.

Ela respira impaciente e soluça de repente com o primeiro gole do vinho, que nem percebeu que acabara de abrir. Um telefonema teria sido delicado. Chamar ela com aquela voz que ele faz no telefone e dizer que quebrou o carro, que não encontrou o bilhete único, que morreu. Qualquer desculpa seria aceitável. Qualquer farrapo de evidência que a afastasse desta idéia de que ele não a deseja. Que ele prefere seus outros afazeres do que estar nos braços dela, apertando o corpo contra seu ventre, mordendo seus lábios, explorando sua boca... uma tossida rápida sugere a possível resposta num e-mail! Ele pode ter enviado um e-mail. As pessoas se falam demais através da internet hoje. Um e-mail. Um recado no MSN. Evidências. Evidências por favor.

Ela esquece o copo sobre a mesa de centro, sem apoio, mesmo tendo a certeza prática que vai deixar uma marca em anel irreparável na madeira. Só se importa com a tela brilhante e a mensagem dele. Mentira. Ela sente prazer em agarrar o pescoço da garrafa apertado entre os dedos e ter certeza que pelo menos de sua bebida ela tem controle. Mas a noite piora. Sua língua empurra um gole seco para dentro da garganta quando lê seu nome, online, no sistema de mensagens instantâneas. Sequencia este com outro beijo no gargalo, até ferindo levemente seu lábio superior no invólucro da garrafa. Ela digita frenética e com erros de português a pergunta: o que você está fazendo em casa? Por que não veio?

Ele mente. Ela reclama. Ele diz coisas imaturas. Ela bebe. Ele sugere que ela faça um strip via webcam. Ela surta. Se separa de seu contato com tecnologia por um longo momento e sorve tudo o que consegue para abafar a gargalhada sádica que urra dentro dela, apontando o dedo e lembrando-a de coisas infelizes.

Quando volta para o computador reconhece um outro nome. Uma outra pessoa. Ela digita bêbada a esmo e espera uma resposta. Esta demora, mas quando chega é como um bilhete só de ida, para um lugar melhor. Ela sorri. Este outro pede para ela ligar e contrariando tudo que acredita, ela liga. É tarde da noite mas a voz dele ressoa como...

terça-feira, junho 09, 2009

Acho que o que dói é amar mais uma memória do que já foi bom comigo que amar meu hoje. Que esperançar meu amanhã. Eu não quero estar aqui. Eu não quero chegar ali. Eu quero voltar. Eu tenho problemas. Eu sei. E em meus multifacetados devaneios de Alice eu encontro o que faz doer. O bicho-papão. O mesmo que me persegue desde quando eu coloquei um objetivo. Eu vou embora. Antes que eu realmente queira voltar.

Pulo uma linha pela causa estética. Não é o que eu quero. Eu não sei o que eu quero. Sei que isso não me agrada. Não me divirto com compromissos diários que tenho que realizar. Não gosto de dizer que é difícil ser menina. É mais difícil ser mulher. É mais difícil ser humana. Eu fumo um cigarro esperando que ele me mate como na foto que o acompanhe. Eu lembro de uma música do Smiths enquanto olho pra fora da janela, me sentindo perturbada quando percebo que me daria prazer ver o brilho angelical de uma bomba atômica explodindo silenciosa no horizonte. Varrendo a cidade das pessoas impuras e perdoando os meus erros até agora. As escolhas mal feitas que não tenho coragem de consertar.

Carência não se supre com chocolate ou flertando com estranhos. Nem com pessoas conhecidas pra falar a verdade. Eu beijei na boca. Eu devia estar feliz. Mas não estou. Na verdade, eu não estou. Não feliz ou triste. Eu não estou. Penso, logo existo uma ova. Eu penso demais para poder existir ao mesmo tempo. Eu quero ir embora sem sentir saudade. Eu quero que seja fácil enquanto me provoque uma reação de desafio. Eu quero mais do que penso, eu existo mais do que quero. A vontade de entrar para a história é translúcida perante o gosto de um amor opaco. Amor por mim mesma, amor por pensar e o ódio acarretado por não existir de verdade. Eu significo algo para alguém?

Meu devaneio me dá sono. Eu abro um livro para esquecer que ainda tenho horas de vida. Para ser outra pessoa. Para não ter de ficar. A escolha é fácil, é lógica. Mas eu não tenho bolas pra isso. Afinal de contas. É difícil ser menina.

Written by: Verônica Prata

-Bom, falamos de mim até agora. E você? Como aconteceu?
-Tiro nas costas. No meio dum bar... nunca mais sento virado pra rua.
-Nossa... deve ser decepcionante morrer de repente sem nem saber da onde veio.
-Pfff... decepcionante foi chegar no paraíso e descobrir que é paraíso porra nenhuma. Que a gente só fica aqui sentado numa nuvem olhando lá pra baixo esperando a reencarnação. Cacete... você viu o tamanho da porra da fila? Minha senha é número 3.748.549.002 e acabaram de chamar a número 16. Isso é decepção.
-Mas pelo menos a gente não passa fome e pode ver o que todo mundo ta fazendo. Quer ir assistir um trio de lésbicas no meio do lets?
-Nah! Já to aqui por causa de mulher. Não ta afim de ir ver um jogo de qualquer coisa?
-Como assim por causa de mulher? Não foi assalto?
-Não. Foi o marido da garota. Digamos que ele não aceitou bem ser trocado. Traído. Trocado é se eles já tivessem terminado. Daí acho que ele atirava nela. Mas ta ok. Antes eu que ela e ainda o filho-da-puta vai ter que passar a vida dele em cana. Provavelmente vão estourar as pregas dele que nem criança com plástico bolha. Uma por uma até não sobrar mais nada.
-Heheheh... sério? Mas a mulher era bacana pelo menos? Valia a pena o risco?
-Porra, ela era fantástica. Inteligente, sexy, charmosa até o osso. Bom, eu morri por ela, não? Morte por amor, cara. Nem foi tão ruim assim. Dói só no começo. Depois você se vê livre de um monte de coisa... contas, problemas etc... morri feliz.
-Mas e aí? Era boa de cama pelo menos? Beijava gostoso?
-Não sei. É... não precisa ficar com essa cara... eu nunca saí com ela. Nunca nem beijei. Era a primeira vez que a gente saia escondido pra conversar. O foda era a vibe... sabe? Quando você não pode nem chegar perto de alguém que seu coração faz questão de dizer que regras não se aplicam, que todo o certo e errado não é branco e preto, é um gigante tom de cinza. E você acha que pode pelo menos por umas duas horas viver no seu mundinho de chocolate onde amor e afeição valem mais do que toda a merda que você assiste na televisão. Que o mundo não é um labirinto complexo de coisas que só podem te foder. Bom, 0,38mm de chumbo disseram que eu estava enganado.
-Mas você faria de novo não faria?
-Com certeza. Eu mal consigo tirar o sorriso do rosto.
-Bom, acho que então eu vou passar o jogo e as lésbicas. Vou lá pra fila da reencarnação. Fiquei empolgado com a sua estória. Quem sabe não arrumo uma pra mim quando eu descer? Vem junto ou vai ficar sentado nessa nuvem estúpida?
-Rapaz, vou ficar sentado na nuvem estúpida. Vou esperar ela chegar assim pelo menos a gente reencarna junto. Quem sabe na próxima vida eu encontro ela antes de um tapado qualquer?
-Verdade... boa sorte então... não parece que ela vai subir tão cedo.
-Não tem problema. Eu espero.
-Abraço! Quem sabe a gente não se vê lá em baixo um dia?
-É.. quem sabe? Abraço rapaz.

Sozinho, ele sobrevoou a cidade em sua confortável nuvem e parou na frente da janela dela. Ela estava acordada ainda. Ele deu um suspiro. Ela parou de chorar.

quarta-feira, maio 06, 2009

E lá voltava ela pelo bosque, com a cesta cheia de guloseimas para sua vovózinha, depois de um dia cheio. Chegando ao seu destino, entrou na casa, colocando a cestinha na mesa da cozinha e foi até o quarto, deparando-se com algo que não esperava. O Lobo deitado em sua cama, assistindo televisão.
-Roberto, o que você tá fazendo em casa? Não ia para aquela entrevista? - perguntou ela, atônita e desapontada.
-Oi amor. Acabou não dando em nada. Ligaram pra cancelar. Relaxa, eu vou arrumar um emprego logo.
-Acho bom mesmo, pois ficar sustentando a casa sozinha não vai rolar. - disse ela, tirando a blusa apertada e colocando algo mais confortável para vestir. Sentiu o olhar de desaprovação morder-lhe a nuca e já se virou perguntando irônica:
-Nossa, que olhos grandes você tem. Posso saber por que essa cara?
-É pra te ver melhor, paixão. E saber de onde você tirou esse capuz vermelho. Meu deus.
-Ele veio junto com o moleton, tapado. Tá vendo? Não precisa ficar com essa cara boquiaberta.
-Gostou dessa boca enorme? Ela serve pra te comer!
-Ah, super romântica essa frase. - suspirou ela - Primeiro me chama de mal-vestida e depois vem querer fazer coisas.
-Não! Pelo contrário... curti muito o moleton. Você fica gostosona. Vem cá vem, vem pro seu lobo mau, chapeuzinho vermelho.
-Roberto, pára com isso! Ninguém te chama de Lobo faz uns 6 anos! Cresce! E além do mais não vai rolar. Não é só o chapeuzinho que tá vermelho pra mim hoje.
-Não faz mal! Vem cá! Eu também curto um caneloni ao sugo! - pulou ele da cama e agarrou-la pela cintura. Ela se desvencilhou das garras taradas do Lobo com um gritinho agudo e foi para o banheiro. O Lobo insasciável, saltou atrás dela e só parou quando a campainha tocou. Chapeuzinho olhou feio para ele e perguntou:
-Tá esperando alguém? Achei que a gente ia ficar sozinho hoje. Tive um dia maldito, atravessei todo o trânsito da Bosque da Saúde e ainda parei no mercado pra comprar as coisas pro almoço da sua avó no domingo. Não to afim de zona.
-Não! - respondeu o Lobo - Não marquei nada com ninguém. A não ser que... - Ele foi até a porta e através do olho mágico reconheceu seu amigo, Carlão, que era conhecido por praguejar contra o governo mais do que deveria. Abriu a porta e gritou ansioso:
-Lenhador! Quanto tempo! Ainda descendo a lenha no PT?
-Fala Lobão! Sempre cara! Então, escuta, to indo encontrar o povo alí no Arnaldo's pruma breja, tá afim?
-Porra cara, to sim. Pera aí. - e virando-se pra dentro do apartamento, ele grita para a chapeuzinho - Amor! Vou dar uma saída rápida e já venho!

Quando a porta bateu atrás dele, chapéuzinho levantou o rosto e fitou seu próprio semblante sério no espelho do banheiro. Pensou que talvez tivesse casado com o cara errado. Pensou que precisava cuidar de seu incômodo feminino. Pensou nos dois. Pensou que deveria existir um Tampax pro seu casamento.


quinta-feira, abril 09, 2009

Foi um dia interessante. Eu saí do trampo na quinta feira e fui encontrar minha mina num café perto do trampo dela. Sabe como é mulher, ela tava toda carentona e queria me ver. Fui lá pra dar aquela paparicada básica e manter a namorada. Não vou mentir pois não sou hipócrito, queria voltar meio que cedo pra casa pra assistir a jogo do timão, mas namorada é mais importante. Encontrei ela no horário combinado e a fofa tava sentada me esperando bonitinha, tomando um copo de café com leite grande e infelizmente fumando aqueles porras daqueles charutinhos que eu odeio. Fiz que não liguei pro bem da relação e dei um beijão nela de saudade e sentamos juntos. Contei brevemente sobre o meu dia e ela descambou de repente a falar sem parar, toda empolgada, sobre o que faríamos depois, nas férias eu acho. Eu não consegui prestar atenção muito, não vou mentir. Sabe aquela garçonete com um puta par de peito lindo que trabalha no café? A minha não tirava os olhos de mim! To falando sério. Descarada. E olhava e sorria e olhava de novo. Mesmo eu tando acompanhado! Vadia no dez! E ficou secando o tempo todo e ia pra trás do balcão e contava pras outras e as baianinhas ficaram sorrindo pra mim também. Eu dei umas olhadas e retribui, claro, mas super descreto, sem minha mina perceber pra não dar bola fora. Não pode dar bandera senão a patroa estressa. Foda. O problema foi quando minha mina virou e perguntou: "O que você acha?" E eu respondi na lata: "O que você preferir tá bom pra mim, amor." e ela sorriu, toda feliz, dizendo como eu era bom pra ela. Mulher é assim, faz o que ela quer que você tá suave. Saímos de lá e eu vim pra casa. O Tuba e o Digão vieram assistir o jogo e trouxeram cerveja. Timão ganhou. Foi um dia interessante.

Foi um dia decisivo. Já fui trabalhar com cólica, como se meu corpo soubesse do meu estado de nervos emocionais. Odeio quando eu não tenho certeza do que eu quero. Não sabia se ainda queria ficar com ele ou não ou se eu ainda aguentava dar uma segunda segunda chance. Liguei pra ele com aquele frio na barriga, sentindo como se meu coração fosse feito de papel machê. Ele foi seco, como de costume quando está sem paciência. Engraçado como ele é completamente eloquente quando quer me comer. Cretino. Acho que foi a gota d'água. Não sei. Nunca sei exatamente. Tenho medo de mim. Ás vezes. Preferi conversar direito com ele e pedi para que ele me encontrasse no Franz lá perto de casa. Óbviamente ele atrasou, de novo. Não aguentei esperar. Estava nervosa mas quando pensava em terminar de vez com ele me sentia aliviada, como se o peso de mais de quatro anos fosse erguido por Hércules e agora eu estivesse livre. Doía mas era uma dor boa. Era a violência da liberdade. E então eu ficava nervosa de novo pensando que ele podia chorar e fazer uma cena. Pedi um copo alto entupido de Baileys, duplo, e uma cartilha de cigarrilha de creme. Mal acendi o primeiro e ele chegou. Nem me dei ao trabalho de apagar, foda-se. Eu sei que ele não gosta mas eu não estava nem aí. Talvez se eu causasse certa raiva nele ele ia levar a separação como algo que nós já devíamos ter feito há anos. Ele me deu um selinho, meia-boca, com mais nojo do cigarro do que com prazer da minha boca. É feio dizer isso mas me deu raiva dele. Vontade de bater com a cabeça dele no assoalho e pisar em cima. Ele descambou a falar sobre o dia dele e sobre tecnologia e aquele ódio foi crescendo até o ponto que eu surtei e falei que nós não estávamos caminhando pra lugar nenhum. Ele respondeu: "Claro que não, nós estamos sentados!" e riu. Eu quis morrer. Daí eu não tive escolha senão contar toda a tragetória do meu sentimento por ele e sobre o que iríamos fazer daqui pra frente. E enquanto eu contava o idiota ficou olhando na cara de pau pra garçonete!! Daí eu decidi. Eu não queria mais aquilo. Eu não queria mais ele. Chega! Eu quero voltar a gostar de mim mesma! Eu não consigo me olhar mais no espelho sem me odiar por estar com ele! E quando eu cheguei no assunto de terminar mesmo, que era melhor pra nós dois e perguntei o que ele achava ele me responde que o que eu quiser era melhor. Daí eu sorri. Eu estava livre. Foda-se se ele entendeu ou não. Eu decidi ali mesmo quando percebi que mais uma vez ele não estava prestando atenção em mim. Foi muito bom pra mim ele ter sido um idiota mesmo no ápice do final. Fui pra casa. Saí pra jantar com um amigo meu. Pedimos vinho tinto. Foi um dia decisivo.

Foi um dia engraçado. Depois do alemão ter colocado álcool zulu no uísque de um boy que insultou a Clélia ainda me chega uma menina que certamente ia terminar com o namorado e quando o tal namorado chega ele passou o tempo inteiro com a braguilha aberta achando que tava abafando. Cobrei uma cerveja a mais e ele ainda me deu o telefone dele num guardanapo. Trouxa. Foi um dia engraçado.

"Take me down to the Paradise City, where the grass is green and the girls are pretty."
-
- Guns n Roses, Paradise City.

segunda-feira, março 09, 2009

Eu não sou exigente. Muito menos uma menina boba que fica sonhando com o príncipe encantado. Eu tenho um relacionamento maduro, adulto. Com os costumeiros altos e baixos. É claro que a gente discute de vez em quando, mas não é briga, é só desentendimento normal. Por exemplo, sexta feira passada. Ele está meio sem grana e combinamos de ficar na minha casa assistindo um filminho com pipoca, só pra ficar junto mesmo. Eu gosto de só ficar junto. Deitar no colo dele e fazer de conta que o mundo é cor-de-rosa. Ele não é lindo de morrer, não é super inteligente nem tem um humor fantástico ou ainda é o cara mais cool da terra. Mas eu gosto dele. COmo eu disse, tenho um relacionamento adulto. Sem sonhos. Por isso que, depois de ter um dia maldito no trabalho, eu cheguei em casa e a primeira coisa que eu fiz foi tomar um banho. Um banho demorado de uma hora quase. Resolvi me vestir melhor que roupa de ficar em casa, queria me sentir bonita pra quando ele chegasse. Podíamos dar uma saída e tomar um qualquer coisa em algum lugar. Um pouco de romantismo ia me cair muito bem naquela noite. Se ele quisesse ficar em casa eu ia deitar no colo dele, assistir o filme e depois dar um beijinho no pescoço dele e fazer aquela carinha que eu faço quando estou afim de transar. Jantar fora seria legal também, então não comi nada esperando por ele as oito e meia. Ele chegou as nove e quinze.

Abri a porta e me apoiei no batente, esperando ele aparecer no elevador. Ele pôs a cara no corredor e já veio com um comentário um tanto infeliz como "Nossa, onde você vai toda chique?". Isso não é elogio, é me chamar de fresca. É dizer que eu não precisava ter me vestido assim pra ficar em casa. Um simples "Você está bonita." teria feito minha noite. Mas ok, não vou brigar por causa de besteira. Veio até mim e apoiou a mão na minha cintura enquanto preencheu a lacuna de uma prova fácil me dando um selinho na boca cheirando à pasta de dente. Passou por mim e já colocou a pipoca no microondas, comentando coisas triviais e o quando o dia dele foi sacal e que o amigo dele tinha feito alguma coisa de moleque, alguma coisa engraçada na hora do almoço. Eu não lembro o que foi mas ri na hora pelo bem da relação. Em menos de 20 minutos estávamos no sofá assistindo o filme que ele trouxe. Ele pegou uma comédia romântica light, filme de menina. Eu adoro filmes de ação e intriga, um bom policial como "Os Infiltrados", por exemplo. Mas mesmo o Hugh Grant falando besteira não ia estragar minha noite. Eu prefiro que ele assuma que eu goste de coisas mais fofas. Abracei ele, que ficou praticamente imóvel durante uma hora e meia e foi gostoso. Afinal, depois de tanto tempo de namoro, não tem mais aquele fogo, o tesão incontrolável, as gargalhadas loucas ou ainda as aventuras pela cidade. O que resta é companhia e carinho. Foi gostoso. O filme acabou as onze e vinte.

Lembrei a boca dele que a minha existia com um beijo suave e mordi de leve o queixo dele. Ele deu um risinho e voltou os olhos para a TV, mudando para um canal onde passava alguma coisa sobre motocicletas. Eu deitei no colo dele, virada de costas para a TV e abri um botão da sua camisa, beijando sua barriga para brincar. Ele se encolheu, rindo, dizendo que fazia cócegas. Voltou os olhos para a TV depois de me beijar a testa. Perguntei se ele queria beber alguma coisa e ele perguntou o que tinha. Eu disse que podíamos sair para uma Smirnoff Ice. Ele fez aquela cara de mal humor cansado. Como se eu tivesse desligado o ventilador interno de um boneco de posto, murchando em desânimo. "A gente não tinha combinado de assistir filme? Você sabe que eu estou sem dinheiro.". Eu não me importava de pagar, eu não me importava de ir no boteco da esquina, mas tudo bem, eu não ia brigar por besteira. "Tudo bem, relaxa, foi só uma idéia." disse eu insólita. Propus então que comêssemos uma pizza. "Mas para de querer gastar dinheiro, mulher! Você já não se entupiu de pipoca?". Mesmo depois de ele me chamar de gorda subliminarmente, eu me mantive calma. Ele pediu para eu deitar no colo dele mas eu entendi algo como "Deita aqui e fica quieta.". Fomos para a cama e depois de alguma insistência da minha parte nós transamos. Foi gostoso. Não foi a melhor trepada da minha vida mas está longe de ter sido a pior. Também não teve a adrenalina, a vontade alucinada de rasgar as costas do outro, mas foi bem gostoso. Ele dormiu as duas e dez, enquanto eu fumava um cigarro mentolado na janela.

Fiquei zanzando pela casa e assisti um pouco mais de Tv, acompanhada por uma garrafa de vinho que eu resolvi abrir. Estava passando Cidade dos Anjos na HBO. Acabei-me em lágrimas com o clichê sobre o mártir do amor. Ainda soluçava enquanto eu tentava me lembrar que aquilo é ficção e nunca acontece na vida real. Aquela coisa toda assim, sabe? Aquilo não existe. Por isso está no cinema. Coisa mais besta se emocionar até em filme da Meg Ryan. Fui deitar meio bêbada as quatro e quize. Ele acordou as dez da manhã beijando minha barriga. Nós transamos novamente e enquanto eu pensava que mulher não goza todas as vezes ele estava no banho. Perguntei o que íamos fazer e ele me disse para eu ligar para ele no final da tarde. "Você lembra que eu combinei com o Eduardo de ir com ele até a Santa Ifigênia comprar coisas pro PC, né linda?". Ele me beijou tão rápido quanto se vestiu e desapareceu na mesma porta que o trouxe para cima. Eu voltei para dentro e pensei que não ia ter nada congelado para almoçar. Acendi outro cigarro mesmo antes de escovar os dentes. Eu não estava triste. Eu não estava feliz. Eu tinha um relacionamento adulto. Eu sou uma mulher realista. Eu sou uma mulher que tem um namorado legal. Eu sou uma mulher normal. Eu sou... eu sou a mulher invisível.

Written By: Verônica Prata

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Eu me odeio hoje.

E odeio quando meu afeto mal interpretado e, porque não, mal direcionado me devolve uma esnobada desnecessária. Quando você quer ser legal e só e a pessoa interpreta como se você estivesse querendo algo além disso. Pelo amor dos meus filhos não nascidos! Estou tão puto que é capaz de eu deletar alguém do Orkut. Que ódio. Por que raios as pessoas não respiram o conceito Live And Let Live e param de julgar, de assumir, de ver o que não está lá?! Estar num relacionamento já é difícil o suficiente sem as picuínhas imagina com elas? É como TV aberta: já é foda de suportar sem os comerciais, com eles então fica na borda do inacreditávelmente horroroso.

Que ódio. Você faz um gesto que achava inocente e o mundo desaba. E você ouve o que não quer. E você não transa hoje a noite. E você come comida congelada. E você assiste televisão sozinho(a). E você escuta um CD antigo pra se sentir nostalgico(a). E você ve a porra da pessoa em tudo quanto é canto e resolve que é melhor amar que ser amado(a). E você se odeia por se sentir assim novamente. E você pensa no futuro. E você lembra do passado. E você esquece que amanhã vai ser presente de novo. E você passa. E você volta. E tudo dá na mesma. E você olha pro céu procurando um zepelim cor-de-rosa brilhante. E você olha ao redor e se vê no espelho. Mas não é isso que você queria.

Você queria dormir de conchinha.