segunda-feira, março 09, 2009

Eu não sou exigente. Muito menos uma menina boba que fica sonhando com o príncipe encantado. Eu tenho um relacionamento maduro, adulto. Com os costumeiros altos e baixos. É claro que a gente discute de vez em quando, mas não é briga, é só desentendimento normal. Por exemplo, sexta feira passada. Ele está meio sem grana e combinamos de ficar na minha casa assistindo um filminho com pipoca, só pra ficar junto mesmo. Eu gosto de só ficar junto. Deitar no colo dele e fazer de conta que o mundo é cor-de-rosa. Ele não é lindo de morrer, não é super inteligente nem tem um humor fantástico ou ainda é o cara mais cool da terra. Mas eu gosto dele. COmo eu disse, tenho um relacionamento adulto. Sem sonhos. Por isso que, depois de ter um dia maldito no trabalho, eu cheguei em casa e a primeira coisa que eu fiz foi tomar um banho. Um banho demorado de uma hora quase. Resolvi me vestir melhor que roupa de ficar em casa, queria me sentir bonita pra quando ele chegasse. Podíamos dar uma saída e tomar um qualquer coisa em algum lugar. Um pouco de romantismo ia me cair muito bem naquela noite. Se ele quisesse ficar em casa eu ia deitar no colo dele, assistir o filme e depois dar um beijinho no pescoço dele e fazer aquela carinha que eu faço quando estou afim de transar. Jantar fora seria legal também, então não comi nada esperando por ele as oito e meia. Ele chegou as nove e quinze.

Abri a porta e me apoiei no batente, esperando ele aparecer no elevador. Ele pôs a cara no corredor e já veio com um comentário um tanto infeliz como "Nossa, onde você vai toda chique?". Isso não é elogio, é me chamar de fresca. É dizer que eu não precisava ter me vestido assim pra ficar em casa. Um simples "Você está bonita." teria feito minha noite. Mas ok, não vou brigar por causa de besteira. Veio até mim e apoiou a mão na minha cintura enquanto preencheu a lacuna de uma prova fácil me dando um selinho na boca cheirando à pasta de dente. Passou por mim e já colocou a pipoca no microondas, comentando coisas triviais e o quando o dia dele foi sacal e que o amigo dele tinha feito alguma coisa de moleque, alguma coisa engraçada na hora do almoço. Eu não lembro o que foi mas ri na hora pelo bem da relação. Em menos de 20 minutos estávamos no sofá assistindo o filme que ele trouxe. Ele pegou uma comédia romântica light, filme de menina. Eu adoro filmes de ação e intriga, um bom policial como "Os Infiltrados", por exemplo. Mas mesmo o Hugh Grant falando besteira não ia estragar minha noite. Eu prefiro que ele assuma que eu goste de coisas mais fofas. Abracei ele, que ficou praticamente imóvel durante uma hora e meia e foi gostoso. Afinal, depois de tanto tempo de namoro, não tem mais aquele fogo, o tesão incontrolável, as gargalhadas loucas ou ainda as aventuras pela cidade. O que resta é companhia e carinho. Foi gostoso. O filme acabou as onze e vinte.

Lembrei a boca dele que a minha existia com um beijo suave e mordi de leve o queixo dele. Ele deu um risinho e voltou os olhos para a TV, mudando para um canal onde passava alguma coisa sobre motocicletas. Eu deitei no colo dele, virada de costas para a TV e abri um botão da sua camisa, beijando sua barriga para brincar. Ele se encolheu, rindo, dizendo que fazia cócegas. Voltou os olhos para a TV depois de me beijar a testa. Perguntei se ele queria beber alguma coisa e ele perguntou o que tinha. Eu disse que podíamos sair para uma Smirnoff Ice. Ele fez aquela cara de mal humor cansado. Como se eu tivesse desligado o ventilador interno de um boneco de posto, murchando em desânimo. "A gente não tinha combinado de assistir filme? Você sabe que eu estou sem dinheiro.". Eu não me importava de pagar, eu não me importava de ir no boteco da esquina, mas tudo bem, eu não ia brigar por besteira. "Tudo bem, relaxa, foi só uma idéia." disse eu insólita. Propus então que comêssemos uma pizza. "Mas para de querer gastar dinheiro, mulher! Você já não se entupiu de pipoca?". Mesmo depois de ele me chamar de gorda subliminarmente, eu me mantive calma. Ele pediu para eu deitar no colo dele mas eu entendi algo como "Deita aqui e fica quieta.". Fomos para a cama e depois de alguma insistência da minha parte nós transamos. Foi gostoso. Não foi a melhor trepada da minha vida mas está longe de ter sido a pior. Também não teve a adrenalina, a vontade alucinada de rasgar as costas do outro, mas foi bem gostoso. Ele dormiu as duas e dez, enquanto eu fumava um cigarro mentolado na janela.

Fiquei zanzando pela casa e assisti um pouco mais de Tv, acompanhada por uma garrafa de vinho que eu resolvi abrir. Estava passando Cidade dos Anjos na HBO. Acabei-me em lágrimas com o clichê sobre o mártir do amor. Ainda soluçava enquanto eu tentava me lembrar que aquilo é ficção e nunca acontece na vida real. Aquela coisa toda assim, sabe? Aquilo não existe. Por isso está no cinema. Coisa mais besta se emocionar até em filme da Meg Ryan. Fui deitar meio bêbada as quatro e quize. Ele acordou as dez da manhã beijando minha barriga. Nós transamos novamente e enquanto eu pensava que mulher não goza todas as vezes ele estava no banho. Perguntei o que íamos fazer e ele me disse para eu ligar para ele no final da tarde. "Você lembra que eu combinei com o Eduardo de ir com ele até a Santa Ifigênia comprar coisas pro PC, né linda?". Ele me beijou tão rápido quanto se vestiu e desapareceu na mesma porta que o trouxe para cima. Eu voltei para dentro e pensei que não ia ter nada congelado para almoçar. Acendi outro cigarro mesmo antes de escovar os dentes. Eu não estava triste. Eu não estava feliz. Eu tinha um relacionamento adulto. Eu sou uma mulher realista. Eu sou uma mulher que tem um namorado legal. Eu sou uma mulher normal. Eu sou... eu sou a mulher invisível.

Written By: Verônica Prata