quarta-feira, maio 09, 2007


Não lembro direito como eu a conheci, mas eu lembro da primeira vez que ela encostou as unhas afiadas no meu peito. Da primeira vez que ela suspirou uma besteira erótica no meu ouvido. Da estática corrente nascendo do atrito dos meus dedos em suas costas nuas. A melhor noite da minha vida.

Não sei se foi por causa da sensação ébria da bebida ou aquela sensação de briga de egos quando se está com uma mulher na cama e você quer provar para você mesmo que pode fazer melhor. Quando você quer impressionar e ela também. Daí a coisa toda começou a ficar violenta e eu não consegui parar. Ela me mordia e arranhava e comprimia meu corpo contra o dela, gemendo palavras sobre amor, paixão de longa data, devoção. Eu pedi para ela parar mas ela continuava, cada vez mais forte, entorpecendo meus sentidos e literalmente tirando-me fora de sintonia. O orgasmo mútuo veio junto com minha assinatura púrpura em volta do seu olho.

Eu fugi de alguma forma, entre a sensação ardente do sexo selvagem e a vergonha de ter batido nela, sentindo a adrenalina cuspindo ácido dentro das minhas veias e implorando por mais. A sensação de poder misturada com o medo e o vício de querer mais é a pior droga do mundo. Como um parasita num corpo perfeito. Ainda sentia o gosto do suor dela na minha boca quando o telefone tocou, carregando a voz dela, perguntando por que eu tinha ido embora.

Ela disse que me amava. Que o que eu tinha feito não era nada comparado àquilo. Que amor verdadeiro é o amor cruel, se não machucar, é coisa de criança. Que eu não havia acertado seu rosto, eu havia acertado seu coração. E como se amor para ela fosse um esporte, ela me pegou pela garganta, enfiando as pontas dos dedos no meu rosto e mordeu meu lábio inferior como uma ave de rapina. O gosto do sangue me tirou do sério.

Sexo. Em sua forma mais psicótica e visceral. Não eramos mais humanos. Éramos animais que nunca tinham sentido prazer comparável com aquele. Sexo, não. Uma foda surreal, uma trepada cósmica. Não existem adjetivos para descrever o que ela me fazia viver, explorando meus cinco sentidos como se tivesse lido um detalhado manual sobre eles. E falando, incessantemente, que me amava. Que eu era dela. Que ninguém mais ia tocar meu corpo. Que eu podia rasgar meu RG que eu havia perdido a identidade pessoal. Eu era dela. E o pior de tudo é que ela tinha razão.

Estamos juntos ha quase um ano. Quando ela me beijou pela primeira vez eu me entreguei a uma briga que ninguém pode vencer. É engraçado como nos entregamos fácil para uma vida de servidão, como um escravo, mesmo que sua mente diga não, seu corpo ri na cara dela. Num relacionamento que só vai machucar e você se joga de braços abertos. O mistério do comportamento humano só assusta mesmo quando você está comprimido sob o poder físico de uma mulher.

Destruição dos meus nervos, acrobacias que nunca pensei ser capaz de fazer, sem piedade, sem fé, sem futuro. Amor verdadeiro é amor cruel. Nada para se orgulhar.

Mas tudo por um final feliz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei pra caralho desse texto...

Lady disse...
Este comentário foi removido pelo autor.