terça-feira, outubro 28, 2008

E num último devaneio onde os dedos digitam mais do que a mente pensa e você quer morrer sem saber a razão pois amanhã vai ser pior que hoje sem pensar e sem pontuação alguma coisa grita lá dentro revoltada mas o que pode deixar tal mente anuviada só pode ser não permitido pois naquele livro que nunca foi lido eu vi um bloco de palavras soltas de mechas negras como eram as roupas e nada pôde frear o desejo de movimentar os dedos entre elas tais palavras nunca ditas ou talvez gastas de tanto usar em mensagem direta de razão concreta e ainda assim subliminar

Não da para dizer em vinte ou quarenta o que se tenta dizer em sessenta mas não soa correto como dizem os bons costumes de ser fofo mas direto o que é idiotice pois costumes acostumaram a mesmisse sem apontar os caminhos demais que parte do centro e curvam-se até o cais pingando pra fora olhando para cima queimando a retina na luz da aurora sem olhar pro relógio nem por bom senso ao ver a fumaça subindo do incenso até o ponto de querer que o tempo parasse a noite caisse novamente e voltar a ser adolescente querendo inocente uma razão para se preocupar

Procurem comprem aluguem achem encontrem sintam a mesma segunda que a minha primeira do abraço escasso e risada verdadeira orgulhoso que respondo onde me enche a cabeça de besteira e me puxa pra trás para não machucar mas mesmo que o caso eu compro um bandeide para tapar só depois do sangue escorrer pois hoje eu posso morrer e virar para o diabo engraçado dizendo que quase me perdeu mas que mesmo no calor do inferno eu viro cinza viro neve viro inverno e discuto o que vai ter para jantar fazendo careta pois depois de um par de cervejas eu engoli uma borboleta

segunda-feira, setembro 22, 2008


O que mais me assusta no "como a vida funciona" é o sarcasmo divino. Ou pode ser também um problema intrínseco do ser humano se interessar por quem não presta, quem não está disponível ou ainda quem é uma pessoa perfeita mas tem um habito ou falha que a torna insuportável, porém inesquecível. Ou ainda aquele negócio de você ter dinheiro para esbanjar mas só conhece tranqueira e quando conhece alguém legal perde o emprego ou não tem mais tempo de aproveitar porra nenhuma pois trabalha 15 horas por dia e acha que o salário compensa a perda de mais de um terço da vida num cubículo minúsculo de escritório que você chama de "minha sala".

É como se deus fosse uma criança neurótica com uma lupa, olhando para um formigueiro e se divertindo horrores com as diferentes maneiras das formiguinhas entortarem sob os raios convergidos de calor. Não sei se com todo mundo, mas comigo acontece isso direto: se você tem a opção de escolher alguém como companhia, você escolhe a pessoa mais difícil, ou aquela que você não consegue bancar, ou ainda aquela que devia ser modelo e que vai te deixar paranóico toda vez que sai sozinha. E não é uma opção consciente. Mas a vontade fala mais alto e você investe tempo, dinheiro e paciência em algo que pode (and in most cases will) te machucar feio. Sair em balada solteiro e conhecer alguém tão interessante quanto, no meu caso uma Audrey Hepburn, é quase como acelerar o carro a 180km/h e torcer pra não aparecer um muro de concreto depois da curva pois você não terá reflexos suficientes para desviar.

É nessa hora que eu respiro fundo e torço pra que na minha idade, a porra tenha ABS de fábrica.

quinta-feira, abril 24, 2008


Esse texto é sobre amor.

Ou talvez a falta dele. Não a falta que ele faz mas sim a ausência de sentimento. O que você ama? De verdade? Poucas pessoas podem responder diretamente essa questão. Menos ainda é o número que pode dizer certamente que ama algo, amor do tipo que não cansa nunca, amor de filme, amor de romance, amor mais perseverante que os 300 de Esparta. Ainda, apenas uma farpa deste bando de pessoas pode fechar os olhos e dizer claramente que ama alguém. E por alguém eu não falo de respeito e carinho e amizade e ternura e toda a baboseira que se escuta geralmente, principalmente de quem é casado. Eu devaneio aqui sobre a paixão ivoluntária, o fogo eterno, aquela coisa que a gente assiste em DVD. Certamente o mocinho faz tudo pela mocinha e acabam felizes para sempre. Ou será que somente o filme corta antes de mostrá-los discutindo as contas da casa ou tendo que levar o par de remelentos que ela pariu para a escola? Ou antes de ela saber que ele largou o emprego para ficar com ela e agora é um vagabundo desempregado?

Qual foi a última vez que você sentiu aquela falta de ar ao conhecer alguém? Aquela vontade de gritar quando a pessoa sorri pra você, a sensação do pacotinho embrulhado na sua barriga que um dia foi seu estômado quando ela chega perto o suficiente, mas não tanto, onde você não sabe se tenta um beijo ou tenta ser sexy? Acho que, após uma certa idade, e claro que devo admitir que existem excessões, nós criamos uma camada superprotetora ao redor desse sentimento estúpido. Chega um momento onde você não consegue mais amar. Ponto. Você sempre vai achar que ela não é boa o suficiente, ou ela não é divertida o suficiente, ou seus amigos não gostam dela, ou você tem medo de sofrer (geralmente de novo) e simplesmente se bloqueia. Se limita. Brinca de bonsai com o próprio "eu" e coloca na cabecinha que nada de muito bom vai vir. Ou seja, romance, por si só, paixão, a vontade surreal e alucinada de estar junto com alguém, morre antes dos 30.

Convenhamos que, caso você já tenha atingido essa idade ou esteja bem perto dela ou ainda ela tenha ficado pra trás faz tempo, você já viveu (pelo menos) um caso de amor tórrido. E você lembra dele, ou deles, e sente falta não da pessoa, mas sim da sensação de perder o chão, de ser alvejado por uma labirintite bizonha quando tal pessoa aparece no local do encontro. Você pode morrer ali, naquele exato momento e sua vida teria sido bem vivida. Amor de filme. Não amor de novela pois ultimamente tudo que se vê na TV aberta é um tentando foder a vida do outro e não de forma que mereça ser filmada. Somos todos voyeurs da tragédia mundial, nesse sentido.

Sendo assim, ergo minha taça de champagne nacional aos que sentem isso ainda hoje, aos que têm a oportunidade e o tesão de viverem esta sensação. Um brinde à labirintite espontânea! Um brinde às borboletas na barriga! Um brinde àqueles que mesmo depois de tanto tempo ainda sentem o que sentiram. E claro, um brinde à nós que um dia amamos mais do que podíamos suportar, que amamos e fomos acometidos pelo mal do envelhecimento sentimental. Outro àqueles que preferiram a vida em solidão amorosa à terem um relacionamento mal-passado. Um brinde à todos nós então, pessoas que amaram, que amam, que amarão. Pois caso tal amor tenha sido destruído ou mal-cuidado ou mesmo devidamente assassinado, bem, vocês sabem o que acontece.

Vendo pelo lado bom da coisa toda, citando Protege Moi do Placebo, pelo menos nos resta toda uma vida para chorar.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008


Olá pessoas. Como diria o diabo na música "Sympathy for the Devil", por favor deixem que eu me apresente: meu nome é Vincent DeLorean. Por mais francês que pareça, o sobrenome é falado como se lê mesmo. Delórean. Como o carro do "De Volta para o Futuro". Tenho 34 anos, sou de altura mediana, cerca de 1,75m, sou magro, adoro ternos e roupas sociais, sou eloquente o suficiente, apaixonado por um vocabulário decente e principalmente por uma boa balada, uma boa música, gastar dinheiro e viver a vida noturna. Mas acho que minha principal característica é que eu não sou exatamente uma pessoa. Não sei direito como explicar, afinal eu vim ao mundo de repente.

Claro, tudo quanto é neném pelado vem ao mundo de repente, mas a diferença é que do mesmo lugar que a maioria deles sai, eu adoro entrar. Não! Nada de ninfomaníaco ou coisa parecida. Eu adoro romance. Sou um dos últimos românticos da terra, pelo que sei, e gosto muito de conversar e ter a companhia deliciosa de uma mulher. Não que eu não seja um cretino, até sou, mas sou um cretino romântico. Há quem diga que nem mesmo um cretino eu sou, pois não costumo mentir. Não sou fã de relacionamentos de longa data pois eu sei, por fato, que estes não funcionam como deveriam. Pelo menos não por muito tempo. Ok, seus avós estão casados até hoje. Não é sobre isso que eu estou falando. É que eu preso exatamente a principal alegoria humana que é limada quando se tem um relacionamento longo: liberdade espontânea. Eu faço o que eu quero, a hora que eu quero. E a maioria das mulheres não aceita isso. Elas têm todo o direito, claro, assim como eu tenho o direito de permanecer solteiro. Mas chega de devaneios. Eu queria chegar no ponto de tentar explicar o que eu sou. Eu sou fruto de um coração partido, somado a uma boa quantidade de dinheiro e um desejo revolto de sufocar o pudor imposto socialmente sobre uma pessoa plausível. Eu sou um alter-ego.

Nasci em meio a lágrimas e dor. Triste. Foi horrível. Quando eu estiver sóbrio eu conto. Resumindo, depois de um relacionamento milenar de oito anos, quando um cara se cansa de chorar ele tem algumas opções: cortar os pulsos, dizer que tudo é passado e voltar pra vidinha mundana, guardando aquela dor em algum lugar fundo ou pirar. No meu caso, agradeço por ele ter pirado, pois senão eu não existiria. E assim, lá fui eu viver a vida noturna de São Paulo pela primeira vez em muito tempo, desde a época que eu era apenas uma idéia dormente numa cabecinha meio oca. Achei que não ia ter sucesso algum nesta infeliz empreitada, mas quando eu descobri que eu tinha algo que a enorme maioria dos homens hoje não tem (cérebro), reparei que as mulheres ainda se interessam por aqueles homens com estilo e inteligência. Sendo assim, sob diversas doses de uísque, música anos 80 e vestindo sempre um bom terno, eu passei a vagar pelas noites paulistanas sem propósito definido, sem culpa, sem dor, sem ninguém pra me dizer não.

E o que eu tenho feito, então, desde que passei a existir? Exatamente o que eu falei: gastado dinheiro, bebido muito, conhecido incontáveis pessoas, matado a vontade de ter um bom beijo e vivido as situações mais surreais que a vida real pode proporcionar. Reitero então, muito prazer, meu nome é Vincent. Eu sou um porra-louca.
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Do livro: "A Vida de Vincent", por Julien De Lucca

Eu abri os olhos e respirei fundo. Segurei o ar nos meus pulmões o máximo que pude aguentar. Senti aquele arrepio galgando minha espinha quando lembrei do homem bruto dormindo do meu lado. As imagens de flashback jorraram dentro da minha cabeça. Óbviamente bêbada, eu bati na mesa e levantei gritando para as minhas amigas que queria mesmo um homem rústico, forte, alto e com cara de mau. Devia ter gritado mais baixo. Um cara me agarrou pela cintura, enfiou a língua na minha boca e me beijou como um neandertal tarado. Passou pela minha cabeça afastá-lo e perguntar "Que que é isso?!" mas ele poderia gritar que isso era Esparta e me enfiar o pé no peito, então simplesmente retribuí da mesma forma e ataquei ele selvagemente. Eu estava precisando disso, sabe, de sentir a pegada mesmo. Sentir um braço forte me segurando. Não que eu não goste de romance, eu adoro, mas ultimamente todo homem que se encontra em balada é ou frouxo ou idiota. Esse negócio de mandar um amigo falar pra mim que um amigo dele gostou do que viu me embrulha o estomago. Parece que os homens de hoje perderam a masculinidade propriamente dita e trocaram ela pela chave de um carro caro ou uma carteira da Victor Hugo. Mas enfim...

Uma coisa óbviamente levou a outra e eu topei "emendar" a noite. "Ah, mas isso é coisa de vadia." Foda-se. Também não suporto mulheres que se agarram aos conceitos sociais da "moça-de-familia". Fala sério. Estamos em 2008 não em 1950. Se eu tenho vontade de dar eu dou mesmo pra quem eu quero. Melhor do que ficar reprimindo tudo e acabar sendo uma perturbada de coração partido chorando por dias quando descobrir que o príncipe encantado se encantou por outra que fazia o que eu faço. Mas voltando...

E foi muito bom. Posso poupar-lhes dos detalhes sórdidos, creio eu. Foi ótimo na verdade. Porém, partindo do fato que ele era meio feinho, vocês podem entender a sensação de acordar sóbria e com dor de cabeça num quarto de motel do lado de alguém que você não lembra o nome. E do jeito que ele era, errar o nome não seria muito salutar. Então fiz o que qualquer pessoa em sã consciência faria: tentei dar o fora. Levantei sorrateira da cama e peguei as minhas roupas no chão. Ele tinha pego um motel caro, elegante, cheio de dependências... que merda! Onde é a porra da porta de saída? Agarrada com meu tubinho preto básico e segurando os sapatos na outra mão, consegui pelo menos achar o banheiro. Coloquei a roupa em menos tempo do que meu pai levaria para perguntar: "Sabe que horas são, menina?!?". Dei aquele tapa no cabelo, peguei os malditos scarpins e voltei para o quarto. A cama estava vazia.

Então, a batida inicial da "Oh My Lover" da PJ Harvey começa a ecoar pelo quarto. Escuto o barulho da hidro a céu aberto começar a funcionar. Um braço me agarra pelo ombro e me puxa contra um tórax que parecia um paredão de concreto. Uma boca me beija a nuca e incontrolávelmente meus olhos se fecham e eu sinto parte da minha voz vazar pra fora da boca. Meus sapatos caem no chão quando minha mão os deixa contra a gravidade e vai sozinha para trás, agarrá-lo pelo cabelo.

Casamos em dezembro.
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Written by: Verônica Prata