segunda-feira, julho 20, 2009


...impossível! - grita, ao jogar o cinzeiro imaginário de vidro na parede e fingir que escuta os milhares de cacos caindo no chão. Ninguém ousara até então uma manobra destas. Ela é linda. Ela é engraçada. Por que raios ele não apareceu? Vestira seu confortável vestido preto, sexy, mas ainda assim com um ar despojado, cool, atraente para olhos conhecedores. Trouxe consigo para casa uma bela garrafa de vinho, sonhando imagens das infinitas possibilidades que a noite poderia criar, quando passou com ela pelo caixa. Por quê ele não veio? O que mais um homem poderia querer numa sexta feira à noite? Ele não tinha que trabalhar, ele não tinha mais o que fazer, ela o convidou, ele disse que viria. Ele não veio. São dez da noite e ele não veio.

Ela respira impaciente e soluça de repente com o primeiro gole do vinho, que nem percebeu que acabara de abrir. Um telefonema teria sido delicado. Chamar ela com aquela voz que ele faz no telefone e dizer que quebrou o carro, que não encontrou o bilhete único, que morreu. Qualquer desculpa seria aceitável. Qualquer farrapo de evidência que a afastasse desta idéia de que ele não a deseja. Que ele prefere seus outros afazeres do que estar nos braços dela, apertando o corpo contra seu ventre, mordendo seus lábios, explorando sua boca... uma tossida rápida sugere a possível resposta num e-mail! Ele pode ter enviado um e-mail. As pessoas se falam demais através da internet hoje. Um e-mail. Um recado no MSN. Evidências. Evidências por favor.

Ela esquece o copo sobre a mesa de centro, sem apoio, mesmo tendo a certeza prática que vai deixar uma marca em anel irreparável na madeira. Só se importa com a tela brilhante e a mensagem dele. Mentira. Ela sente prazer em agarrar o pescoço da garrafa apertado entre os dedos e ter certeza que pelo menos de sua bebida ela tem controle. Mas a noite piora. Sua língua empurra um gole seco para dentro da garganta quando lê seu nome, online, no sistema de mensagens instantâneas. Sequencia este com outro beijo no gargalo, até ferindo levemente seu lábio superior no invólucro da garrafa. Ela digita frenética e com erros de português a pergunta: o que você está fazendo em casa? Por que não veio?

Ele mente. Ela reclama. Ele diz coisas imaturas. Ela bebe. Ele sugere que ela faça um strip via webcam. Ela surta. Se separa de seu contato com tecnologia por um longo momento e sorve tudo o que consegue para abafar a gargalhada sádica que urra dentro dela, apontando o dedo e lembrando-a de coisas infelizes.

Quando volta para o computador reconhece um outro nome. Uma outra pessoa. Ela digita bêbada a esmo e espera uma resposta. Esta demora, mas quando chega é como um bilhete só de ida, para um lugar melhor. Ela sorri. Este outro pede para ela ligar e contrariando tudo que acredita, ela liga. É tarde da noite mas a voz dele ressoa como...

5 comentários:

Fernando Cruz disse...

... de bebado!

Mah disse...

... just like heaven!

Lola disse...

"Like there's no tomorrow ...!"

Pat Muccino disse...

...home...

Lady disse...
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