quarta-feira, dezembro 06, 2006

Minha rosa está perdendo suas pételas
E me enche de tristeza ao saber
Que em relação a isso nada posso fazer
Não tenho como impedi-las ou dete-las
De cair

Minha rosa está perdendo sua cor
Sua bela cor que me alegra os olhos
Agora brota tristeza de seus espinhos
E nada tenho eu a fazer para impedir a dor
De minha rosa

Minha rosa está murchando
Perdendo sua vida
Uma gota de vida sai em cada pétala
Sua vida está se acabando
Assim como suas pétalas

Não suporto ver minha rosa assim
Mas não sairei do lado dela
Sei que não posso impedi-la
Mas eu quero estar por perto no fim
Assim que ele vier

Minha rosa desistiu
Agora só eu posso carrega-la
Mesmo contra a vontade dela
Mais uma pétala caiu.

Por Malice in Grey

domingo, novembro 05, 2006

No banheiro, havia um espelho. A verdade era que Amelie não sabia realmente se o espelho um dia estivera lá; tinha uma lembrança certa disso, mas não a ponto de discernir a entre fantasia e realidade.

Trinta anos. Trinta anos passados, três décadas perdidas. Sim, ela poderia se considerar uma mulher de sorte. Formou-se na melhor faculdade, seguiu carreira acadêmica, defendeu teses e mais teses com potencial para um dia mudar o mundo. Hoje, diretora da maior empresa do ramo de engenharia genética na Suíça, com os melhores carros na garagem, incontáveis valores em imóveis ao redor do mundo, uma biblioteca em best-sellers lançados, fãs. Mas afinal, de que tudo isso vale uma vez que nem pode se lembrar se uma porcaria de espelho estava ou não pendurado na parede?!

James foi o melhor, dos amantes claro. Péssima companhia, antagônico, completamente inábil com as palavras, porém sabia como fazer uma mulher gozar como nenhum outro. O tipo do homem que é melhor calado. Não durou mais de dois meses. Com Scott não foi diferente, apesar de sua eloqüência ser um ponto indiscutível. Inteligência sempre lhe despertou mais desejo do que machos corpulentos e seus pêlos. Pensou mesmo que daria certo com Doyle, mas foi outro fracasso. E quando ela se permitiu amar de novo, quando estava tudo bem com Ciryl, quando já havia feito até mesmo a cafonice de organizar um casamento na igreja, o sangue mais uma vez desceu pelas suas pernas. Um dia depois ela encontraria em seu travesseiro um bilhete. Um sonho arruinado por um pedaço de papel e tinta de caneta barata. Ao final de alguns anos ela estava acostumada e já não doía mais.

Adotou um filho. Dois. Três. Todos cresceram e foram embora logo na adolescência. Estava sozinha novamente. Nenhum se importou de verdade com a mãe, por não aceitarem o sonho que ela tinha de gerar um filho em suas entranhas. Seriam eles menos importantes para ela? Amelie se culpava pelo desafeto de seus filhos, e deixaria para eles tudo o que pudesse em quantias de dinheiro, para tentar suprir a presença que faltou. Só o amor não bastava. E ela tinha consciência de ter sido injusta com eles por diversas vezes, e sendo honesta, se arrependia de não ter dado às suas crianças amor de mãe. Tratou-os como amigos, não como filhos.
Talvez a sua decisão de voltar atrás tenha sido por se sentir derrotada - cruel demais pensar assim, mas ela era adulta o suficiente para reconhecer suas próprias limitações. No auge de seus quarenta e nove anos, ela já sabia que ter filhos seria impossível. Todo o trabalho de uma vida em busca de algo que tantas pessoas rejeitam. Essas pessoas teriam alma? Se sim, Amelie realmente teria motivos para não acreditar em nenhum Deus, pois nenhum seria digno de fé se presenteasse com alma uma mãe que deixa seu filho à própria sorte. Uma criatura lânguida e indefesa, um pedaço de seu próprio corpo. Por qual razão essa felicidade simples lhe fora negada? Alma? Isso é coisa para os que erram conscientemente o tempo todo. Buscar iluminação no leito da morte é muito fácil. Difícil é ter uma vida digna e honrada e ainda assim ter que conviver com o fato de ser estéril.

A velha casa continuava lá, mas não como a havia deixado. Os móveis eram em sua maioria os mesmos. Nada de espelho no banheiro, mas alegrou-se ao ver a mancha oval no papel de parede denunciando sua remota presença acima da pia. A lembrança era sua única âncora contra o desespero. O atual proprietário a recebeu com muita cordialidade, e lhe mostrou cada quarto da casa em que havia nascido, com certa empolgação nos olhos. A mesma casa, as mesmas flores no jardim descuidado, o mesmo pomar e até alguns resquícios do que fora uma cerca feita pelo seu pai. Tudo lá, um pouco mais descuidado e velho. Mas faltava algum detalhe. Seria melhor ter guardado apenas a lembrança da infância, pois percebeu que a casa era muito menor e mais pobre do que imaginava. Não sofreu como pensou que sofreria, a lembrança da morte dos pais. Alzheimer. Não mais a revoltava. Não tinha certeza se ainda sabia como sentir as coisas, tamanha a sua convivência em meio a fetos abortados e cadáveres expostos. Amelie havia esquecido de como sentia falta do Sol da manhã. Deixou as férias se acumularem até que não existissem mais ou não precisasse mais delas, o corpo e a mente se acostumaram ao stress e não mais se entregavam à fadiga.

Família, ela não tinha. Se tivesse, conheceria, pois visitou cada um dos cartórios conhecidos da região em que nasceu; contratou até mesmo historiadores que estudassem sua árvore genealógica e a origem do sobrenome. Nada. Do início ao fim do recomeço inexistente. O mundo não era interminável, nem o tempo infinito, porque para ela acabava ali. Para ela e para os seus. De alma e ventre secos. Doce fardo a responsabilidade de não gerar herdeiros. A família sumiria do mapa, e em poucos anos da história. Mas tudo bem, pois não havia ficado ninguém mesmo que pudesse se importar ou lembrar dessa história com amargura. É, menos pior que fosse assim. Se a genética trouxesse a ela um filho como ela mesma trouxe a muitas mulheres, essa criança passaria pela mesma dor: o defeito era congênito e de gene dominante. O sofrimento terminaria ali, e nenhum filho seu passaria pela dor incomensurável que é trazida pela solidão. Se terminasse, seria uma bênção. Talvez realmente existissem Deuses.

Escrito por Brendan Orin

quinta-feira, outubro 19, 2006

Nada como uma mancha no histórico de um homem exemplar para tornar uma vida praticamente usual em uma estória memorável. Thomas Antonelli. O Tommy. Irmão caçula de um dos maiores chefes mafiosos que a cidade já teve notícia. Estudou no exterior, aprendeu a melhor educação e etiqueta que o dinheiro pode comprar, habilidoso com armas brancas e cirurgicamente preciso com armas de fogo. O braço direito do irmão. O assassino mais letal de todas as famílias. Um homem de respeito e reputação imaculados. Até ontem.

Tommy conheceu Angie em uma cafeteria, às seis horas da manhã, antes de antender a um chamado da família. Conversaram trivialmente, mas tal trivialidade foi suficiente para a garota encanta-lo com seu charme feminino, sua aparência impecável e seu bom humor jovial. Saíram poucas vezes juntos depois disso até perceberem que não mais conseguiriam viver sem o outro. Uma paixão incompreensível nasceu entre eles, que por cerca de dois anos e meio namoraram às escondidas e noivaram por mais seis meses. Ela sabia da profissão de seu amor e isso a excitava. Ele sabia que ela não poderia ser descoberta por ninguém, pois ela guardava um segredo que poderia desonrar a família Antonelli e ruir as fundações de sua reputação. O relacionamento deles foi ardente, quase beirando a surrealidade. O segredo da belíssima garota de cabelos vermelhos foi guardado por todo este tempo em que o amor de um pelo outro tangenciava os limites da razão. Até ontem.

Tommy entrou na maravilhosamente decorada sala de reuniões da família e deparou com todos os membros do conselho sentados à mesa. Severos eram seus semblantes. Seu irmão, na ponta oposta da mesa, rangia os dentes e segurava uma pasta de arquivo com força entre os punhos. O que está havendo? Antes que ele pudesse terminar a frase seu irmão jogou a pasta em sua direção. Ele a abriu e o suor gélido escorreu brilhante por seu rosto ao ver diversas fotos de sua amada e documentos sobre a vida dela, organizados dentro da pasta. O que você fez, Tommy? Como você pôde nos decepcionar desta forma? A voz de seu irmão era ríspida e trêmula. Um informante dos Cipriani nos enviou esta pasta ontem. Onde você estava ontem Thomas? Mas Tommy não respondeu. Fechou a pasta e engoliu seco. Ergueu os olhos vagarosamente e encarou o chefe dos Antonelli nos olhos, murmurando o desespero que lhe acometeu. O que vocês pretendem fazer? Batendo as mãos na mesa, seu irmão se descontrolou e ergueu-se da cadeira, gritando raivoso. Não pretendo fazer nada! Eu já fiz! Esse relacionamento, esse absurdo tem que acabar! Eu fiz o que devia ser feito!! Tommy sabia como seu irmão agia. Soube então que a essa altura, ela estava, provavelmente, sem vida. O desespero desapareceu. Suas mãos trêmulas ficaram firmes como aço. O par de pistolas 9mm que ele carregava no interior do casaco foi sacado. E as pistolas gritaram uníssonas, expressando todo ódio de um assassino apaixonado. Dezessete balas por arma. Trinta e quatro disparos. Nenhum errou o alvo. Em menos de vinte segundos, todos os doze membros do conselho da família Antonelli jaziam ensanguentados no chão e Tommy corria para seu carro.

Ela não pode estar morta. Ela não pode estar morta. E ele repetiu isso diversas vezes no caminho para o apartamento dela. Subiu as escadas em velocidade, saltando desesperado degraus a cima. Disparou pelo corredor em direção à porta de entrada e viu esta entreaberta. Não! Abrindo a porta ferozmente com uma ombrada, Tommy pôde escutar o ensurdecedor barulho de seu coração estilhaçando em incontáveis pedaços, ao vê-la jogada no chão, com suas roupas entumecidas em seu próprio sangue. O assassino gritou, mas nenhum som foi liberto. Cambaleou até ela e tomou-a nos braços, misturando suas lágrimas ao sangue ainda quente, que escorria do buraco aberto à bala no peito de sua noiva. Angie... Murmurou seu nome, tocou-lhe o rosto, acariciou-lhe os cabelos. Pegou uma de suas armas repentinamente, apoiando-a em sua própria têmpora. O estalo seco indicou a ele que a arma estava vazia. A sombra de um homem caiu sobre suas costas. Tommy se pos a chorar e se perdeu em pensamentos. Será verdade que tudo que é maravilhoso é proibido? Existe razão para amar? A honra é mais importante que a paixão verdadeira? A arma do matador suspirou silenciosa. Tommy sentiu seu crânio sendo violentamente penetrado pelo projétil e abraçou uma última vez seu grande amor, caindo inerte sobre seu corpo.

Eles iriam se casar amanhã de manhã, celebrando os 18 anos de vida dela.


segunda-feira, outubro 02, 2006

Meu nome é Rogério e eu vou morrer.

O mais engraçado é que eu sei disso. Por isso parei de tentar fazer o paraquedas abrir. Quando se puxa a corda e ele não abre, se tenta puxar o reserva. Se esse não abre também, vem o pânico. Não para mim. Quando nada funcionou depois de horas de check-up e manutenção e uma última verificação você tem certeza que você e o chão vão se encontrar em breve. Podia pelo menos ser especial, sabe? Esse é meu sexagésimo terceiro salto. Não é nem um número redondo, nem cabalístico, nem significativo e não chega nem de muito longe ao recorde de 36.000 saltos de Don Kellner. E caindo de 50.000 pés, nem a metade do recorde de 102.800 daquele capitão da força aérea americana. Eu vou morrer de uma forma patética! E não posso falar nada para ninguém antes disso.

É pior do que descobrir que se tem câncer terminal. Pois mais hardcore que seja a porra do tumor, você pode sair dalí e ir se divertir uma última vez. Gastar todo seu dinheiro, conseguir um último beijo na boca, jogar uma última partida, fumar um maço de cigarros. Não assim. É como se Deus tivesse posto uma arma na minha cabeça e falasse: "Reza, filho, reza agora." Eu tenho mais uns dois minutos pra repensar a vida antes de virar amendocrem no asfalto. Mas o que eu acho mais ridículo é não ter ninguém por perto. Nem um outro paraquedista do lado para agarrar, nem um celular para ligar para alguém e dizer "agora, fodeu.", nem se eu fosse gay eu poderia, num último minuto de glória, gritar para todo mundo ouvir a verdade absoluta e sair do armário em grande estilo, explodindo em purpurina rosa quando acertasse a superfície do planeta. Ou ainda descobrir que eu sou um super-herói e pairar antes do impacto. Ou por algum milagre natural um lago se abrisse sob mim. Poderia pelo menos cair sobre uma passeata do presidente e ver se eu acertava o desgraçado. hahaha. Não tenho nada. Mulher, filhos ou mesmo um cachorro pra sentir minha falta.

Talvez seja melhor mesmo, sabia? Talvez essa seja uma maneira delicada de ser chamado para o além vida. Ah! Na boa, poderia ter morrido dormindo. Daí sim seria delicado. Não esparramado no asfalto. Na velocidade que eu vou bater vão me tirar da estrada com um rodo. Mas sinceramente estou em paz. Meio puto com tudo isso mas em paz. Abro meus braços agora para meus últimos dez segundos de vida no planeta. Agradeço a todos pela atenção e pelas coisas que eu tive, pelos amores que eu vivi e por aquele monte de coisa que a gente não lembra de bate-pronto mas que são importantes de se dizer antes de morrer. Eu nunca plantei uma árvore, nunca tive um filho nem escrevi um livro. Vou virar "o cara que morreu ontem. Semana passada. Ano passado. E daí viro estatística.". Foda-se. Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venh!!

quinta-feira, setembro 14, 2006

Feriado prolongado é legal. É mergulhar num oceano de coisas erradas e não perceber o resto do mundo à minha volta. Com dinheiro no bolso então a água do mar fica até doce. Respirei fundo, vesti aquele terno preto básico mas que custa o mesmo que um Playstation 2, dei tchau pra sanidade e pulei.

Quarta feira, coisa light. Churrasco de um povo do trabalho. Lugar: uma bosta. Uma porra duma casa apertada para caramba na zona norte. Sem frescura, sério. Aqueles churrascos com 150 pessoas numa casa que o quintal é tão imenso que o cachorro tem que botar a cara na cozinha pra espreguiçar. Conclusão, no meio daquele monte de mulher feia e carne crua, o primeiro elegância que apareceu com uma garrafa de uísque eu chamei de meu amor. Daí pulei pra cerveja, caipirinha e acho que foram as doses de steinhaeger que me derrubaram como uma voadora no supercilho. Eu caí num canto e tudo rodava violentamente. Achei que tinha acabado a batida e os caras tinham me posto no liquidificador com limão e vodka. A música começou a sumir e tudo passou a balançar em vez de girar. O som abafado no fundo eram múrmurios de lamento repetitivos. Achei que fossem meus órgãos internos pedindo socorro. E eu ví a luz no fim do túnel. Conforme eu me aproximava dela uma batida tuts-tuts ia crescendo e então meus olhos começaram a doer. Foi quando uma voz feminina me avisou pra não olhar direto pro sol pois queima a retina. Olhei pro lado enquanto ela ia embora com uma garrafinha d'água e vi a rave onde eu estava. Deviam ser umas cinco ou seis da tarde. Eu tava largado na grama sem a menor idéia do que eu tava fazendo alí ou como tinha chegado. Entrei em pânico. Levantei as pressas e fui pro bar tomar um uísque pra acalmar. Não lembro de muito mais coisas depois disso. Sei que certa hora eu vi o sol de novo e uma mina fazendo boca a boca numa outra perto de mim. Eu disse: "Nossa, ela tá pior que eu hein!" e uma gritou "AH! Tem um cara na moita!" e as duas amantes correram pra longe. Levantei zonzo e tateei o corpo em busca de um cigarro ou uma bala de menta pois o gosto na minha boca me fez pensar no chão de um matadouro. Virei pro primeiro ser aproximadamente humano que transitava perdidaço e perguntei: "Brother, você tem uma bala?" e na hora o solícito rapaz respondeu "claro! toma umas duas tio! Bem mais legal que tic-tac!" porra, sério? Legal. Chupei as duas até acabar e daí me ocorreu que eu poderia ter sido drogado. Toca a lavar o estômago com mais uísque, dançar um pouco e... e... caralho, bateu. Tudo estava borrado. Não sentia quase nada além de um entorpecimento bruto e visceral. Ha! Como se eu ainda tivesse vísceras. Nem meus próprios dedos, pernas, braços, nada se mexia por que eu queria. Não pergunte como nem quando mas numa bela hora eu estava dançando com uma mina que ficou me olhando estranho e de repente me beijou. Daí eu balbuciei algo e ela riu, perguntando se eu tava afim duma festinha. Porra, eu jurava que eu já tava numa festinha. Daí disse OK, e ela emendou que se eu pagasse um doce pra ela e uma amiga as duas iam me dar algo muito bom em troca. Na hora me pareceu correto ingerir um pouco de glicose então cheguei pro distinto cavalheiro escondido no banheiro masculino (que me disseram que era o confeiteiro) e pedi logo quatro doces. Vocês imaginam o que aconteceu. Nem vi o sol de novo. Quando eu abri o olho a mulher estava nua em cima de mim, com cara de muito brava. Eu perguntei instintivamente "O que foi?" e ela já veio me xingando "Caralho cara! Não acredito que você dormiu durante o bagulho!!" olhei pra baixo e vi meu pinto bravo, de braço cruzado e toca plástica na cara parecendo assaltante de banco, querendo voltar pra onde ele tava. "Se liga gata! Fechei o olho de prazer!" tentei consertar. "Porra! Por quize minutos?!" disse ela brava. Nem respondi. Eu devia estar sonhando. Simplesmente peguei ela de novo e comecei a beijar ela e voltei pro tchans e tal quando eu vejo outro cara ultra cabeludo dentro do quarto. Fui levantar correndo mas a mulher me segurou e falou na minha orelha: "Ah! Você gosta de olhar pra ela enquanto faz comigo né?!". Porra, ELA!? Parecia o Slash do Guns N Roses num clima úmido! Fechei o olho. O quarto rodava. Abri o olho, vi a mãe de um amigo meu, fechei o olho de novo e mudei de posição. Pus a mina de quatro e comecei de novo. Uns dez minutos depois ela vira e pergunta, "Meu! O que aconteceu? Brochou?" e eu olho pra baixo e tá lá o menino morto, mais miúdo que estagiário tomando esporro do chefe. Respondi na hora: "Porra, sei lá! Pergunta pra ele! Eu tava curtindo!" daí a outra mina vem pra perto e começa se esfregar em mim, dizendo pra amiga que é a vez dela curtir. Baixa a cabeça lá em baixo e eu lembro de sentir algo interessante, mas toda vez que eu olhava pra baixo eu via o Moraes Moreira me chupando. Deu nojinho, voltei pra mina anterior e no caminho topei em alguma coisa viscosa e caí com a cara nas coxas dela. "Ah! Quer fazer um oral então né?!" disse ela. Eu não queria nada, mas de repente ela abre as pernas e aquela coisa peluda praticamente pula na minha cara. Não tive escolha senão beijar o Raul Seixas na boca. Ainda bem que eu não tinha olhado direto para aquilo antes enquanto trepava ou ia achar que era o Fidel com um charuto na boca. E a outra desgraçada resolve entrar no meio e foi o caos. Entorpecido por álcool e drogas eu olhei no espelho e me vi perdido num mar de pelos. Achei que tinha caído dentro do Floquinho. Sem mais nem menos, num minuto qualquer, apaguei.

Acordei no meu quarto. Na terça. Não lembro que horas eram. Sei que acordei pois mexi um dedo. E de propósito. Sentia as pesadas batidas do meu coração tremerem meu corpo. Depois de um momento de reflexão percebi que não era o coração, mas sim meu fígado. Já era esperado. Fiquei realmente cabreiro quando tentei entender o que caralho meu fígado tava fazendo no meio do peito. Imaginei um gato assustado recolhido por entre as costelas. Levantei zonzo, apoiando nos móveis ao meu redor. Fui até a cozinha.

Acalmei o gato com uma lata de flash power e um pedaço de pizza.

Written by Vincent DeLorean

terça-feira, setembro 05, 2006

Quando ele viu uma garota tão bonita chorando no canto escuro da balada, não teve dúvida. Ajeitou-se dentro do terno que usava e foi tirar proveito da situação, tomando para si a oportunidade de consolar uma mulher que provavelmente havia acabado de brigar com o namorado e estava fragilizada, sentimental. Chegou perto em passos seguros e disse em sua voz mais profunda.
-Não fica assim, gata. Não chore por um qualquer. Aposto que ele não prestava.
Ela olha indignada para ele:
-O QUE?! Do que você tá falando idiota? Meu pai acabou de morrer!!
-Bom, err... desculpe, não sabia. Mas veja, pelo menos você tem a sua mãe!
Ela chora mais forte e grita em espasmos:
-Minha mãe abandonou a gente quando eu era pequena!!!
-Nossa, que foda, desculpa. Tente ver o lado bom das coisas!
-Que lado bom?! Não sei o que vou fazer da minha vida agora!! Estou perdida!
-Tudo tem um lado bom! Por exemplo, você não é tão horrenda quanto aquela mina ali.
-Cara!! Não fala assim! É minha irmã!! Qual é o seu problema!?
-Meu deus! Sério? Mas ela não parece com você em nada!
-Meus pais adotaram ela quando era pequena. Acharam que não podiam ter filhos.
-Ah é? E como você nasceu? Inseminação artificial? hehehe...
-Tá rindo do que?! Inseminação foi um milagre pra mim!!
-Tá brincando comigo! Acho que não consigo dar mais foras do que hoje! Só falta sua irmã não saber que é adotada e eu contar pra ela.
-COMO ASSIM EU SOU ADOTADA!??!!? - grita a irmã que estava vindo ver porque a outra estava chorando.
-Er... o que?! Quem?! Oh céus... desculpa.
-Meu!! Sai daqui!! Você tá arruinando minha vida!! - diz a primeira.
-O que você fez pra minha irmã chorar seu idiota!? - pergunta a irmã.
-Não fui eu! Ela tá chorando pelo lance com o seu pai! - defende-se o cara.
-QUE LANCE!? O que aconteceu com o papai?! - pergunta a irmã.
-Er.. é que... hmm... seu pai subiu no telhado. - tenta consertar.
-Seu doente!! Vai embora!! Segurança!! Seguraaaaaança!!
-Não calma! Um par de crioulo musculoso não vai te fazer parar de chorar!
-Tá menospresando minha cor ô muleque? - diz o segurança muito bravo atrás dele.
Ele suspira fundo e olha para as duas, gritando e xingando e chorando na frente dele. Sente a respiração do segurança na sua nuca. Para evitar maiores constrangimentos ele decide acabar logo com aquele momento embaraçoso. Quando a música entra em fade ele grita pro DJ:
-TOCA ANA JÚLIA!!!

Então veio o estrondo. Daí o silêncio.

segunda-feira, agosto 28, 2006

-Boa noite. Espero não estar incomodando. - disse eu, aparecendo do nada no meio da sala onde ele estava se divertindo com cocaína e prostitutas. - Você sabe quem eu sou?
Ele deu um salto para trás assustado, arregalando os olhos e observando os detalhes da figura macabra à sua frente. O vestido negro longo cobrindo seu corpo, minha pele inconcebivelmente branca, meus olhos totalmente negros, a falta de expressão no meu rosto. Demorou alguns segundos ainda, depois das duas moças nuas gritarem e se afastarem da mesa de centro, para que ele tomasse uma atitude corajosa e empunhasse a pistola cromada que repousava sobre a mesa. Apontou para meu peito, o centro da misteriosa figura à sua frente e falou em voz áspera, alta e trêmula:
-Quem raios é você? Como entrou na minha casa? Como passou pelos seguranças?
-Eles não me viram. Na verdade, estou lhe dando a honra de me ver. Isso é algo que pouquíssimas pessoas recebem. Geralmente eu separo a vida de seus corpos frágeis antes que elas mesmo saibam o que está acontecendo.
-O que foi, gatinho? Você assustou a gente. - disse uma das meninas, olhando em volta para a sala vazia. - O que você está fazendo com essa arma?
-Percebe? Elas não podem me ver. - disse, colocando as mãos atrás das costas, paciente. - Peça para que elas se retirem da sala, por favor.
Ele obedeceu, cada vez mais incomodado com aquele delírio tão realista. Ignorou as perguntas das garotas e as mandou para outro comodo. Gritou com elas. Inclusive bateu em uma para que se apressasse. Ele nunca teve educação com mulheres.
-Pronto, - disse ele novamente - agora me responde quem diabos é você, mulher!
-Não estou aqui por você ter sido bom ou mal pois isso são conceitos sociais. Não existe certo ou errado. E antes que você cite os dez mandamentos, posso lhe assegurar que foram apenas diretrizes criadas por Deus para que sua criação prima pudesse prosperar sem se destruir. Para que vocês pudessem viver em sociedade. Estou aqui simplesmente pois seu tempo acabou. Chegou no ápice de sua existência. Afinal, você não achou realmente que fumar, beber e cheirar cocaína por dezesseis anos consecutivos fosse realmente fazer bem ao seu corpo, não é?
-Você é a morte! Meu Deus, você é a morte! Saia da minha casa!! - e ele disparou contra mim algumas vezes. Os projéteis terminaram suas trajetórias na parede atrás de mim, quebrando vasos e perfurando alguns quadros.
-Como vê, suas suspeitas de que isso seria inútil se confirmaram. Talvez agora você possa agir civilizadamente.
Ele chorou. Um homem forte, poderoso e são, chorou novamente depois de mais de trinta e oito anos. Deixei que ele terminasse e escutei sua lamentação subsequente.
-Mas então porque vem me torturar dessa forma? É o mesmo que me apontassem uma arma para a cabeça! Por quê não me levou simplesmente? Não existe maneira de lhe convencer o contrário? - disse ele, agora sem uma lágrima no rosto.
-Deixei que me visse pois gosto de você. Gosto de pessoas realmente corajosas e ambiciosas, que enfrentam seus problemas e os obstáculos impostos pelos senhores da criação de maneira adequada. Sendo assim, eu lhe proponho uma morte limpa. Você não sentirá nada. Apenas irei separar sua essência do invólucro mortal que a envolve e iremos para o Limbo, onde será preparado para sua próxima existência. Você aceita vir comigo, por vontade própria?
-Não posso. Apesar de eu ter feito diversas coisas ruins na minha vida, sou um homem de família. Amanhã é aniversário de dois anos de minha filha. Deixe-me vê-la uma vez mais. Depois da festa você pode me levar. Eu lhe imploro.
-Isso não me comove, meu caro senhor. Não pelo fato de você ter uma filha pequena e uma mulher submissa e estar nesta casa se divertindo com drogas e prostitutas. Não pelo fato do seu arrependimento, pois como disse, certo e errado são conceitos sociais criados por Deus e seguidos pelo homem com o simples propósito de organização. Mas, se é assim que você deseja, esta foi a sua escolha. Eu retornarei amanhã.
Desapareci de sua visão repentinamente. Ele agradeceu de joelhos, com as mãos juntas ao peito como se tivesse a certeza de que Deus em pessoa pudesse realmente ouví-lo. Se vestiu decentemente com seu melhor terno, pôs as garotas de programa para fora de sua casa e ligou para sua mulher, dizendo que estava com saudades e convidou-a para jantar. Cheirou uma última carreira de cocaína antes de sair de casa.
Demorou quase dez minutos para morrer, sob o torturante sofrimento causado pela overdose.


Dizem que quando você enfrenta a morte, momentos da sua vida passam pelos seus olhos com um filme, num piscar de olhos.
Isso é mentira.

Aqui estou eu, sentindo o último suspiro de vida em meu corpo e o que vejo são as conseqüências das escolhas que fiz e daquelas que não fiz. É claro que você pode pensar que isso é obvio, pois nossa vida é o resultado das escolhas que fazemos. Mas o quanto realmente paramos para pensar nessas escolhas antes de fazê-las? Como realmente reagimos perante uma situação que pode de uma maneira extraordinária afetar o resto de nossas vidas?
No meu caso, que rumo minha vida teria tomado se tivesse aceitado o emprego que meu tio ofereceu na fazenda ao invés de me alistar nos Fuzileiros Navais? Ou se tivesse vencido a timidez e me aproximado da linda garota que sorriu para mim no vagão do metro a caminho do Centro de Recrutamento da Marinha em Nova York.

Eu nunca vou saber.

Mas nesse exato momento de desprendimento é como se, de alguma maneira, meu subconsciente estivesse me mostrando que esse final poderia ser diferente e essa dor poderia ter sido evitada e, quem sabe, eu acabaria meus dias ao lado da garota do metro na minha fazenda no interior da Louisiana com meus filhos e netos e não numa praia francesa do outro lado do Atlântico.
Posso sentir o sangue subindo na garganta, o final está próximo. Posso ver as traçantes das MG 42 alemãs passando por cima da minha cabeça.
O ar cheira a morte.

Mas quer saber?! Não me arrependo. Pois estou morrendo da maneira como escolhi, apesar de ter apenas 18 anos, minha vida, tenho certeza, irá servir para um propósito maior e o que estamos fazendo hoje na costa da França será lembrado por incontáveis gerações no futuro.
Meu nome não é importante.

O importante é saberem que eu junto com milhares de outros jovens de diversas nações, no dia 06 de junho de 1944 às 06:36 da manhã desembarcamos na Normandia na operação que ficará conhecida na historia como o DIA D.
Às 06:38am sob o fogo cerrado de metralhadoras, morteiros e artilharia eu me despeço com a sensação de dever cumprido.
Boa noite...

Escrito por João Marcos

quarta-feira, agosto 09, 2006

Não fiquei nervoso, nem chorei pelo que me lembro, quando a vi deitada na cama, coberta por lençõis brancos e sangue. Podiam ter atirado nela. Teria sido menos doloroso do que as diversas facadas. Mas se tivessem atirado eu não teria entendido o recado do índio. Ela foi uma boa pessoa. Boa esposa também. Enterrei-a na mesma tarde em que a encontrei e rezei para que Deus acolhesse sua alma com carinho.

No dia seguinte comecei a procurá-lo. Ele provavelmente queria muito que eu pagasse os vinte e cinco dólares que eu lhe devia, depois de uma mão ruim no pôquer. Ele havia me avisado que se eu não pagasse até a semana passada, eu sofreria consequências. Mas não achei que chegaria a tanto. Mesmo porque eu tinha certeza que ele tinha roubado. O índio era muito ágil com as mãos. Óbviamente eu não o encontrei quando cheguei à cidade, mas tive a esperada recepção calorosa daqueles que trabalhavam para ele.
Levaram-me para um beco onde, com pedaços de pau, socos e chutes, me mostraram que o pagamento devia ser feito. Eu não entendia exatamente se aquele seria o motivo de tanta crueldade. Não podia ser. Ninguém assassina a esposa de um homem por uma pequena dívida de jogo. Não por vinte e cinco dólares. Eu precisava encontrá-lo. Precisava perguntar para ele o verdadeiro "por quê". Quando me recuperei da surra, voltei para a cidade e entrei no Banco Civil para pegar algum dinheiro da minha conta. Tudo o que me sobrara eram vinte e sete dólares. Suficiente para pagar o que eu devia. Meus primeiros passos para fora do banco foram seguidos por membros do bando do índio. Alguns momentos depois me lembro de ter dito que já possuia o dinheiro e mostrei-o para aqueles homems, mas disse que gostaria de entregar ao índio em pessoa. E eles me bateram de novo. Nem ligaram para o dinheiro, pois diziam que a dívida agora era de trinta dólares. Acordei muito machucado. Os dólares, enfiados com força em minha boca por pouco não me sufocaram.

Eu queria falar com o índio. Voltei mais uma vez para a cidade, desta vez quando o sol começava a se pôr. Parece que eles viviam para me espionar pois assim que comecei a andar pela Rua Principal, eles saíram do saloom e vieram na minha direção. Rindo. Ostentando seus porretes e suas armas. Seis deles. Não foi coincidência eu ter seis balas em cada uma das Colts ao meu lado. Um par por vinte e cinco dólares. Achei o preço justo.

Não errei ninguém. Como se o diabo guiasse minhas mãos.
Poucos segundos depois eles jaziam mortos no chão enquanto eu recarregava-as com mais um tambor completo. Talvez por ter sido longe do saloom, ninguém esboçou nenhuma reação quando eu entrei lá. Ou talvez por que aquela era uma cidade violenta mesmo. A única pessoa que olhou para mim foi o índio. Sentado sozinho numa mesa de carteado, jogando algum tipo de paciência. Sentei na mesma mesa, sem dizer nenhuma palavra. Ele recolheu as cartas, embaralhou, e distribuiu cinco para mim, cinco para ele. Baixou o maço ao seu lado e disse:
-O que você acha da Violeta? Todos adoram ela. Todos os homems como você, pelo menos. Gosto de mulheres mais fortes.
-Não me preocupo com o tamanho em si. - respondi, pegando minhas cartas para olhar. - O que importa é o calor da mulher.
-Hahaha! - ri o índio - Concordo com você, meu caro. Nunca fodi uma prostituta e pretendo nunca fazê-lo. É nojento.
-Eu já o fiz. Me arrependo. Não gosto de fazer isso sem algum tipo de sentimento.
-Ah! Sempre achei que fosse um homem honrado e tradicional, meu caro. - disse enquanto trocava suas cartas - Admiro isso.
-Quero duas. - respondi quando ele apontou para o baralho. - Sim. Sou um homem de honra. Por isso gostaria de fazer-lhe uma pergunta. Se o senhor não se importar.
-Claro que não. Fique à vontade. - respondeu ele ao me entregar as duas cartas e realizar a troca. - Só espero que não seja sobre meu grupo étnico ou eu vou ficar chateado.
-Não, não é. - Disse eu olhando minha nova mão. - Gostaria de saber por quê o senhor matou minha esposa.
-Filho, não acredito que você vai estragar um bom jogo com um assunto destes. - disse ele - Aproveite a noite! Aproveite que meus homens não o encontraram ou você não estaria neste saloom.
-Por favor, senhor, eu realmente gostaria de saber. - joguei dois dólares na mesa. - Aposto dois.
-Muito bem, eu lhe direi. Pois ela mereceu. - respondeu, abrindo os braços, num gesto óbvio. - Ela veio a mim para perguntar se eu podia perdoar a sua dívida. Que eu devia ir até a sua casa e receber vinte dólares que era tudo o que ela tinha. Eu, como um homem misericordioso, aceitei. Mas quando eu fui até ela, até sua casa, ela me recebeu nua. Disse que era pagamento suficiente se eu a fodesse. Bah! Aquele corpo mirrado mal iria me satisfazer! Foi um ato repugnante uma mulher casada fazer aquilo!! Então fodi ela como um bicho. Um bicho sujo. Então meus homens fizeram o mesmo. Para ela aprender, entende. Aquele ato abominável deveria ser punido de forma abominável. Quando eles a deixaram exausta eu a esfaqueei. Ela sofreu e se debateu como uma cabrita no abate. Pronto. Contente? Preferia que você não soubesse mas você perguntou.
-Obrigado por sua sinceridade, senhor. Eu agradeço. Não guardo raiva nem mágoa agora. Realmente ela mereceu morrer. É o senhor que aposta.
-Vejo que pelo menos tem bom senso, rapaz. Gosto disso. Atitude de um homem honrado. Não vou esfolá-lo logo de começo então: cubro seus dois. Pago para ver. - e ele baixa suas cartas na mesa, abrindo um largo sorriso e falando alto com o vozeirão que tinha - AHA! Trinca de ases!! Acho bem difícil você ter algo que...
Saquei minha arma e atirei na garganta dele.
O eco da explosão da pólvora reverberou por todas as paredes do saloom enquanto ele caía para trás, se debatendo com a mão no pescoço, asfixiando-se no próprio sangue. Demoraria cerca de dois minutos para morrer.

Levantei-me da cadeira, coloquei a arma novamente no coldre e encarei o último suspiro de vida nos olhos dele:
-Fullhouse, filho da puta.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Depois que eu cheguei nos trinta comecei a receber vários conselhos subliminares de que eu já devia ter casado, ter tido filhos, ter tomado jeito na vida e encarar a minha idade. Cacete, por quê? Por quê raios eu precisava me encaixar no padrão social? Eu ainda gostava muito de cair na balada durante a semana, acordar cabeçudo para ir trabalhar no dia seguinte, jogar videogame até de madrugada, berrar com a minha voz esganiçada uma música bacana dentro do carro, dissecar cultura pop com os amigos e, resumindo, fazer o que eu gostava de fazer. Mas às vezes até pensava em "crescer", virar "adulto". Tanto que quando minha irmã me pediu para levar o filho dela e uns amigos do garoto para uma matinê numa baladinha eu topei na hora. Porra, já não via o garoto há quase um ano! Quis ser um tio legal e levar a turma pra balada! Pelo menos eles não tão indo assistir um filme da Estupixuxa. Apesar de que eles tão com treze ou quatorze anos, acho que não tem mais idade pra isso. Não! Acho que tão com quinze e poucos. Bom, enfim, num sabadão fui pegar o povo na casa da minhã irmã.

Parei o carro, businei e a porta da casa abriu. Daí começou o freak show. O primeiro a sair foi um serzinho bizarro, de um metro e meio de altura, usando uma camisa xadrez na cintura, uma camisa laranja coberta com outra camisa xadrez, tênis de cano alto e calça jeans, loirinho que nem canário e de olhos claros, portanto uma cara de idiota tão tamanha que o Mike Meyers ficaria com inveja. Daí me sai uma menina toda delicadinha, sorridente, bonitinha, que a seis passos do meu carro dá uma arrotada de fazer vibrar o para-brisa e depois ri com eles que nem a Hello Kitty, toda meiguinha. Finalmente sai a porra do meu sobrinho, usando uma calça jeans preta, sapato, moleton escuro e um corte de cabelo ridiculo, com uma mega franja caindo no meio da cara. Todos eles super educados, entraram no carro dando oi, boa tarde e o "e aí tio?" básico. Quero dizer, todos eles vírgula, pois o lorinho falou palavras incompreensíveis mas me soaram como um oi. Saí com o carro e no começo do trajeto já fiquei sabendo que o Lars era um aluno de intercâmbio da Ucrânia e não falava portugUês. Claro que eu me perguntei do que cacete o moleque era aluno se ele não entendia porra nenhuma em português. Mas daí meu sobrinho já disse que ele era grunge e era muito legal. Ok, é legal ser grunge de novo então. Bom saber. Quis então ser descolado e perguntei em inglês pro tal Lars se ele preferia alguma outra banda de Seattle tipo Soundgarden, Alice in Chains ou caia mais pro Pixies clássico. O moleque não disse nada. Aparentemente também não falava inglês, mas meu sobrinho já foi falando que ele não gostava dessas coisas não. Curtia mais um Smiths e adorava Tori Amos. Retruquei como qualquer outra pessoa sensata: "Mas então como caralho ele é grunge?" e recebi um "Uai? Ele é grunge, ponto.". Resolvi não continuar senão ia dar briga. Já sabia que o caminho ia ser longo. Então, para quebrar o silêncio desconfortável que foi criado com minha cara pensativa de "nossa-que-moleque-imbecil", meu sobrinho começou a tornar minha vida miserável.

-Ah! Tio, não te contei, arrumei uns amigos legais e vou virar eno.
-Virar o quê!? Cê vai virar sal-de-fruta? Que porra é essa?
-Não! Virar eno, curtir umas bandas atuais, sons melódicos. Você que gosta de música devia saber! O Lars é grunge, a Melinda é lésbica e eu vou ser eno.
-Ok, primeiro, você quer ser EMO, termo abreviado do Emotional Hardcore, atrelado às bandas do círculo punk de Washington que curtem um lirismo mais emocional que o padrão. Eno = sal-de-fruta. Emo = Emotional Hardcore. Segundo, o Lars não é grunge. Ele é um Ucraniano estranho que gosta de se vestir de xadrez. Terceiro, o que raios tem a ver ser lésbica com vocês dois serem de tribos musicais?? Ou vai dizer que ela é lésbica por gostar de meninas de banda? Ela é fã do L7 agora?
-A questão é ser de uma galera bacana. - respondeu a garota, claramente aborrecida com minha pergunta, cruzando os braços e falando virada para a janela. - Melhor que ficar sozinho jogando videogame! Cai vida, fala sério.
-Vai ser bacana ser emo né? - interviu meu sobrinho, antes que eu espinafrasse a fióta. Menina atrevida. Como diz um amigo meu: Eu não preciso cair na vida, eu jogo, eu tenho um monte de vidas! Mas fiz de conta que não foi comigo para não causar polêmica.
-Depende, você vai virar emo porque gosta de Simple Plan, My Chemical Romance, Taking Back Sunday e outras do mundinho underground ou porque quer ficar junto com um bando de moleque andrógino, na esquina de algum buteco, tomando vinho chapinha e falando asneira até ser vassourado pelo dono do bar pra uma outra esquina imunda qualquer?
-Nem curto muito música, o legal é o pessoal. - feriu-me os ouvidos mas eu já esperava.
-Fala sério, Rogério, não acredito que quando eu acho que você vai virar alguém com integridade mental você me dá uma dessa e se entrega de corpo e alma e cabelo pra mídia de massa, pra cultura ultracapitalista, que te transforma num robô que faz, usa e pensa como e o quê eles querem.
-Tem que ser da moda agora, né? - interviu a garota - E chama ele de Róger. E pelo menos ele faz coisas condizentes com a idade que tem.
-Rogério... - Respirei fundo e engoli seco pra não mandar a sapatinha tomar no cu e continuei a falar com ele. - ...você tem que ser você mesmo, cara! Faça o que VOCÊ acha bacana! Não se deixe levar pelas idéias alheias!!
Nisso o ucraniano me solta uma frase ininteligível e os três caem na gargalhada. Claro, me senti um imbecil.
-Fala sério que você entendeu? - perguntei pro Rogério - Desde quando você fala ucraniano?
-Não foi nada. Esquece. - Disse meu sobrinho afetado. - O Lars ta só brincando.
-Ok Han, para com a palhaçada, me traduz o que o Chewbacca falou ou vou ficar bem puto.
-Calma tio! - disse a porra da menina - Desencana! É brincadeira nossa. Dirige com calma ou a gente não chega.
-ô velcrinho, - perdi a paciência, ninguém dá pitaco como eu dirijo. - pega leve que a conversa não chegou na passeata. To conversando com meu sobrinho pois eu não quero ver ele virar uma bicha doida sem cérebro que acha que ser maníaco-depressivo dá barato. Então, por favor, com toda a educação que mamãe me deu, calaboca.
-Nossa, puta educação tua mãe te deu, hein? - inacreditavelmente, sim, ela respondeu isso. Quando eu tava pronto para soltar um "Tudo isso é falta de rôla??!" o infeliz do "emo-wannabe" do meu lado grita:
-E eu já beijei um menino!! - tenho certeza que foi exatamente nessa hora que eu desenvolvi minha atual condição cardíaca.
-Oi? - olhei pra ele com as sombrancelhas mais em pé que gato assustado. - Como assim? No rosto? - ele ficou sem graça, virou o rosto pra janela, o Estranho-no-Ninho criado pela avó falou algo surreal, a menina emendou um "Na boca né, tapado?!", eu tomei uma fechada, joguei o carro pro lado, rasguei o pneu num buraco, ralei as rodas na guia e estacionei vinte metros pra frente suando frio.

-Olha! Chegamos! Valeu! - e desceu do carro num piscar de olhos, seguido pela garota que desceu dizendo "Valeu coroa!" toda sorridente e pelo tipinho loiro que falou algo parecido com "Irrtizamaktajuvabelhiondernis.". Os três se reuníram com mais umas quinze outras aberrações da fauna urbana e entraram na boate. Eu, troquei o pneu, acendi um cigarro e depois que a hostess do lugar me perguntou que horas eram, eu perguntei que horas ela saía.

Casei com ela faz dois anos. Assinei meu divórcio faz dois meses. Jogo videogame até hoje.


quarta-feira, agosto 02, 2006


Ela sentou-se sozinha, novamente, no mesmo lugar de sempre, na mesma balada de sempre. Um lugar escuro, de iluminação bem precária, criando o clima soturno que tanto gostava. Me sinto em paz alí. Prefiro os maníaco-depressivos góticos aos playboys que sempre falam sobre os mesmos assuntos e, geralmente, não possuem poder intelectual mais avançado do que o de uma capivara.

Acompanhada, como sempre, por seu copo de plástico cheio de gelo, uísque de proveniência duvidosa e energético, ela fechou os olhos por um momento, deixando o som que vinha da pista entrar pela sua pele. Musica tem que ser ouvida pela pele, afinal. Murmurou o refrão e quando abriu os olhos ela viu o primeiro idiota da noite. Ele simplesmente tinha sentado na frente dela e antes que a bela solitária tivesse tempo de suspirar impaciente ele já emendou:
-É difícil ver uma mulher tão bonita sozinha num lugar desses. - sorriu ele, de um jeito mais canastrão que o Tarcísio Meira.
-Deve ser difícil para você ver qualquer coisa. Afinal, você nem se enxerga, imbecil. - retrucou ela, dando um gole pequeno no seu drink e segurando-o ao lado do rosto.
-Nossa! - fingiu um certo espanto o rapaz - Por quê tanta grosseria? Só estou puxando papo.
-Vai puxar é as tetas da sua mãe seu filho duma puta. sai da minha frente ou eu chamo o segurança.
-Jesus! - blasfemou o rapaz, agora realmente assustado - Que que é isso mina! Nossa...

Ele levantou soltando alguns palavrões a mais e deixou-a em paz, novamente entregue à bebida e à música. Porém o sossego de uma mulher atraente e bem vestida numa casa noturna dura pouco. Dura menos ainda se ela estiver sozinha pois, aparentemente, todo homem realmente acredita que a noite só é válida se você beijar alguém. E eles fazem de tudo para isso, incluindo pagar bebida, se fazer de idiota, implorar beijo, se passar por coitado, deitar, rolar e fingir de morto.
-Oi. Posso me sentar aqui? - disse o jovem, em um tom extremamente educado.
-Não.
-Por quê não?
-Porque eu não quero.
-Por quê você não quer?
-Pois eu vim sozinha para ficar sozinha. Se eu quisesse a companhia de uma criatura ignorante eu teria trazido meu cachorro.
-Você nem me conhece, como pode me julgar assim? Se liga! Larga a mão de ser grossa. - e a educação saiu pela janela.
-Eu perdi a parte onde ser grossa é um problema seu.
-Então fica aí vagabunda! Vaisefudê viu...

E a cada quinze minutos de paz outro aparecia e durava cerca de dez segundos com ela. Então a paz voltava. Era como uma tortura de eletrochoque: um pouco de paz e dez segundos de tormenta, intermitentes noite adentro. Seis doses mais tarde, no caminho até o bar e à sétima e derradeira bebida, esbarrou nele, derrubando sua cerveja barata no chão.
-Oops! Desculpa. - disse ela de sopetão, pondo a mão na boca, delicada.
-Desculpa o caralho. Empresta sua comanda que eu vou pegar outra. - respondeu ele, sem nervosismo algum, com o semblante de um soldado.
-Como assim? - espantou-se a moça.
-Nossa, além de destrambelhada é surda.
-Ei! Vai se fuder! Me trata com respeito! Te pedi desculpa!
-Porra, você que esbarrou em mim e agora quer ter razão? Pega outra breja pra mim e não reclama! - e suspirou - Puta mina mão de vaca ainda!
-Mão de vaca é a vaca da sua mãe cretino! Pinto murcho do caralho!
-Tománoseucu mulher! Baixa a bola ou eu rebento a sua cara!!
-Tu não é homem pra isso, palhaço! Me encosta um dedo e eu chamo o segurança e ele te arrebenta seu corno.
-Se eu te encostar o dedo cê vai chamar é uma ambulância putana!

Ela parou estupefata e irritada, olhando para seus olhos e querendo explodir por dentro. Porém a única explosão foi a gargalhada mútua dos dois desconhecidos. Rindo sob o fraco e sibilante brilho amarelado de uma vela até chegarem às lágrimas.
-Com licença, - pede ela ao barman - eu queria uma cerveja bem gelada.
-E um uísque com flash power pra mim por favor. - pede o rapaz, enxugando os olhos, ainda em alguns espasmos de riso.
-Prazer em conhecê-lo. Meu nome é Ângela.
-Sério mesmo?! Minha tia chama Ângela!
-Foda-se ela. Como você chama?
-Jefferson.
-Puta nome de favelado! Quer dançar?
-Hehehe, claro. Por quê não?

terça-feira, agosto 01, 2006


02h32min AM – Hora local. – Órbita alta de Archon Ren, planeta natal do Reino Xxcha

Dreadnought TEEARI, nau-capitania da frota de invasão Naalu.

Deslizando graciosamente pela ponte de comando a Almirante M´aban, observava o planeta sitiado abaixo. Aguardando pacientemente a resposta do governante dos Xxcha aos termos de rendição que ofereceu horas atrás, logo após aniquilar a pequena frota de defesa em órbita.
- Almirante, o rei Ccrysus aceitou nossos termos de rendição. - Disse, sem pronunciar uma palavra ou som, a sibilante oficial, mais atrás.
- No entanto, ele fez... Um pedido. - Concluiu com um pensamento sarcástico a jovem oficial Naalu, se aproximando.
Temidos pela galáxia por suas grandes capacidades telepáticas, a raça meio humanóide, meio serpente com característicos olhos azuis brilhantes usava sua voz somente em duas ocasiões, para se comunicar com outras raças, as quais sempre acharam inferiores, e para entoar lindas canções narrando glórias e conquistas do passado.
Sendo uma das raças mais antigas da Via Láctea, os Naalus já estendiam sua influência por centenas de mundos, enquanto a maioria das outras raças, ainda viviam em tribos ou mal haviam desenvolvido a capacidade primitiva da fala. Mas foi somente na metade das Guerras do Crepúsculo, que a civilização Naalu se fez conhecer para o resto da galáxia, com a ajuda da Guilda de Espiões Yssaril. E a partir daquele momento, colocar em ação seu plano de trazer ordem e beleza numa galáxia inundada com o caos da corrupção de raças medíocres.
Na ponte de comando, apesar da atividade intensa, o silencio era tão profundo quanto o silencio do espaço exterior onde flutuavam imponentes os 376 Dreadnoughts e naves de apoio que formavam a frota de invasão, ao todo 1128 naves de combate e 97 carriers, uma força sobrepujada em poder fogo somente para a frota defendendo o planeta natal dos Naalu, Druaa.
- E qual seria o pedido do nobre rei. – Pensou a Almirante em tom arrogante, para a oficial ao seu lado. Sem tirar seus olhos e sua mente do planeta abaixo.
Pairando como uma eterna cicatriz do passado, o planeta devastado de Archon Tau, surgia no campo de visão da ponte de comando.
- O rei solicitou doze horas padrão antes do envio de nossas tropas, segundo ele, para efetuar uma transição sem mais perdas de vida de ambos os lados. – Pensou a oficial, desviando brevemente o olhar para planeta gêmeo de Archon Ren, uma esfera cinza sem vida, devastado durante a invasão dos Letnev.
Ao sentir em sua mente, as palavras da oficial, a Almirante viu a última peça de seu plano se encaixar e sabia que seu objetivo estava próximo, projetando na coletividade telepática dos Naalu sentimentos harmoniosos de alegria, sarcasmo e satisfação.
Em Druaa, seus lideres sorriram ao compartilhar os pensamentos da Almirante junto com a certeza de que o reino Xxcha estava com suas horas contadas e a conquista de Mecatol Rex, a capital da galáxia, cada vez mais próxima.
- Diga ao nobre rei, que a líder da frota Naalu, Almirante M´aban, lhe concede esse último pedido. - Pensou M´aban, ao mesmo tempo em que sentia um breve pensamento de desaprovação, que a oficial ao seu lado tentou sutilmente esconder.
- Você desaprova esse curso de ação, oficial de Primeira Casta Erviic! Explique! – Ordenou a líder da frota. Logo abaixo, a estrela Xxlak se revelava atrás do planeta prestes a ser subjugado, banhando a ponte de comando com uma leve luz dourada, por alguns segundos a jovem oficial observou aqueles olhos azul safira com uma mistura de medo e profunda admiração.
- Com todo respeito Almirante, nós somos Naalus. – Pensou finalmente a orgulhosa jovem.
- Nascidos das Três Deusas Elementais e contemplados pela criação com a Voz da Mente Unida. Nossas tropas podem conquistar esse planeta ultrapassado em poucas horas, devemos atacá-los agora... senhora! – Concluiu a oficial, abaixando a cabeça em sinal de respeito e para não encarar novamente os faiscantes olhos de sua oficial superior.
- Admiro sua coragem, oficial Erviic. Mas lhe falta astúcia militar para perceber todos os aspectos de uma campanha dessa magnitude.
- Acompanhe-me e aprenda! – Ordenou a Almirante, erguendo lentamente o queixo da jovem oficial com a ponta dos dedos.

Baseado no universo de Twilight Imperium
Escrito por João Issa

quinta-feira, julho 06, 2006


Edgard sabia que aquilo tudo ia dar uma merda imensa. Era só pra ser uma brincadeira! Só curtição! Mas agora ele estava lá, espumando pela boca e tendo sérias convulsões. Mesmo ele tendo falado para seu novo amigo que duas pílulas era demais, o cara não ouviu. Sentia falta agora de amparo, de algo que surgisse do nada e parasse com aquela horrível sensação de desespero, de não ter a mínima idéia do que fazer. Se eu tivesse uma injeção de adrenalina eu aplicava que nem Pulp Fiction. Mas ele não tinha. Tudo que havia a sua volta era a barraca, as mochilas, a floresta e aquela doida varrida de cabelo roxo chorando e berrando como se o absorvente dela tivesse pegado fogo. Gritando alto que não queria ir pra cadeia. Mas até que o garoto estava calmo. Tinha certeza que se simplesmente deixassem o cara ali ninguém ia achar ele por um bom tempo. O moleque era um riquinho idiota que queria ser "descoladão". Os pais dele viajavam muito ao ponto de verem o filho uma vez por mês via webcam. Podia deixar ele alí que ninguém ia achá-lo.
-Vamos enterrá-lo. - disse Edgard descruzando os braços. - Daí a gente pega as coisas e cai fora. Só toma cuidado pra não deixar vestígios no corpo ou eles podem achar a gente. Já assistiu C.S.I.? Os caras são foda.
-Porra! Como assim? Como assim? - veio falando alto a garota, embasbacada com o que acabara de ouvir. - Você não pode tá falando sério! Enterrar o cara?! Porra! Ninguém merece! Enterrar o cara? Porra!
-O que você prefere fazer? Largar o cara aí pros bicho comer? Pelo menos enterra o fulano, dá uma geral na área e zarpa. Ninguém vai achar a gente. E na boa, o cara merece. Tinha perguntado pra mim o quanto será que você cobrava pra fazer um boquete pra ele.
Edgar achou que uma mentira inocente podia fazê-la mudar de idéia.
-Filho duma puta! - a garota correu e enfiou o coturno na boca espumante do rapaz, quebrando-lhe os dois incisivos. - Melhor que morra mesmo então! Corno safado, filho da puta. Moleque filho da puta. Sô vagabunda não tá ouvindo?
-Acredito que ele não só não está ouvindo, como agora é certeza que ele foi pra casa do chapéu. Se ligou que ele parou de tremer? Você matou o cara. Eu achava que você era meio burra, agora eu tenho convicção absoluta. O cara tá lá, tendo uma O.D. nervosa e você mete o pé nele? Agora vão achar que ele foi atacado.
-Porra! Mas... mas... aí... vamo enterrar então. - e ela começou a cavar um buraco com as próprias mãos.
-Na boa? Você que matou o cara! Você cava. Você enterra. Carol: mata mais morto.
-Meu! Vai si fudê! Como assim eu que matei!? Você que deu as porras pra ele tomar! Você que entorpeceu o cara e deixou ele zuadão!!
-Não é a marca do MEU pé na boca dele. - disse Edgard dando de ombros e começando a arrumar a mochila. O cara agora ta mortão por culpa tua. Enterra ele ou eu te delato.
-ÔÔÔ mais que merda! Merda! Merda! - reclama ela enquanto começa a cavar mais rápido.
O rapaz ficou mais tranquilo quando ela achou uma pazinha de jardinagem nas coisas dela e usou-a para abrir um buraco decente. Arrumou suas malas, fechou e dobrou a barraca e deixou tudo como se nunca ninguém tivesse passado por ali. O buraco que a garota cavara já podia facilmente esconder o corpo do outro jovem.
-Pronto. - disse a menina. - Agora só falta...
-COF! - o rapaz largado no chão dá uma tossida horrorosa, cuspindo sangue misturado com uma substância branca que ninguém alí sabia identificar o que era. Imediatamente a garota solta um berro estridente e bate com a pá diversas vezes no rosto do rapaz. Edgar põe a mão no rosto e balança a cabeça.
-Meu deus! Meus deus! Ele não tá morto! O filho da puta é o highlander! - diz ela em pânico. - Me ajuda a por logo o cara na cova! Pelamordedeus!!
Edgar concorda bravo e se agacha para pegar as pernas do rapaz.
-Eu vou pegar pelas pernas você pega pelos brAGH!!!! - o som da sua voz é subitamente interrompido quando a pá de metal atravessa sua garganta. Ele cai inerte dentro do buraco aberto enquanto seu sangue se espalha pela tumba. Carol empurra o outro por cima dele e começa a cobri-los com a terra, seu nervosismo agora inexistente, tendo se dissipado no ar junto com o perfume das Damas-da-noite.
Dá três batidinhas com a pá sobre o monte quando termina. Durmam bem rapazes.
Ela pega o dinheiro e os objetos de valor das mochilas deles, retira a peruca roxa e desenrola o coque negro, ajeita a roupa e joga as luvas transparentes no meio de um arbusto. Caminha para norte, contando valores, cantando baixinho a última música da Britney Spears e lembrando que amanhã ela tem uma difícil prova de física. Quando chega na estrada, pede a Deus que uma carona não demore para passar.


quarta-feira, junho 28, 2006


O primeiro soco me atingiu como um caminhão de cimento em alta velocidade. Deu para ouvir o estalo do maxilar trincando a duas quadras de distância. O segundo foi bem mais leve, pelo menos. Ou eu que estava já com o rosto todo amortecido. Nem vi todos os outros subsequentes. O mundo escureceu, a calçada tornou-se minha melhor amiga e o som ambiente passou a ser uma sinfonia afônica sem ritmo. Depois de alguns minutos recobrei a consciência, mas percebi que ainda estava no breu, em algum lugar muito escuro. Levantei-me, extremamente disposto, e andei, para lugar algum, numa direção que eu jurava que era o norte. Por que todo mundo vai pro norte quando está perdido? Enfim, andei por um bom tempo, tentando raciocinar onde eu estava. Estava frio, isso sim. Bem frio. E bem escuro. Normalmente eu estaria desesperado pela situação, mas eu não estava e não sabia explicar por que. Mesmo quando um brilho forte apareceu ao longe e uma voz vinda do além proferiu "Vá para a luz!" eu não desesperei. Fiquei puto, mas não entrei em pânico. Puto porque eu comecei a perceber que eu tinha morrido. Porra, me mataram na porrada. Que merda. Jeito idiota de morrer. Por causa de uma briga idiota num bar idiota sobre uma mina idiota. E o legal era a sensação de que estava tudo ok. Achei que quando eu fosse mesmo para a casa do chapéu eu fosse ficar doido. Mas nem era bem assim. Era uma sensação bacana até. De liberdade sabe. Sair da rotina, não precisar trabalhar novamente, essas coisas todas.

Parei no lugar. Virei de costas para a luz e comecei a caminhar no sentido contrário. Na boa, morrer o cacete. O cara bateu na minha cara. Vou achar aquele desgraçado e...
-E o que? Bater nele? - escutei, em uma deliciosa voz feminina - Vingar-se por um propósito incoerente?
-Minha família vai sentir minha falta. - disse eu, para o nada, parado no lugar - Preciso voltar.
-Você não tem família para cuidar. Você tem no máximo um punhado de amigos que não lhe são fiéis.
-Eu trabalho amanhã. Meu chefe vai ficar puto se eu não for.
-Você entrega cartão em estacionamento de supermercado. Ninguém vai sentir sua falta por mais de dez minutos.
-Eu esqueci o gás ligado. Uma faísca e BUM! pra vizinhança.
-Tudo o que você tem na sua casa é um forno elétrico e um microondas.
-Ahhh... foda-se. Se eu continuar andando você vai me parar?
-Claro que não. Você morreu. Tem toda a liberdade do mundo para ir para onde quiser.
-Beleza, então até mais. - e continuei andando para longe de lá.

Andei muito. Ao ponto de não mais ver a luz. E mesmo ainda estando tudo escuro, certos pontos no breu me davam prazer, alguns outros tristeza, como se eu estivesse vagando pelo mundo mas não conseguisse enxergá-lo. Acho que eu andei pra lá e pra cá por dias. Meses. Anos. Nunca mais encontrei a maldita luz. Tudo por causa da vingança besta que eu achei que podia ter. Quando eu dei por mim e finalmente percebi o que tinha acontecido, fiquei irado! Sem nome, sem rosto e sem fazer a menor idéia de onde eu tinha parado meu carro.


quarta-feira, junho 14, 2006


Cristina conheceu Roberto na locadora e por mais esquisito que pareça eles começaram a namorar e casaram ano passado, na igrejinha da esquina do bairro onde mora a Roberta, que foi namorada do Roberto há uns dez anos atrás. Eles eram um casal muito bacana, Roberta e Roberto, todo mundo brincava com o casal, dizendo que eles podiam montar dupla sertaneja. Quem mais zoava era o Marcos, irmão de Roberta, que trabalhava com a Angela, a mesma que tinha ficado super bêbada com a vodka que a Laura trouxe na festa da Adelaide, amiga dela da faculdade, e acabou ficando com o Paulão que todo mundo falava que beijava mal pra caramba, pior que o Nelson. Mas não é pra menos, pois o cara apesar de bancar o gostosão, só tinha ficado com uma menina na vida dele inteira, a Maira, que acabou se assumindo lésbica alguns meses depois, no dia seguinte de ter trocado uns beijos comigo. O engraçado é que eu só contei pro meu melhor amigo, o Helio, e o porra contou pra todo mundo por que achava que duas meninas juntas era, nas palavras dele, "o maior tesão". Idiota! Assim que caiu nos ouvidos da cretina da Cibele ela ligou imediatamente para aquele amigo do Zé, primo da Adelaide, que era super afim de ver duas meninas juntas e veio todo cheio que querer ser o descolado pra cima da gente. Ainda bem que ninguém deu muita bola e o caso abafou, também por que ninguém se metia a besta com a nova namorada da Maira, uma doida de cabelo pink e cheia dos piercings que todo mundo chamava de Natasha. Mas ninguém na verdade sabia o nome dela. Devia ser Emengarda ou algo ridículo assim, pois fala sério aquele cabelo! Mas super engraçado foi quando a gente descobriu que a Natasha tinha trabalhado a muito tempo na locadora do seu Jorge, pai do roberto. Pegamos a foto dela e pedimos pra sobrinha do Paulão, a Viviane, que tinha ficado super amiga da Angela depois do ocorrido com o cara, colocar a foto antiga dela toda comportada de aparelho no site do Carlos, amigo dela, que tinha um endereço super legal que todo mundo acessava. Até que o elo mais fraco da corrente, o Edgar, padrinho de casamento da Michele, namorada do Carlos, que tinha conhecido a Maira na balada, deu o endereço pra ela e falou que achava sacanagem, na verdade foi filho da puta pois ele queria catar ela depois de ter tentado ficar comigo e com a Clau e não conseguido nada. Mancada super grande pois o inferno comeu solto depois disso: a Natasha catou uma faca da cozinha do Renato, e quis dar uma de porra louca pra cima da Viviane, achando que a idéia era dela e quando o Paulão foi tomar da mão dela, ela cortou o cara. O bicho ficou louco de raiva e deu um soco na cara da menina fazendo ela desmaiar na frente da boate que o Felipe frequentava! A Maíra ficou possessa e já foi aloprar o cara, chamando a Angela de vagabunda no processo e arrumando uma puta briga com o Marcos que pagava um super pau pra ela e foi defender, que nem quando Fabricio defendeu a Katia. O pior foi quando a Adelaide, que tava só de passagem foi pega pra cristo no meio do pega e levou uma garrafada no rosto. Ficou horrível. Tadinha. O foda foi ela querer se vingar e bater de leve com o carro na menina e acertou a menina errada: a Roberta, ex nora do seu Jorge, e mandou ela pro hospital. Quando ela chegou no hospital ela ainda deu escândalo, gritando que a Dra. Cristina, que trabalhava com a Fabi, tinha roubado dela o único amor da vida dela. Deixou a doutora super nervosa, tanto que ela errou a dose de remédio calmante pra guria e pos a coitada em coma. Robertão achou que ela tinha feito de propósito e separou dela, dizendo que ela tinha surtado. Poxa, super chato. Eles tinham sido casados ano passado, pelo padre Mauricio, na igrejinha da esquina, do lado da livraria onde eu comprei meu primeiro livro do Bocage.

Roberto, Adelaide, Paulo, Maira, Mauricio, José, Natasha, Jorge, Fabricio, Carlos, Edgar, Michele, Renato, Laura, Marcos, Cristina, Viviane, Fabiana, Angela, Roberta, Cibele, Patrícia, Helio, Felipe, Nelson, Claudete, Katia. Todos nós. Retratos coincidentes na galeria caótica do mundo.


quarta-feira, junho 07, 2006


Verborragia. Hemorragia mental.

Nada em volta faz sentido quando tudo parece se encaixar perfeitamente, dente por dente, na engrenagem repetitiva da humanidade. Assistindo ela se desgastar e ruir sob o poder implacável do tempo, como qualquer outra máquina, fadada à destruição e futura reposição. Reciclagem. Restabelecendo-se por conta própria. Nada faz sentido. As intenções e vontades humanas não fazem sentido. Quando você é rico e tem de tudo sua alma ainda pede mais. Quando você é pobre se pergunta por quê. E na corda bamba entre os dois extremos, assistindo alguns tombarem e outros acenderem violentamente você imagina o quanto o mundo é perversamente surreal. Estamos todos mortos talvez. Talvez isso seja na realidade o inferno, onde todos têm de trabalhar cinco ou seis dias para se divertir e descansar um. Onde nos sentimos sempre obsevados pela intangível figura paterna criada pela religião. A figura que irá nos punir se nós fizermos o que desejamos e não o que ela permite. Um mundo de regras, sem a harmonia natural da natureza. Não somos naturais. Não somos bichos. Não fazemos parte do mesmo mundo que o resto dos seres vivos. Somos os mais frágeis, os mais covardes e temos ainda a desvantagem de saber disso.

Cada vez mais sangue escorre das páginas do jornal, das palavras do radialista, da tela da TV. Chamam isso de notícia quando deveriam chamar de apelo, de aviso, um mundo decadente gritando para ser salvo enquanto insistem em destruí-lo. Nós. Humanos vivendo no fio da navalha esperando a hora onde seremos resgatados deste pesadelo repetitivo do dia-a-dia, desta rotina viciosa que não nos deixa viver. Soneto luminoso na página esférica da humanidade.


quinta-feira, maio 25, 2006


Eu tava morrendo de fome, quase meia noite, no quarto daquele hotel cinco estrelas em Nova York. Não pensem que sou rico, muito pelo contrário. Vim fazer um trabalho besta aqui na cidade e o cara resolveu pagar o quarto dum hotel decente. Meu chefe ia me por numa pensão se dependesse dele. Mas o tal figurão que pediu o serviço insistiu. Daí eu vim. Tirei a porra do visto e vim. Coisa que acontece uma vez na vida outra na morte ter de viajar pra fazer alguma coisa do tipo. Não falo inglês direito. Nada além do básico. E naquela noite o desgraçado que me traduzia as coisas foi dormir cedo. Quase meia noite. Eu morrendo de fome.

Vesti qualquer coisa. Saí do quarto com a cara amassada de ficar na cama o dia inteiro. Tínhamos acabado o serviço e eu estava no meu "dia livre". Grande coisa. Com o frio que tava lá fora não dava pra por a cara na rua. Daí saí todo desleixado pelo corredor, atraindo o olhar repugnado dos outros hóspedes chiques do hotel. Não tava nem aí. Ia ver se no restaurante do lobby eu conseguia apontar pra algum prato e ter uma refeição que não fosse outro hamburguer. Apertei o botão do elevador e esperei a suave campainha fazer o "plim!" dela. Cabisbaixo, na minha, a porta abriu e eu entrei, percebendo que havia mais alguém no elevador mas nem dando a mínima. Ia apertar o botão do lobby mas já estava aceso. Encostei o ombro na lateral enquanto a porta fechava e ia simplesmente aguardar a longa descida de trinta e cinco andares que me separavam da minha janta, quando percebi pelo reflexo do metal do painel que era uma mulher atrás de mim. Uma loira. Não dava pra enxergar direito mas parecia ser gostosa. Como todo bom macho, fingi aquela tossida somada a uma coçada no nariz pra espiar pra trás, subindo rapidamente o olho sobre ela. Pernas lindas, um quadril fenomenal, cinturinha deliciosa, um par de seios perfeitos e um rosto que... "OH MEU DEUS!!! PULTA QUE PARIU É A SYLVIA SAINT!!!", pensei eu rapidamente virando o rosto pra frente. Tossi de verdade enquanto a avalanche de pensamentos sórdidos correu pela minha cabeça. Todas as cenas. Todas as posições que eu já havia assistido ela fazer na tela da TV. Todas as incontáveis punhetas que eu dediquei pra ela. "Caralho! É a Sylvia Saint! Niguém vai acreditar quando eu contar!! Puta, preciso dum autógrafo!". Mas daí a ter coragem de virar pra trás todo mulambento como eu tava e pedir um autógrafo era outro papo. O elevador então começou a descer super rápido. Na verdade na mesma velocidade lerda de sempre mas pra mim estava a mil por hora. Não ia dar tempo. "Faça alguma coisa, seu imbecil!". Porra, fazer o que? Virar pra ela e falar "Dá um autógrafo?", muito simples. "Assina a minha 'chapeleta' por favor?", hahaha Legal mas eu ia tomar um murro no olho e ser chutado do hotel. Cacete... não vai dar tempo. Daí sem mais nem menos eu dei uma corajosa olhada pra trás e disse baixinho:"Sfigkmmn asrnavirnsa..." e virei pra frente de novo. Suando frio. Tenso. "Caralho, imbecil, fala algo coerente!" Ela devia estar me achando um idiota. Décimo andar. Porra. Pede logo ou daqui a pouco ela sai andando e você vai ser mais um ninguém na vida dela. Nono andar. Virei de novo e perguntei: "Opa, tudo bom?" com aquele sorriso amarelo e sem graça. Ela respondeu algo ininteligível, curiosa mas sem esboçar qualquer tipo de reação amistosa. Lógico... a mina nasceu na Czechoslovakia e você espera que ela entenda português. Eu tremia perante a oportunidade de dizer pra todo mundo que eu conheci a Sylvia Saint e ferrei com tudo. Daí inevitavelmente veio a imagem do elevador quebrando e eu preso com ela lá dentro, trepando por horas até alguém vir nos socorrer. Socorrer uma porra! Eu mato na chinelada o primeiro bombeiro que botar a cara aqui pra dentro e tentar me tirar de cima dela. "Não! Pára de pensar asneira! Quarto andar!! Vai logo!! Fala algo direito! Olha ela nos olhos e haja como um HOMEM! Diz pra ela com classe que você queria foder com ela dentro do elev... NÃO!!" e as vozes na minha cabeça diziam pra eu estuprá-la, que nesse caso o delegado perdoava. Outras diziam pra eu largar mão de ser um adolescente cheio de hormônio pra dar e ainda ouvia as que diziam pra eu ignorar tudo, que ela era MUUUUUITA areia pro meu caminhãozinho de dois eixos. Caminhão, ha!... era quase uma Towner! "Mas se bem que naquelas towners de cachorro quente cabe muita coisa e... PORRA! A SYLVIA! Volta pra Sylvia! Terceiro andar!!" Daí eu caí no desespero. Fechei as mãos perante o peito e rezei pra Deus ser brasileiro. Eu precisava de mais tempo e brasileiro que é bom quando a coisa aperta não pensa, reza.

De repente a luz apaga e o elevador para! Estupefato eu ergo os braços pro ar e deixo escapar um audível "YYYYYYEEEEESSS!!!!!" já pensando em quantos Pai Nosso eu ia rezar antes de dormir e quantas promessas ia pagar quando ela vira pra mim e diz algo do tipo: "Seems like your dreams have come true, huh?" Eu fiquei muito sem graça e me achando um imbecil. Mas pelo menos o papo tinha começado. Daí pra trepada da minha vida com a Sylvia Saint dentro do elevador eram dois palitos. No escuro total eu perdi a inibição. Respirei fundo, virei na direção dela e disse: "Im sorry if I seem to be too excited. Its just that this kind of situation is extremely unsual to be true. Its the stuff that dreams are indeed made of." Realmente eu não sei da onde aquela frase saiu. Além de parar o elevador Deus me dá o poder de falar inglês direito. Ou sei lá. No desespero era capaz de eu ter falado aquilo em tcheco ou russo. Fala sério, por ela eu falava em mandarim fluente. E então ela dá um risinho bobo, daquele jeitinho inocente que ela dá antes de ser enrabada por um brutamonte nos filmes. Agora vai!

Mas a luz do elevador volta a acender. "O QUÊ?! NÃÃÃOO!! GERADOR FILHO DA PUTA!!" Tá vendo. Tudo que Deus dá o homem estraga. Quem inventou o gerador de energia devia morrer em chamas. Queima no inferno bastardo. Eunuco do cacete! E as imagens voltam com força total: ela apoiada na parede, ela no chão, ela pendurada no teto, ela de ladinho no tapete e "PLIM!" chegamos no lobby. A porta abre e ela sai, sem dizer nada, dando só aquela olhadinha pra trás, misturando dó com compaixão. "Tchau, Sylvia. Nunca te esquecerei." Nem consegui sair do elevador. Só voltei a pensar direito quando um dos técnicos do hotel, um negão de 2m x 2m carregando o cinturão de ferramentas entrou nele e apertou 'cobertura'. Provavelmente pra testar se o funcionamento tava OK. Não tive tempo de sair e começamos a subir. E aqui estou eu, o homem que desceu com a Sylvia Saint e tá voltando com o técnico. Cruzo as mãos perante o peito e rezo então: "Deus, se essa merda apagar de novo eu juro que eu me converto muçulmano."

A luz apaga como se de propósito. Eu grudo de costas na parede do elevador e tento me lembrar pra que lado fica Mecca.


-Vai cara, pula logo.
-Péra lá, to tomando coragem.
-Vai logo, daqui a pouco os guardas estão aí e a gente tá pego.
-Calma lá, são doze andares bicho, não é tão fácil assim.
-Mas são doze andares pra baixo imbecil, você só vai pular os dois metros que separam os prédios.
-Mas e se eu tropeço antes de pular? Posso morrer por não estar preparado, e porque você não vai indo na frente que eu te alcanço, fica ai me apavorando, eu fico nervoso e não consigo.
-Bicho não é possível, estamos aqui à quase vinte minutos, eu cheguei e pulei direto, porque você não pode fazer o mesmo? Tem que ser tão frouxo assim?
-Olha aqui, não seja ignorante nem impaciente, assim que eu tomar fôlego eu pulo.
-Fôlego? Fôlego? Você deve tá de brincadeira, você que teve a maldita de idéia de fazer este roubo imbecil!! Daí chega lá não tem porcaria de jóia nenhuma, não tem dinheiro, não tem obra de arte, ou seja, trabalho e tempo perdido! Até a porra da cerveja daquela casa estava quente!! Agora eu to aqui, sem dinheiro, sem jóias, sem obras de arte, com uma cerveja revirando meu estomago e o bunitinho com medo de pular míseros dois metros... é o caralho mesmo.
-Aí ta vendo, você fica nervoso, desconta a bronca em mim, assim eu fico nervoso também e não consigo pular.
-Na boa, vou contar até três, se você não pular eu vou embora, e se a policia te catar e você me dedar e eu for preso contigo, sabe o que vai acontecer né? Vou dizer prá todos na cela que você é cagüeta, aí você vai ter motivo pra agir que nem bicha.
-Péra ai, me deixa calcular a distância.
-Um.
-Calma lá, caralho, precisa ser bem estudado!
-Dois.
-Acho que daqui ta bom.
-Três.
-Tá bom. Aqui vou eu... - ele começa a correr na direção do vão. Seu amigo grita em pânico.
-CARALHO!! OLHA O CANO SOLTO!!!
-PUUULLLLLTAAAAAQUIPAAAARIUUUUUAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaa.....

Written byEdson Cruz

terça-feira, maio 16, 2006


-Era quase um crime ela ser tão gostosa. Estilinho de secretária, cabelo preso, óculos com aro escuro, corpo escultural revestido pelo terninho feminino, taier, sei lá. E ainda por cima a maior cara de sem vergonha possível. Sabe? Aquele tipo de mulher que quando passa é impossível você não olhar. Devo ter batido umas dezoito punhetas pra ela. Mas o mais foda de tudo era saber que ela já tinha dado pra metade do departamento. Sério! Tenta entender meu lado! Porra, por que que ela trepava com tudo quanto era cara que chegava nela e não comigo? Tentei tudo quanto é tipo de xaveco e só recebi "não" de volta. Comprei presente, mandei flores, escrevi carta de amor, tudo essas porras e ela insistia que só me queria como amigo. Vai se foder, que amigo o quê? E aquilo foi crescendo dentro de mim, aquele puta ódio. Quando meu melhor amigo veio pra mim num dia ruim e falou que tinha comido ela de tudo quanto era jeito eu pipoquei. Surtei total, sabe? Catei o carro na mesma hora e fui até a casa dela. Toquei a campainha e assim que ela abriu a porta já dei na cara dela e entrei. Ela tombou pra trás com o tapão e eu xinguei a vadia de tudo quanto é nome: piranha, safada, vagabunda, falei que ela tava tirando uma com a minha cara e etc.. Pulei pra cima dela pois eu tava fora de mim. Ela se debateu e gritou um pouco, mas eu tapei a boca dela e já fui tirando as calças...
-Você tentou estuprá-la e acha isso normal? Quer que eu te dê razão? - disse o delegado severamente, apoiando o queixo na mão direita.
-Calma, deixa eu terminar. - continuou o rapaz - Daí quando eu pus pra dentro, ela parou total! Parou de se debater e tudo e começou a curtir a coisa. Deu um sorriso mega-safado e começou a gemer gostoso, arranhar minhas costas e o escambau a quatro. Doutor, fizemos de tudo. No sofá, na cama, em toda superfície da casa dela. A mulher era incansável. E ela falava todo tipo de besteira, um monte de palavrão, que era para eu me entregar pra ela e tudo mais. E, porra, no barato todo que tava eu disse que me entregava mesmo e todo o bla bla bla que ela queria ouvir. Daí como ninguém é de ferro eu apaguei total depois da última que a gente deu. Quando eu acordo, eu to amarrado naquela sala que eu te falei, cheia de corrente e uma coisas muito macabras pra tudo quanto é lado. Eu tava amordaçado e acorrentado, pendurado no teto. Daí me entra um monte de gente encapuzada, carregando um monte de faca e objetos de sex shop, sabe? E advinha? Fizeram comigo o diabo todo que nem quero lembrar. Me enfiaram aquelas porras, me cortaram com faca, me fizeram cheirar uma merda dum incenso que me deixou grogue pra cacete e etc. Você já sabe que eu só acordei aqui hospital, todo fudido, estuprado, rasgado, depois do cara que me achou na rua. Eu to contando tudo isso pois eu fiz parte de um ritual bizarro que vai ficar marcado na minha memória por muito tempo. Então eu quero que você prenda aquela puta. A vadiona me fodeu legal. Os médicos disseram que eu só vou sair daqui em um mês e que nunca mais vou poder ter ereções ou inclusive andar direito. Então eu quero indenização. Conto com você doutor.
-Muito bem. Bom saber que você lembra de tudo. Isso fará uma grande diferença no tribunal. Mas me diga uma coisa... que desculpa você deu pra sua mulher?
-Bem, eu falei pra ela que eu tinha sido atropelado.
-Entendo. Inclusive é o que está marcado aqui no relátorio. - ele suspira e sorri, olhando para o homem na cama - Só não sei porque você me contou tudo isso com todos os detalhes. Achei que você fosse inocente.
-He, he... bom, ninguém é perfeito. Eu nunca disse, na verdade, que eu era inocente, entende?
-Claro que eu entendo. Afinal, eu nunca disse, na verdade, que eu era da polícia.

Sob os olhos espantados do paciente ele saca a arma com o silenciador na ponta e dispara duas vezes. O monitor de vida não faz barulho, pois fora desligado enquanto ele se empolgava com a estória. A porta do quarto abre e uma belíssima mulher entra no quarto. Ela vira para o suposto delegado e diz:
-Desculpa. Depois do ritual eu tinha certeza que ele estava morto. Não vai acontecer novamente. Prometo.
-Tudo bem, meu anjo. Não tem problema. Sabe que eu estou sempre à disposição. - ele põe a arma nas costas, presa nas calças e continua - Ok, são cinco mil, como de costume.
-Sem problemas. Posso te dar um cheque? Ou você prefere algo mais íntimo?

Eles saem do quarto abraçados e rindo um com o outro. Param em um bar para tomar uma cerveja e vão para a casa dela, onde ela prova que a decisão dele de não preferir o cheque vale cada centavo.

domingo, maio 07, 2006



Ela já andava se sentindo sozinha por meses. Talvez até sozinha demais, literalmente. Não que isso seja desculpa para cometer adultério, mas as vezes nossos instintos e vontades se misturam num pensamento entorpecente que não conseguimos controlar. E quando ela o viu, alí sentado no canto do Café, lendo o jornal do dia às oito horas da noite, usando aquele chapéu, ela foi dominada por uma sensação de graça e interesse. Foi sim, mais forte que ela. E o mais interessante era o fato de ninguém reparar que havia um homem de chapéu e terno, num Café em pleno centro, lendo jornal. Ele era sensual e exótico demais para não ser reparado. Lembrava um quadro de Rembrandt. Foi como acontece nos filmes: quando ela deixou escapar um sorriso, ele ergueu seus olhos acima do jornal e a viu. Com todo charme de um gentleman inglês ele imediatamente dobrou sua leitura sobre o colo e levantou-se, caminhando como se flutuasse por entre as mesas, até parar ao seu lado.
-O prazer de seu sorriso à mim oferecido é algo que não tenho a muitos anos, madame. Agradeço e desejo retribuir tal gentileza com uma taça do champagne de sua preferência. - disse ele com um sotaque inglês fabuloso. Ela aceitou e fez o pedido, deliciando-se com champagne fora de uma data comemorativa. Não precisou de muito tempo para que todo aquele divertimento exótico se transformasse em romance. Ela disse que se chamava Dominique. Ele respondeu beijando sua boca de um jeito que ela nunca pensou ser possível. Não existem palavras que possam descrever o jorro de adrenalina que aquilo lhe causou. Eles deram as mãos, pagaram a conta e foram para o seu apartamento. Um apartamento chique e muito espaçoso, comprado com o bom dinheiro que seu marido ganha de salário. Mas ele viaja muito. Ele a deixa sozinha. Muito.

Dominique não sabe exatamente o que aconteceu. Foi mágico. Talvez fosse a bebida, talvez o poder de sensualidade de seu amante. As mãos dele sobre sua pele não causavam a sensação de estar fazendo algo errado. Era natural. E, por deus, como era gostoso. Atingiu mais de oito orgasmos em menos de uma hora. Seus pensamentos caíram num turbilhão fantasioso de imagens incoerentes e ela pode jurar que tocou o firmamento. Demoraria dias para conseguir parar de sorrir. Ou talvez não. Quando escutou a porta da sala se abrindo e a voz dizendo: "Querida! Cheguei!" ela entrou em desespero. Saltou da cama como se estivesse sob ameaça de vida e começou a tentar, desajeitada, colocar uma roupa qualquer. Seu amante sentou-se na cama, calmo e com o mesmo olhar sóbrio de sempre. Ela gritou baixinho, sem saber o que fazer:
-Vista-se! Faça alguma coisa! É meu marido! Meu deus! Faça alguma coisa!
-Acalme-se Dominique. - disse o homem - Você não fez nada de errado.
-Como não!? - perguntou ela ríspidamente - Desde quando adultério não é errado?
-Simples, minha doce senhora. - respodeu ele - Quando você não sabe o que fez.
A porta do quarto abre de repente e Dominique em desespero olha para seu esposo entrando no quarto e profere a frase mais clichê que lhe vem à cabeça:
-Não é o que você está pensando, amor!
Seu marido olha para os lados e diz, com expressão de dúvida:
-O que não é? - olhando para os lados e voltando a olhar para ela.
Ela se vira rapidamente para trás e vê a cama vazia. Fica por quase um minuto em silêncio, trêmula, remoendo pensamentos sem sentido. Então ajoelha-se no chão e se põe a chorar. Seu marido a abraça e pergunta o que houve. Ela lhe diz que se sente muito sozinha. Eles se beijam e tudo volta ao normal. A rotina entra nos eixos e em poucas semanas ela esquece do episódio do homem de chapéu. Apenas irá se lembrar novamente do ocorrido daqui a três meses, quando o médico lhe informar sobre sua gravidez.

terça-feira, abril 25, 2006


Ele ficou confuso quando ela lhe entregou o bilhete e sumiu no meio da multidão, desaparecendo enquanto ele olhava o estranho papel dobrado. Quem era ela? O cabelo era familiar, mas sua voz dizendo: "Não pare. Mova-se!" soou completamente nova. Sim, ela era muito bonita. Bonita estilo modelo de lingerie. Saiu imediatamente do meio da calçada e segurou a pasta entre as pernas, usando as duas mãos para desdobrar o bilhete. Leu devagar, decifrando a letra corrida. Espantou-se. Aquilo não podia ser verdade! Tal situação nunca ocorrera com o homem de vida simples que ele era. Na verdade aquilo só acontece em filmes! Colocou rapidamente o bilhete no bolso do casaco e correu, esbarrando em todo mundo, largando a pasta alí mesmo no canto da calçada.

Direita ou esquerda? Ele precisava encontrá-la! Se fosse verdade o que estava escrito, aquilo podia mudar sua vida por completo! Uma guinada selvagem do destino que muitas pessoas não percebem quando acontece. Ou não tomam iniciativa e a oportunidade passa. Direita ou esquerda?! Pensa ele rápido quando chega na esquina. Algo em seu estômago grita esquerda mas o longo penteado reluzente que passa de relance à sua direita o obriga a seguir por aquele caminho. Será que ela entrou na danceteria de fachada neon no final da rua? Provável. O perfume dela entrou pelo menos. E ele entra também. Paga a entrada e vai para a escuridão intermitente da pista. Em sua ansiedade instintiva, tenta olhar para toda e qualquer pessoa lá dentro. Mas são muitas. Não existe possibilidade de encontrá-la. Quando tudo parece perdido, o perfume dela acerta seu rosto como um tapa. Imediatamente ele vira para o lado, a tempo de enxergar a porta do banheiro unisex se fechando. Desvia de mais um punhado de pessoas e passa apertado entre as mesas de pedra para chegar lá, mas é barrado, tendo sua cintura firmemente segura por um outro homem, grande, musculoso e careca. Ele olha bravo para seu novo obstáculo e se espanta com o tamanho do rapaz. "Hey! O que você quer cara?!" pergunta áspero. "Você está sozinho, gato?" responde o outro. "Sai fora! Não curto homem!" Grita ele, se desvincilhando do rapaz e voltando-se novamente para o banheiro.

Mal a porta bate atrás dele e ele já se pergunta por que o banheiro tinha que ser tão grande!? Tinha umas trinta pessoas lá dentro e ainda mais entrando e saindo. Maldição! Onde está ela!? Eu preciso encontrá-la! Pensa ele. Pega novamente o bilhete em seu bolso e torna a lê-lo, desacreditando em sua mensagem. Morde a ponta do papel e percebe que está passando por uma severa crise de ansiedade desesperadora. Daí ele percebe um par de pés solitários sob a portinhola de um dos toaletes. Aproxima-se dois passos e sente aquele perfume. Sem perguntar nada, empurra a porta e lá está ela. Impecável. Maravilhosa. Seu rosto é o rosto que anjos devem ter. Entra sem dizer uma palavra e beija sua boca, insandecido, borrando seu batom e colocando as mãos por baixo de sua saia. Beija seu pescoço enquanto sente o calor molhado nos dedos. Esfrega a língua no céu da sua boca e arranha suas costas, fazendo ela gemer baixinho. Por que o bilhete, afinal? Qual era a mensagem subliminar alí? Não podia ser verdade o que parecia!

Alguém bate forte na porta, duas vezes, mas ele não liga. Tudo o que ele quer é viver naquele paraíso de mulher. Que rasguem seu registro geral pois ele não quer mais voltar para o mundo. E ela agradece, baixinho, sussurrando em seu ouvido. E eles se beijam mais uma vez. E ela fecha os olhos e seu corpo amolece, sentando no vaso sanitário imundo, seu vestido embebido em sangue. Ele respira fundo e tapa a própria boca para não gritar. Quando olha para trás percebe os dois pequenos buracos na porta. Percebe pessoas gritando lá fora. Percebe a visão anuviar. Percebe que um anjo veio lhe buscar.


Neurose - do Gr. neûron, nervo
s. f., -- perturbação mental ou emocional, cujos sintomas se manifestam por um comportamento obsessivo, tal como raiva excessiva, medo, ansiedade ou ódio sem razão aparente.


Perturbada o cacete!
Queria viver vida de balada, só isso. Pois cada vez que eu saio só encontro motivos para não ir trabalhar no dia seguinte. Impossível não beber alguma coisa para acompanhar o entorpecimento emocional que a música causa. Daí no meio daquele bando de imbecil que vem me xavecar sempre aparece algum que presta. Beijos diversos depois e muita música e muita bebida e muita diversão chega a hora de ir embora, dormir duas horas, tomar aquele banho gelado para tentar deixar uns dois ou três neurônios ativos e ir pro trabalho. Olhar pra cara daquele povo péssimo, mal humorado, que odeia a própria existência mas não faz porra nenhuma pra mudar. Odeio todo mundo lá. Principalmente o idiota do meu chefe que acha que é o bambambam e fica olhando toda mulher que passa de saia na frente da baia dele. Tipo, acorda! Se liga! Se eu der bola pra você o que você vai fazer? Rolar e dormir em vinte minutos? Que saco! É que nem cachorro correndo atrás de carro: quando alcança faz o quê?! Nada! Não que todos eles tenham feito algo contra mim, mas como me irrita essa galera com suas rotininhas padrão e nada de interessante pra contar. Odeio todos eles. Odeio o ócio, e principalmente a ociedade inerente dos rotineiros.

Sabe? Queria um homem de chocolate. Seria um adicional interessante ao hobby de roer unhas e passar a mão no cabelo. Não por motivos específicos, só queria um. Morro de medo de morrer sozinha. Tenho síndrome de Peter Pan e acho isso legal. Envelhecer suck! Por exemplo acabou a balada. Fala sério, mulher de mais de quarenta dançando é uma "tia doida" na pista. Ridículo. Total. Inclusive os homens precisam fazer alguma coisa a respeito da própria imagem. Boné ou toca + bermuda + camiseta de dez reais não rola. Sinto pena do ego feminino daquelas que caem nesse tipo de desespero. Esse tipo de embalagem já mostra a completa inadimplência intelectual. Nada vai vir de bom dalí. O máximo que você pode esperar é um "Fala garota!" em substituição pelo usual "E aí mina?". Patético. Odeio frases feitas, odeio fim de balada. Vou morar num daqueles países que a noite dura 3 meses. Isso sim é um after hour. Daí os próximos três eu passo dormindo pra me recuperar. Melhor do que ficar sentada nessa mesa estúpida olhando prum computador estúpido fazendo coisas estúpidas para conseguir uma miséria estúpida que paga a balada. Não vejo a hora de dar cinco horas e cair fora daqui. Daí não vejo a hora de chegar quinta pra cair na gandaia pública e sexta pra alguma festa particular. Pra que esse monte de mulher compra roupa se não sai de casa? Pra ficar bonita pro namorado!? Se liga. Mentira! Mulher se faz bonita pro mundo, nunca prum cara só! Mulher mesmo não dá pra ninguém a não ser pra ela mesma. Dá oportunidade de intercurso. hehe.

To pirando a cada dia que passa com essa sequência de asneira que eu escuto sair da minha boca. Mergulhando cada vez mais fundo num lago amplo de hipocrisia e mentira atrás de mentira. Desse mundo merda que todo mundo vive cheio de violência e tragédia na TV, jornal, enfim, na mídia toda. Encher a cara e esquecer do mundo. Viver no intervalo de uma batida eletrônica. Não ver a hora. Não vejo a hora. Digita, linda, digita que o tempo passa. E entre uma violenta mudança de humor a cada hora, pensa em sexo, pensa em música, pensa em roupa, pensa em vida. Pois o mundo não tá nem aí pra você se você estiver aí pro mundo.

Written By: Verônica Prata

quarta-feira, abril 12, 2006

-...é que nem batata doce. Eu não entendo batata doce.
-Huh? Como assim você não entende batata doce? É uma batata, doce. Ponto.
-Bicho, batata é batata. Batata doce não tem gosto de batata. Portanto, não é batata. Por exemplo, Baked Potato tem gosto de batata.
-Porra, claro! Baked Potato é Batata Assada em inglês, sendo assim, Batata Assada tem que ter gosto de batata!!
-Lógico que não. Batata doce não tem gosto de batata frita e chama batata também.
-Cacete, por que batata doce é um TIPO de batata e não um modo de preparo!! Batata assada e batata frita são a mesma batata preparadas de forma diferente.
-Mas aí você me dá razão que batata doce é diferente de batata normal. Sendo assim, batata doce não é batata mas chama batata pois ninguém bolou um nome praquela porra.
-Caralho! Cê não pode ser tão burro... Existem vários tipos de batata! Doce, normal, sei lá, deve ter mais um monte!
-Pera lá, você não sabe e vem querer ser o sabido pra cima de mim? Como você sabe que batata doce é batata também se você não conhece porra nenhuma de batata?
-Por que elas chamam batata! Devem ter a mesma estrutura molecular ou algo do tipo! Que merda! Puta assunto estúpido!
-Mano, se você não sabe, fala que não sabe. Não tem problema. Mas não fica inventando coisa pra não parecer desinformado. Toda vez que você não sabe de alguma coisa você fica puto, xinga e quer mudar de assunto falando que ele é estupido.
-PULTA QUEO PARIU!! Pra que caralho eu vou ficar perdendo meu tempo discutindo sobre uma merda de batata!??? Não vai chegar em nenhum lugar!!
-E se chegar? E se percebermos que batata normal é diferente de batata doce mesmo!?
-VAI TOMAR NO SEU CU!!! Eu já afirmei que elas são diferentes!!! Você que tá falando que a doce não é batata!!
-E por que você não me dá razão já que você não faz a mínima idéia do porque essa merda chama batata doce?!
-VAI SE FOODEEEEEEEERRR!!! Pau no seu cu e no cu dos tubérculos! Pau no cu do Batatinha do Manda Chuva também! Se você falar a palavra "batata" de novo eu vou enfiar a mão na sua cara!!
-Ok, ok, foi mal... caramba!.. não precisa ficar tão irritado! Olha o seu estado por causa duma conversa besta! Se liga! Só estava filosofando sobre um dos assuntos que a maioria da população não sabe responder!
-Bicho... você é muito tosco! Foda-se esse assunto! Por favor!
-Ok. Calma, vamo tomar alguma coisa pra relaxar ok? Tá mais calmo?
-To. Tá passando a raiva.
-Mesmo?
-Mesmo.
-Batata.
-PAFFFF!!!!