terça-feira, outubro 09, 2007

Eu preciso parar de beber. Sério. Mesmo que digam que minha personalidade desinibida e inconsequente seja fruto direto do álcool. O que vocês acham?

Eu digo isso pois parece que só consigo dizer o que eu digo e fazer aquelas coisas sem noção que eu faço quando eu estou retardado. Não sou alcoólatra, afinal, só bebo quando eu saio para a balada. E sempre saio sozinho, vocês sabem. Assim se eu porrar o carro por dirigir um Fiesta achando que é uma McLaren a culpa é minha. Brincadeira, eu dirigo direitinho. Juro. Mesmo quando a peolha reclama que eu não paro em farol vermelho. Mas voltando ao assunto, eu assumo que tenho um vício: beijo na boca. Acho que é a adrenalina da conquista, o frio na espinha quando você está a 2 centímetros de uma pessoa nova, o papo de horas antes, provocando reações numa orgia psicológica que entorpece seus sentidos e faz você sorrir sem querer. Por isso que o álcool ajuda. Não por tornar as pessoas mais bonitas, mas as tornam mais interessantes. E não pergunte por quê de repente eu estou tendo crises de lei-seca. Eu explico.

-Tem algo nos seus olhos que eu adoro. Que desperta em mim um certo tipo de felicidade que só existe em filme P&B.
-Mesmo? - disse ela sorrindo para mim, dobrando o rosto para o lado em falsa inocência. - O que você vê?
-O meu reflexo. - e abri um sorriso sarcástico.
-Haha, seu narcisista. Você acaba de me dar um motivo a mais para não te beijar.
-Eu sei, você vai fechar os olhos se fizer isso. Mas, você também pode me beijar de olhos abertos se quiser.
-Desculpa, mas eu não faço isso. Aliás eu tenho certeza que você também não faz. - ela me olhou daquele jeito maldito. O jeito que me faz esquecer que eu sou arrogante e orgulhoso. Aquele jeito quando uma mulher te olha e você escuta sua boca proferir que quer você, sem dizer uma palavra. Você e só você, mais ninguém naquele momento impecável. Aquele punhado de segundos que precedem um beijo histórico.
-Não tenha tanta certeza mulher, afinal só existe uma coisa melhor do que um bom beijo.
-O que? - ela perguntou baixinho, me olhando de baixo para cima, se aproximando da minha boca em bullet-time.
-Dois. - agarrei ela pela nuca e mordi de leve seu lábio inferior, soltando rapidamente e voltando lentamente com a língua por entre seus lábios. Meu coração disparou. Senti seu corpo coberto por um leve vestido decotado sorver o calor da minha pele. Da minha boca. Agarrei-a pela cintura com o braço esquerdo, envolvendo-a toda em mim. Ela tinha razão. Eu fechei os olhos.
-Você anda tomando muito uísque. - disse ela baixinho com um risinho sobressalente. - Seu beijo tem gosto de Red Label.
Eu ri junto com ela e lembrei da minha avó me dizendo que eu não deveria beber muito. Passei a mão no seu rosto e abri os olhos.

E lá estava ela nos meus braços, meiga e matriarcal olhando para mim em reprovação. Minha doce e querida avó. Afastei devagar e vocês devem imaginar a minha cara de empadinha. Quantos uísques eu tomei? Oh bom deus, por que não uma prima distante? Uma prima distante dava para encarar, mas a vó é foda...

-O que foi?! - perguntou vovó assustada. - Eu estava brincando.
-Nada. Eu acho que eu não estou legal, só isso. - fechei os olhos fortemente, implorando aos quatro ventos que vovó fosse transmutada de volta na morena de lábios Angelina Jolie que estava alí há pouco tempo.
-Que foi? Não me diga que vai dar a desculpa que está bêbado.
-Não! - disse eu abrindo os olhos novamente, tentando ser gentil. Vovó agora fazia cara de brava como quando eu fico semanas sem ir visitá-la.
-Não o que? Você não esta dizendo coisa com coisa. Se arrependeu, foi isso?
-Muito pelo contrário! Adorei! - e então a imagem do meu avô, ex-militar, fardado e com um porrete na mão veio me atingir no olho como um pai homofóbico que pega o filho brincando de urologista com o sobrinho mais novo do vizinho. - Oh céus... avô é foda.
-Avô o que?! Olha, se você vai fazer esse teatrinho ridículo como desculpa para sequer pedir meu telefone, eu vou embora.
-Eu tenho seu telefone, vó! Não! Calma! Ai caraleo...
-Hey! Como você é cretino! Eu não sou tão mais velha que você assim! Tá me chamando de acabada?
-Como se a culpa fosse minha e não do tempo!

Vovó não teve dúvidas. Jogou o copo cheio de sprite com licor de menta na minha cara, pronunciou palavras de baixo calão para uma mulher da sua idade e passou por mim em passos firmes. Eu respirei fundo e bati a cinza do cigarro contra o vento fazendo uma pequena brasa arrombar, irrefreável, minha camisa de seda vermelha e queimar meu umbigo. Olhei para dentro do copo inerte sobre a mesa e o resto de uísque solitário acenou para mim. Fui buscar um energético para fazer-nos companhia.

Written by: Vincent DeLorean

Um comentário:

Lady disse...
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